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29 de Setembro de 2010 às 12:04

Chavez: o demolidor frustrado

A "Operação Demolição" de Hugo Chavez fracassou e a frente de partidos da oposição venezuelana conseguiu uma minoria de bloqueio na Assembleia Nacional.

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Na votação de domingo, a Mesa de La Unidad Democratica elegeu 65 deputados e os dissidentes das hostes governamentais do Patria Para Todos outros 2, contra 98 mandatos do bloco chavista do Partido Socialista Unido, segundo resultados preliminares.

Três dias após a votação, com a participação de 67% dos eleitores, prosseguia a polémica sobre quem arrebatara a maioria dos votos expressos.

A frente oposicionista que congrega 18 partidos foi claramente prejudicada pela repartição dos círculos eleitorais que desde 1999 favorece desproporcionadamente a representação de áreas rurais e circunscrições onde é maior o apoio a Chavez.

Um indicador da divisão do eleitorado ficou a claro na votação paralela dos representantes venezuelanos para o Parlamento Latino Americano, uma organização regional onde cada estado conta com 12 mandatos.

Neste caso, os dois blocos acabaram praticamente empatados: 5,22 milhões de votos para os apoiantes de Chavez e 5,04 milhões de sufrágios para os demais partidos.

O prelúdio das presidenciais
A frente oposicionista redimiu-se do erro de boicotar as legislativas de 2005. Só no ano seguinte, ao descartar radicais de direitas, a oposição ganhou uma nova dinâmica ao avançar com a candidatura presidencial de Manuel Rosales.

O bloco de partidos de esquerda e direita terá agora de acordar um candidato às presidenciais de 2012: Henrique Capriles, governador de Miranda, o segundo estado mais populoso do país; Carlos Ocariz, presidente do município de Sucre; e Pablo Álvarez, governador do Estado de Zulia, fronteiro à Colômbia, são, de momento, os mais bem colocados para fazerem frente a Chavez.

Fracassou Chavez na "Operação Demolição", tal como denominou o objectivo da campanha eleitoral frente ao desafio oposicionista.

Manter uma maioria de dois terços na Assembleia revelou-se impossível para Chavez e a alta participação eleitoral, a comparar com a abstenção de 75% na votação legislativa de 2005, saldou-se num desaire político semelhante ao fracasso no referendo constitucional de 2007.

A erosão da frente chavista é clara, mas, apesar do presidente ficar privado a partir de Janeiro de impor sem negociar com a oposição, legislação de fundo, as chamadas leis orgânicas, e de proceder a nomeações fulcrais para o Supremo Tribunal ou a Procuradoria, que por sinal controla, a sua margem de manobra não deve ser subestimada.

Nos próximos meses, Chavez pode optar pela radicalização, dando novos poderes a organizações ditas comunais, dependentes do poder central, e é dele o domínio dos meios do estado e das forças armadas que lhe serviram para minar as iniciativas dos representantes da oposição sufragados nas eleições locais faz dois anos.

As eleições para a Assembleia Nacional criaram, contudo, uma nova dinâmica para as presidenciais de 2012. Chavez é, de longe, em termos de popularidade, o político mais destacado da Venezuela, mas se a oposição se mantiver unida na apresentação de um candidato comum, as suas aspirações de vitória não são descabidas.

As taxas de aprovação de Chavez podem ter caído para os 40%, mas não existe presentemente político capaz de lhe fazer frente num "mano a mano". Um candidato da oposição terá de começar bem cedo a campanha para se afirmar a nível nacional contra um presidente que é o único denominador comum de grupos tão díspares quanto a frente anti-Chavez.

O dilema de Chavez é ter-se tornado num "caudillo" sem conseguir criar um movimento/partido, com forte base sindical, à imagem do peronismo histórico na Argentina, capaz de preservar os objectivos da chamada revolução bolivariana.

A degradação venezuelana
É improvável que nos próximos anos Chavez consiga contrariar as tendências negativas que se manifestaram ao longo de uma década.

A alta dos preços do petróleo permitiram avançar com subsídios para as classes mais pobres tradicionalmente desprezadas pelas elites venezuelanas.

A pobreza absoluta terá, apesar de estatísticas controversas, diminuído cerca de 20%, mas, mesmo assim, perto de 30% da população subsiste com pouco mais de um euro por dia.

Esta vertente positiva e mobilizadora do chavismo, a promoção dos descamisados ao modo de Juan Perón, confronta-se, contudo, com uma degradação generalizada da condição económica.

No primeiro semestre de 2010, a economia sofreu uma contracção de 3,5%, a inflação anual chega aos 30%, e as falhas de abastecimento de energia eléctrica e bens essenciais de consumo são flagrantes.

O sinal mais gravoso de falência da revolução bolivariana é, no entanto, o disparar na última década da violência social.

A Venezuela é o país mais violento da América Latina.

Os 19 mil homicídios ocorridos no ano passado marcam como que um ponto de não-retorno na capacidade do estado controlar a escalada de violência que evidencia uma incontornável dissolução da ordem.

Jogo de soma nula
Chavez, que tem ainda em mão a cartada nacionalista, bastando-lhe exacerbar o conflito com a Colômbia, não dará vida fácil a uma oposição bastante susceptível a divisões.

A "Operação Demolição" frustou-se e a conturbada e enviesada democracia venezuelana, entre golpes promovidos à direita e à esquerda, entra agora numa fase em que dois blocos, com apoios sociais antagónicos, vão jogar tudo por tudo num combate que dificilmente se ficará pelo respeito de resultados eleitorais.


Jornalista
barradas.joaocarlos@gmail.com
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