Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
Paulo Miguel Martins 06 de Setembro de 2012 às 11:04

Dar ordens não resulta

Dar ordens não resulta pois não compromete o outro, não o envolve e não o cativa a dar o melhor de si próprio.



Dar ordens não resolve os verdadeiros problemas de uma forma eficaz, duradoura e consistente. Um projecto para ser de facto um projecto de futuro, necessita de pessoas envolvidas que pensem por si mesmas e procurem as melhores soluções para atingirem os objectivos comuns.

Para ser de futuro, um projecto necessita de pessoas envolvidas que pensem por si mesmas e procurem as melhores soluções para atingirem os objectivos comuns.
Dar ordens não resulta pois não compromete o outro, não o envolve e não o cativa a dar o melhor de si próprio. No melhor dos casos, cumprirá de um modo "seco e rotineiro" o que lhe foi pedido, sem acrescentar nenhuma mais valia que possa aumentar valor, melhorar um procedimento, ou tornar algo mais eficiente.

Dar ordens é fechar a capacidade à inovação. Cada indivíduo é muito mais do que simples "mão-de-obra", pois tem capacidade para pensar e sente-se estimulado a esforçar-se quando comprova que se confia nele. Não se trata obviamente de fazer com que as pessoas deixem de desempenhar com rigor as funções para as quais foram contratadas.

O importante é que lhes sejam explicadas de forma correcta o que se pretende delas, envolvendo-as nessa actividade e reconhecendo o valor de cada uma. Dessa forma, as "ordens" já não são "puras ordens materiais", mas desafios para atingir uma meta comum com os seus processos próprios, mas que podem ser aperfeiçoados e desenvolvidos inovadoramente por todos os agentes em questão.

Os dois filmes em análise ilustram bem como os protagonistas ao depararem com os problemas, resolvem falar frontalmente e definem bem o objectivo. Vão assim executar cada ordem de uma forma potenciada e muito para além do previsto.




"O legado de Bourne"






Realizador Tony Gilroy
Actores Jeremy Rennes, Rachel Weisz
Duração 135 min.
Ano 2012







Um agente secreto é condenado à morte pelos seus próprios chefes dos serviços de segurança. Não fizera nada de mal. Trata-se de um procedimento de prevenção contra possíveis falhas futuras.

O herói não percebe exactamente o que se passa, mas sabe que tem de escapar. Recorre à única pessoa que o pode salvar, uma rapariga também em risco de ser eliminada. De repente, encontram-se os dois frente a frente numa armadilha. Ele "abre o jogo". Apresenta-lhe os perigos que correm e possíveis soluções. Dá-lhe indicações precisas mas deixa que seja ela a decidir perante a complexidade do desafio. Aceita colaborar, mas a dada altura quer desistir. Ele escuta-a. Depois expõe-lhe novamente tudo e que está em causa e espera pela decisão final. A rapariga resolve então avançar e apoiar o plano traçado.

Nas várias peripécias de acção e perseguições, ela conseguirá concretizar as soluções correctas a partir dos dados e atitudes que aprendera ao observar com atenção os procedimentos do agente secreto. Não só executa o que lhe é pedido como sabe aplicar os seus conhecimentos às novas situações que se vão deparando. Ela não é um elemento meramente funcional, como mais um número numa engrenagem, mas sente-se e sabe-se alguém capaz de fazer a diferença, cumprindo o seu papel com eficácia.


Tópicos de análise



Ao haver confiança uma "ordem" é percebida e executada até antes de ser dita.
Executar uma ordem mínima é também essencial para avançar um projecto.
Ensinar os outros a actuar aumenta as hipóteses de alcançar o objectivo.





"Le Havre"






Realizador Aki Kaurismaki
Actores André Wilms; Blondin Miguel
Duração 93min.
Ano 2011





Um jovem africano foge da polícia portuária da cidade de Havre, na costa francesa, quando pretendia alcançar ilegalmente a Grã-Bretanha através do canal da Mancha. O rapaz está perdido. Encontra ajuda num velho engraxador de sapatos que o acolhe em sua casa, quando de repente a sua mulher é internada de urgência no hospital. Os vizinhos prontificam-se a ajudar. A situação agrava-se com a polícia a apertar o cerco e o seu responsável a desconfiar do que se está a passar.

O rapaz e o velho engraxador têm então uma conversa séria. O homem confronta o jovem com franqueza. Explica-lhe que vai continuar a fazer tudo para o ajudar, mas aponta-lhe uma série de aspectos que terá de executar, não apenas por "cumprir" mas para o seu bem. Indica-lhe os perigos que corre e como evitá-los. Apresenta-o aos vizinhos e amigos. Confia neles. Todos se sentem envolvidos no plano da fuga e querem colaborar na medida das suas capacidades.

No clímax do filme, o próprio agente da autoridade irá prestar um apoio decisivo, perante as atitudes de confiança e entreajuda mútua que constata. Sem ninguém lhe "ordenar" nada, também ele agirá muito para além do que seria esperado. Todos os gestos que observara "exigem-lhe" uma decisão, que terá gosto em cumprir.


Tópicos de análise



Envolver as pessoas num projecto estimula-as a afinarem as soluções.
O exemplo pessoal do líder atrai os outros a seguirem essas atitudes.
O desempenho do indivíduo cresce ao saber que se confia nele.





Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio