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15 de Setembro de 2006 às 13:59

Arquive-se!

Portugal tem a notável capacidade para ser incapaz de decidir o que quer que seja. Quando o assunto pode provocar feridas, há sempre uma fórmula milagrosa, para que o esquecimento cicatrize tudo.

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Entre adiamentos, recursos e inconstitucionalidades, nada como um final feliz para uma teia de casos de aparente corrupção: arquive-se! Agora, pelos vistos, vai ser declarado inconstitucional o Decreto-Lei que enquadra a corrupção desportiva. Em termos simples o caso «apito dourado» fica num limbo: a ele não se aplica lei alguma, pelo que centenas de horas de escutas e de processos vão parar ao caixote do lixo. O Estado lava as mãos como Pilatos no caso da corrupção desportiva. A FPF e a Liga, e já agora o Estado, vão de joelhos até à FIFA e à UEFA, mostrando como são servos da gleba. O Gil Vicente é despachado para fora do circuito de manutenção desportiva. E os grandes dirigentes do futebol indígena lá vão continuar, felizes e contentes, a prometer um grande negócio para o país. No meio de tudo isso já não se sabe se, no futebol nacional, há ingenuidade a mais se burrice total por parte do Estado. É certo que diferentes líderes políticos viram no Euro’2004 uma óptima oportunidade para aparecerem na televisão e raramente perdem um segundo para surgir ao lado dos presidentes dos clubes de futebol. A isto, antigamente, chamava-se promiscuidade. Hoje, aparentemente, chama-se defesa dos interesses nacionais. O que se está a passar com o caso «apito dourado» (nuvem passageira de uma tempestade que há muito tempo assola o país) é um sintoma dos brandos costumes deste país onde o medo de decidir é óbvio. Alguém imagina que, em Portugal, pudesse suceder o mesmo que em Itália? Não. Por isso arquivar este caso, por inconstitucionalidade, é a fórmula ideal do país dormir descansado. Atento aos golos e aos erros dos árbitros. E sem olhar para o poder que tudo move nas sombras.
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