Opinião
A orçamentologia
Em 1921, Armindo Monteiro escrevia certeiramente: "(...) a história do deficit é a história das finanças públicas portuguesas."
Percorrer os últimos dois séculos da nossa História é um sufoco: em poucos períodos conseguimos ser tão exemplares nas contas como uma dona de casa. Consumimos sempre mais do que produzimos. Pedimos emprestado para pagar o que devemos, e não para investir. E nunca aprendemos lições. Não é por acaso que o défice é central na vida política nacional. As elites alimentam-se dele, porque o Estado é, mesmo exangue, o alimento de uma sociedade que nunca se autonomizou. Um OE destes deveria servir para Portugal traçar um rumo, imaginar um destino, estudar um modelo económico. Não é. Quando o ministro das Finanças acredita que os salários baixos no sector privado reforçariam a competitividade, é porque pensa que competimos com o Bangladesh e o Camboja. E que esse é o nosso destino. Por isso, a táctica é a mesma: suga-se o que sobra das forças nacionais, paga-se a dívida e alguns voltam à fesa. O drama deste OE é o mesmo: não é uma luz que mostre uma direcção e que torne o Estado saudável e redentor. Este OE poderia marcar o renascimento do regime. Mas é o seu dobre de finados. Nem nos elogios do PS, nem nas críticas do PSD se encontra um olhar estratégico para o futuro. Tudo é conversa de "cabaret". Os défices não acabam com regimes. Mas definham-nos.
E este é um cadáver adiado. Quando os partidos pensam mais nas próximas eleições do que no presente dos portugueses, é porque ficaram reféns dos seus "boys" e cumplicidades. Deixaram de viver neste mundo.
E este é um cadáver adiado. Quando os partidos pensam mais nas próximas eleições do que no presente dos portugueses, é porque ficaram reféns dos seus "boys" e cumplicidades. Deixaram de viver neste mundo.
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