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Boa oposição

Toda a gente parece estar de acordo: é preciso pacificar o conflito aberto na Educação, pois nenhuma reforma no ensino é possível contra os professores. Ora, olhando para a realidade das últimas décadas, é fácil perceber que esta ideia não faz qualquer se

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Trata-se de um sector profissional que tem vivido em contestação permanente desde sempre e onde se segue o princípio do “se há ministro sou contra”. As manifestações, as exigências de demissão, a resistência permanente à mínima alteração têm sido a regra e o dia--a-dia da 5 de Outubro. Daí também os vinte e três ministros que passaram pelo cargo. Todos, sem excepção, odiados e vilipendiados pelos professores e tantas vezes também pelos alunos. Lembram-se da Manuela Ferreira Leite?

Dirão que tal se deve a muita e casuística mudança. Cada ministro vem com as suas ideias frescas e vontade de deixar marca. O clima de instabilidade seria, portanto, a razão do mau feitio dos professores. É verdade em parte. Mas a origem dessa instabilidade está tanto no muito querer fazer como no nada deixar fazer. O sector vive uma desesperante incapacidade em realizar qualquer reforma de fundo, afogado em tanta contestação irracional e limitado à breve duração dos mandatos. A maioria dos vinte e três ministros não teve tempo para fazer nada de relevante. A rua deitou-os abaixo antes disso.

Chegados aqui põe-se portanto a questão: será a actual mais uma meia reforma por medo das manifestações? Ou, pelo contrário, por uma vez, consegue-se concretizar uma mudança fundamental para a melhoria do nosso sistema de ensino, mesmo, e como sempre, contra os professores? Afinal trata-se de decidir o que deve prevalecer? O interesse do País, da escola pública e o futuro dos nossos jovens ou o apaziguamento temporário de uma classe que vive em estado de convulsão praticamente desde o 25 de Abril?

Outra ideia curiosa foi recentemente desenvolvida por Jorge Coelho ao exigir que Menezes organize o PSD e faça uma melhor oposição. É aliás comum para quem está no governo dizer que gostaria de ter uma boa oposição. O que não passa obviamente de uma figura de estilo. Pondo de lado o cinismo, o comentário para mais passa ao lado da realidade. Os dois partidos de governo sofrem de uma doença crónica. Quando estão no poder pensam que é para sempre, quando passam para a oposição ficam a remoer o mau perder. Daí que, enquanto partidos e em qualquer das situações, nunca fazem o que devem. O tempo de governo seria excelente para reformar o partido; o tempo de oposição daria folga para se repensar o País e elaborar propostas alternativas. Nunca nada disto acontece. Veja-se, por exemplo, como o PS, que com Sócrates tem empreendido uma política corajosa de modernização de Portugal, não se moderniza a si próprio. O PS é uma cabeça muito avançada num corpo antiquado. No dia em que for derrotado dá de imediato entrada nos cuidados intensivos. É fatal.

Assim, em vez de estudar e elaborar a sua visão do futuro, o PSD está na fase do frenesim. Toda a gente parece ter uma ideia para derrotar o PS, mas ninguém apresenta qualquer proposta para fazer avançar o País. Não há tempo. O PSD nunca se conformou com o afastamento humilhante de Santana Lopes e subsequente derrota eleitoral. Desde esse dia só pensa numa única coisa e não é, como bem sabe Jorge Coelho, fazer uma boa oposição e apresentar boas propostas, mas sim como voltar a ser governo. Depressa e em força.

Daí a guerrilha interna. Num determinado momento Menezes parecia ser o homem capaz de conduzir o PSD à vitória. Mas uma vez conquistado o posto de chefe supremo deu-lhe para o ziguezague, ensaiando variadas posturas, lançando muita ideia vaga e avulsa sobre tudo e alguma coisa sem que se veja nem nexo nem destino. Um dia é populista, no seguinte homem de estado. Um dia fala de mais, no outro fica calado. Um dia diz uma coisa, no outro o seu contrário. Ninguém o entende. Ele mesmo tem dúvidas sobre se está preparado, como aliás faz questão de afirmar em revelação cândida.

Acresce a isto que todos aqueles que se julgam mais capazes do que Menezes e que, na altura certa, se resguardaram para melhores dias, pensam agora que Sócrates pode ser vencido já nas próximas eleições. Vêem muita gente na rua, muita agitação sindical e acham que está na hora. Por isso são muitos os que se agitam nas cadeiras e nos telejornais, apresentando agora como grande novidade crítica o Menezes incapaz e provinciano que eles conhecem desde sempre, mas deixaram chegar onde chegou. Em suma, o grande assunto político do momento no PSD não é como fazer boa oposição, mas sim saber como é que se envia Menezes de volta para Gaia.

É disto que se faz muita da política de hoje. Bailados.

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