Opinião
19 de Março de 2012 às 10:29
À procura de rendimento: elevados dividendos a nível global
Nesta nova conjuntura caracterizada por baixo crescimento e fraco rendimento, a diversificação das fontes de receita é fundamental para a obtenção de um rendimento sustentável.
Nesta nova conjuntura caracterizada por baixo crescimento e fraco rendimento, a diversificação das fontes de receita é fundamental para a obtenção de um rendimento sustentável. Acreditamos que os investidores, nesta altura, poderão obter um rendimento interessante por meio de uma carteira de acções, concentrando-se em acções de alta qualidade, com dividendos altos e crescentes.
Neste artigo, pretendemos mostrar que combinação de um rendimento de dividendos atractivos com o crescimento de dividendos permite obter prósperos retornos totais. A segurança dos dividendos é de suma importância, pelo que os investidores deveriam procurar empresas com receitas estáveis e bons fluxos de caixa. No entanto, os rendimentos dos dividendos de acções podem oferecer aos investidores uma previsibilidade muito maior de retornos excedentários, sobretudo quando a carteira é bem diversificada por região e sector.
Há toda uma geração que enfrenta fracos retornos
Na sua mais recente declaração, a Reserva Federal dos Estados Unidos deu a entender que a sua taxa de fundos federais permaneceria praticamente nula até finais de 2014. Esta previsão, a que acresce a maior flexibilização quantitativa no Reino Unido e a recente turbulência verificada na Europa, indica que os investidores enfrentam uma nova ordem fiscal a nível mundial e um período difícil no que à procura de rendimento diz respeito.
Como os rendimentos de obrigações caíram drasticamente, as lacunas no financiamento de pensões aumentaram. A queda dos rendimentos também fez baixar a taxa de desconto utilizada para calcular o valor das pensões aos empregados actuais e antigos. Com a agravante do envelhecimento da população, cresce o desfasamento entre os pressupostos de retorno das pensões e um cenário realista, tendo em conta o actual nível de rendimentos.
Para os investidores que estiverem preocupados com o rendimento numa conjuntura de incerteza, caracterizada por baixo crescimento e fracos rendimentos, uma eventual redução de rendimento é assustadora. No entanto, estamos em crer que existem outras fontes de investimento estável, que poderão ajudar a atenuar este fosso crescente. Defendemos uma abordagem baseada em acções de baixo risco e centrada em empresas que possam manter, ou eventualmente até aumentar, os seus dividendos.
No entanto, quando comparamos os rendimentos de dividendos com os rendimentos de obrigações nos mercados acionistas, as avaliações são claramente prometedoras. Neste momento, na maior parte dos principais mercados dos países desenvolvidos, os rendimentos de dividendos são superiores aos respetivos rendimentos de obrigações. Nos últimos 30 anos, os rendimentos de dividendos têm sido negociados abaixo dos rendimentos de obrigações, para refletir o potencial de crescimento dos dividendos.
A segurança dos dividendos é extremamente importante
A estabilidade dos dividendos considerados como parte do retorno total do investimento em acções continua a ser o ponto forte do investimento de rendimentos. Embora as acções envolvam maior risco e volatilidade a curto prazo, os produtos de elevados dividendos, nos quais os dividendos estão devidamente cobertos pelo fluxo de caixa, proporcionam uma previsibilidade muito maior relativamente aos retornos excedentários. As empresas tendem a proteger o pagamento de dividendos nos mercados accionistas, dada a cautela com que os respectivos gestores se comprometem a efectuar pagamentos mais avultados em períodos de retoma e a sua ânsia em minimizar os cortes de dividendos em períodos de recessão, o que explica o facto de os dividendos normalmente caírem muito menos do que os lucros.
Costumam ser as grandes empresas, mais estáveis, com acções subvalorizadas e contas consolidadas, a pagar dividendos elevados. Mesmo em períodos caracterizados pela volatilidade dos lucros, o pagamento de dividendos, em termos históricos, tem-se mantido bastante estável.
Empresas de elevados dividendos. Demasiado em voga e demasiado caras?
Esta maior preferência por empresas de elevados dividendos, conjugada com a escassez de dividendos, explica o avultado valor das avaliações neste mercado de elevado rendimento, comparativamente com os valores médios em termos históricos.
No entanto, atendendo à actual conjuntura dos mercados e ao nível a que estão a ser negociados os rendimentos de obrigações, estamos em crer que a exposição a uma estratégia de elevados dividendos continua a ser desejável. Concretamente, a adopção de uma estratégia centrada no fluxo de caixa disponível e em pagamentos crescentes pode oferecer uma recompensa de risco superior à opção de investir apenas numa estratégia centrada em rendimentos de dividendos visivelmente elevados. Combinando o rendimento de dividendos com o crescimento de dividendos, é possível reduzir igualmente a possibilidade de seleccionar acções com elevado rendimento de dividendos de empresas que poderão cortar no pagamento de dividendos.
Os investidores esqueceram-se da importância da componente do crescimento de dividendos. A longo prazo, o rendimento de dividendos e o crescimento de dividendos têm contribuído com a maior parte do total de retornos em investimentos em acções. Coube ao crescimento de dividendos o maior quinhão deste retorno, embora seja frequente os investidores esquecerem esta componente da equação do total de retornos. Mas acreditamos que esta situação está prestes a mudar.
Após a recessão económica global de 2008, houve muitas empresas que se preocuparam em consolidar as suas contas. Nos Estado Unidos, a componente accionista é responsável por mais de um bilião de dólares em dinheiro líquido nas contas das empresas, enquanto na Europa, segundo as nossas estimativas, as empresas não financeiras têm 700 mil milhões de euros em dinheiro líquido, e as previsões de alavancagem financeira líquida são as mais baixas dos últimos 20 anos.
Desde que as preocupações macroeconómicas não inviabilizem a retoma, as empresas, a nível global, estão agora em melhor posição para utilizar o seu excesso de liquidez. A análise dos fluxos de caixa é fundamental para perceber a forma como as empresas vão aplicar o seu excesso de liquidez. A sustentabilidade dos fluxos de caixa e contas consolidadas são fulcrais para garantir a viabilidade de uma empresa a longo prazo. A força dos futuros fluxos de caixa de uma empresa é fundamental para a valorização das suas acções e para a sua capacidade de manter os dividendos a níveis atractivos e fazê-los crescer.
Crescimento de dividendos como motor dos retornos de acções
Devido a este baixo rendimento, e numa conjuntura em que o fraco crescimento exerce um impacto profundo sobre a capacidade de as instituições e pequenos investidores continuarem a obter rendimentos atractivos com as tradicionais estratégias de rendimento fixo, a dinâmica do mercado tem criado algumas oportunidades que permitem gerar um rendimento sustentável noutras classes de activos.
Embora a procura de rendimento tenha inflacionado, em termos históricos, as avaliações em muitos sectores caracterizados por altos dividendos, as avaliações são prometedoras no caso das empresas cujo crescimento de dividendos constituirá a força motriz dos retornos de acções. A preferência por acções de dividendos mais elevados, assentes em crescimento de dividendos, poderá trazer bom desempenho a longo prazo, comparativamente às acções globais, à medida que os mercados se aproximarem de níveis mais normalizados.
*Senior Sales Executive do JPMorganAM
Neste artigo, pretendemos mostrar que combinação de um rendimento de dividendos atractivos com o crescimento de dividendos permite obter prósperos retornos totais. A segurança dos dividendos é de suma importância, pelo que os investidores deveriam procurar empresas com receitas estáveis e bons fluxos de caixa. No entanto, os rendimentos dos dividendos de acções podem oferecer aos investidores uma previsibilidade muito maior de retornos excedentários, sobretudo quando a carteira é bem diversificada por região e sector.
Na sua mais recente declaração, a Reserva Federal dos Estados Unidos deu a entender que a sua taxa de fundos federais permaneceria praticamente nula até finais de 2014. Esta previsão, a que acresce a maior flexibilização quantitativa no Reino Unido e a recente turbulência verificada na Europa, indica que os investidores enfrentam uma nova ordem fiscal a nível mundial e um período difícil no que à procura de rendimento diz respeito.
Como os rendimentos de obrigações caíram drasticamente, as lacunas no financiamento de pensões aumentaram. A queda dos rendimentos também fez baixar a taxa de desconto utilizada para calcular o valor das pensões aos empregados actuais e antigos. Com a agravante do envelhecimento da população, cresce o desfasamento entre os pressupostos de retorno das pensões e um cenário realista, tendo em conta o actual nível de rendimentos.
Para os investidores que estiverem preocupados com o rendimento numa conjuntura de incerteza, caracterizada por baixo crescimento e fracos rendimentos, uma eventual redução de rendimento é assustadora. No entanto, estamos em crer que existem outras fontes de investimento estável, que poderão ajudar a atenuar este fosso crescente. Defendemos uma abordagem baseada em acções de baixo risco e centrada em empresas que possam manter, ou eventualmente até aumentar, os seus dividendos.
No entanto, quando comparamos os rendimentos de dividendos com os rendimentos de obrigações nos mercados acionistas, as avaliações são claramente prometedoras. Neste momento, na maior parte dos principais mercados dos países desenvolvidos, os rendimentos de dividendos são superiores aos respetivos rendimentos de obrigações. Nos últimos 30 anos, os rendimentos de dividendos têm sido negociados abaixo dos rendimentos de obrigações, para refletir o potencial de crescimento dos dividendos.
A segurança dos dividendos é extremamente importante
A estabilidade dos dividendos considerados como parte do retorno total do investimento em acções continua a ser o ponto forte do investimento de rendimentos. Embora as acções envolvam maior risco e volatilidade a curto prazo, os produtos de elevados dividendos, nos quais os dividendos estão devidamente cobertos pelo fluxo de caixa, proporcionam uma previsibilidade muito maior relativamente aos retornos excedentários. As empresas tendem a proteger o pagamento de dividendos nos mercados accionistas, dada a cautela com que os respectivos gestores se comprometem a efectuar pagamentos mais avultados em períodos de retoma e a sua ânsia em minimizar os cortes de dividendos em períodos de recessão, o que explica o facto de os dividendos normalmente caírem muito menos do que os lucros.
Costumam ser as grandes empresas, mais estáveis, com acções subvalorizadas e contas consolidadas, a pagar dividendos elevados. Mesmo em períodos caracterizados pela volatilidade dos lucros, o pagamento de dividendos, em termos históricos, tem-se mantido bastante estável.
Empresas de elevados dividendos. Demasiado em voga e demasiado caras?
Esta maior preferência por empresas de elevados dividendos, conjugada com a escassez de dividendos, explica o avultado valor das avaliações neste mercado de elevado rendimento, comparativamente com os valores médios em termos históricos.
No entanto, atendendo à actual conjuntura dos mercados e ao nível a que estão a ser negociados os rendimentos de obrigações, estamos em crer que a exposição a uma estratégia de elevados dividendos continua a ser desejável. Concretamente, a adopção de uma estratégia centrada no fluxo de caixa disponível e em pagamentos crescentes pode oferecer uma recompensa de risco superior à opção de investir apenas numa estratégia centrada em rendimentos de dividendos visivelmente elevados. Combinando o rendimento de dividendos com o crescimento de dividendos, é possível reduzir igualmente a possibilidade de seleccionar acções com elevado rendimento de dividendos de empresas que poderão cortar no pagamento de dividendos.
Os investidores esqueceram-se da importância da componente do crescimento de dividendos. A longo prazo, o rendimento de dividendos e o crescimento de dividendos têm contribuído com a maior parte do total de retornos em investimentos em acções. Coube ao crescimento de dividendos o maior quinhão deste retorno, embora seja frequente os investidores esquecerem esta componente da equação do total de retornos. Mas acreditamos que esta situação está prestes a mudar.
Após a recessão económica global de 2008, houve muitas empresas que se preocuparam em consolidar as suas contas. Nos Estado Unidos, a componente accionista é responsável por mais de um bilião de dólares em dinheiro líquido nas contas das empresas, enquanto na Europa, segundo as nossas estimativas, as empresas não financeiras têm 700 mil milhões de euros em dinheiro líquido, e as previsões de alavancagem financeira líquida são as mais baixas dos últimos 20 anos.
Desde que as preocupações macroeconómicas não inviabilizem a retoma, as empresas, a nível global, estão agora em melhor posição para utilizar o seu excesso de liquidez. A análise dos fluxos de caixa é fundamental para perceber a forma como as empresas vão aplicar o seu excesso de liquidez. A sustentabilidade dos fluxos de caixa e contas consolidadas são fulcrais para garantir a viabilidade de uma empresa a longo prazo. A força dos futuros fluxos de caixa de uma empresa é fundamental para a valorização das suas acções e para a sua capacidade de manter os dividendos a níveis atractivos e fazê-los crescer.
Crescimento de dividendos como motor dos retornos de acções
Devido a este baixo rendimento, e numa conjuntura em que o fraco crescimento exerce um impacto profundo sobre a capacidade de as instituições e pequenos investidores continuarem a obter rendimentos atractivos com as tradicionais estratégias de rendimento fixo, a dinâmica do mercado tem criado algumas oportunidades que permitem gerar um rendimento sustentável noutras classes de activos.
Embora a procura de rendimento tenha inflacionado, em termos históricos, as avaliações em muitos sectores caracterizados por altos dividendos, as avaliações são prometedoras no caso das empresas cujo crescimento de dividendos constituirá a força motriz dos retornos de acções. A preferência por acções de dividendos mais elevados, assentes em crescimento de dividendos, poderá trazer bom desempenho a longo prazo, comparativamente às acções globais, à medida que os mercados se aproximarem de níveis mais normalizados.
*Senior Sales Executive do JPMorganAM
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