Opinião
A ponte do esquecimento
No Velho Oeste, na eterna luta entre os xerifes e os foras-da-lei, o bem acabava sempre por prevalecer. Basta recordar os filmes de John Ford. Era também isso que emocionava os espectadores: ninguém cometia um crime e fugia à justiça.
No fim os culpados acabavam por pagar pelos erros cometidos. Mas isto, claro, era Hollywood, onde tudo era uma ficção. Até as lágrimas, conseguidas às custas de cebolas descascadas defronte dos olhos das actrizes. Tantos anos depois a realidade tornou-se uma ficção. Os bons nunca ganham. Os maus são esquecidos. No enredo raramente há finais felizes quando se trata de castigar culpados. Em Portugal os culpados ou estão em parte incerta ou o país esqueceu-se de que eles cometeram qualquer tipo de crime. O esquecimento é o labirinto da sociedade portuguesa. Quem lá entra, para ser julgado, nunca mais é encontrado. Em Entre-os-Rios a velha ponte Hintze Ribeiro poderia hoje chamar-se Ponte do Esquecimento. Compreende-se que Jorge Coelho se sinta incomodado. A culpa morreu solteira. E, pelos vistos, assim continuará eternamente. Portugal é um país onde nunca há responsáveis. Podem-se procurar com uma lupa mas, quando é preciso responder por algo que não correu bem, todos olham para o lado ou colocam-se o mais perto possível da porta de saída dos fundos. Em Portugal tem-se horror à palavra "responsabilidade". Só ainda não se percebeu porque é que ela ainda surge no dicionário se ninguém sabe o que significa.
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