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17 de Dezembro de 2010 às 12:19

Coisas boas

(Onde o autor, percorrendo os eventos da semana, destaca dois. Um internacional, o outro nacional - e este último de assinalar enfaticamente por contrariar a habitual série de vergonhas, derrapagens, défices, atrasos, desqualificações , desgovernos, tgvs e desnortes e se situar numa zona sensível quanto ao nosso desenvolvimento e bem-estar colectivos).

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Coisa de gringos - Dos USA só saem coisas em grande, sejam os Galaxy, a Grande Recessão ou os peitos exibidos nas páginas centrais das revistas de cultura. No bem fazer ainda é o mesmo paradigma, quando Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, decidiu doar para caridade a maior parte da sua fortuna, que será, quando houver a Oferta Pública Inicial em bolsa, uma espécie de Estado Social para país de pequeno porte. Comentando e noticiando mais além, o "Wall Street Journal" dá a conhecer que o evento não é algo casuístico, mas antes parte de uma campanha concertada de ultramilionários americanos, chamada "Giving Pledge", pela qual os signatários se comprometem publicamente a oferecer, ainda em vida, a maior parte dos seus bens a causas de solidariedade, seguindo o excelente princípio para tais pessoas de devolverem à comunidade aquilo que obtiveram dela, mas com o seu próprio esforço e engenho. Isto é o capitalismo, o grande sistema da meritocracia e da criação de riqueza, no seu absolutamente melhor, e, como sempre, parte da iniciativa de uma pessoa de excepção, no caso Warren Buffett, ele próprio doador de mais de 90% dos bens à Fundação de Bill Gates. O bom velho Warren gosta da sobriedade, odeia a ostentação e admira as virtudes do trabalho e esforço, pelo que critica profundamente a típica dilapidação das grandes fortunas nas segundas e terceiras gerações. Nesta secção antropológica de herdeiros, até lembro um personagem que encabeça o meu top pessoal de gente execrável, a estrela de revistas cor-de-rosa pelos piores motivos, a acéfala Paris Hilton, cujo acto pessoal mais notável foi a sua actuação pornográfica na Internet. Actuando embora noutro ramo do "show business", o de rica mimada e estúpida a esbanjar num mundo de tanta carência, sem qualquer virtude redibitória, consegue transcender o próprio Hugo Chavez, e temos dito.

Para tornar a estória ainda mais curiosa, vejam quem está na lista do "Pledge": Michael Milken, nada menos, o homem que criou o mercado "junk bond" e, com a resultante produtividade do capital, contribuiu para o fantástico desenvolvimento económico dos anos 80 e 90, o mesmo que dizia que "a ganância é uma coisa boa" e inspirou o personagem do filme "Wall Street", acabando na choça por crimes de mercado - coisa que a América pune com grande diligência, mesmo sem a pressurosa ajuda do Bloco de Esquerda (nem sei como conseguem passar sem os gajos). A redenção está sempre ao lado da porta, mesmo da prisão.

Coisa de portugas - Só mesmo em socialismo se entende haver satisfação quando se está abaixo da média, mas é inevitável tal sentimento perante o relatório da OCDE sobre o rumo da educação nos países que integram a organização, na parte referente a Portugal. Subimos na língua pátria, matemática e ciências, interrompendo uma tanto penosa como inevitável tendência de queda continuada. Que se podia esperar do "eduquês" moderninho, fácil, experimentalista e ideológico, demolindo os passados 5000 anos, se não o plano inclinado que termina na iliteracia e na ignorância diplomada? Ainda acho espantoso andar-se a perorar pela "escola democrática", quando escola é apenas um lugar onde se ensina e aprende, ponto final. Para todos, evidentemente. Os vários estatutos do aluno nem seriam risíveis se disso não parecesse depender a vida, saúde e direitos fundamentais das ditas almas discentes - mesmo que um velho reaccionário como eu prefira um cachaço mnemónico a um processo disciplinar. A desautorização criminosa dos professores, que conduziu a sérios problemas de segurança em certos estabelecimentos, só podia ter resultados funestos, sabendo-se como se sabe que um sistema de ensino com qualidade depende quase exclusivamente de bons docentes na sua nobre função. Como as coisas iam, só faltavam Glocks à venda nas cantinas, em vez de aguças e bolas de Berlim.

Enfim... Inch Allah, esperando que a notícia corresponda a uma inversão de tendência e não a um momento efémero.

Advogado, autor de "Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com
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