Opinião
A influência económico-social do estigma do HIV: o caso do Zimbabué
O Negócios, em parceria com a Fcauldade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, está a divulgar trabalhos editados de alunos do Mestrado em Economia. Neste texto defende-se que o receio do estigma social incentiva as pessoas a protegrem-se do HIV.
O HIV é, sem sombra de dúvida, uma das epidemias mais graves da actualidade, assumindo contornos particularmente desastrosos na África Subsariana, onde se estima que vivem cerca de 2/3 dos seropositivos a nível mundial.
A formação de preconceitos relativamente aos que vivem com HIV é genericamente denominada de "estigma social do HIV", que pode originar diversas formas de discriminação, tais como a rejeição pela família ou mesmo pela comunidade, isolamento, segregação e perda de direitos. Mas terá este estigma alguma influência na adopção de comportamentos que possam aumentar o risco de infecção por HIV? O receio da discriminação pode ou não travar a realização de testes de despistagem ou ao uso do preservativo?
Observando, em particular, o caso do Zimbabué, verificou-se desde 1985 uma rápida evolução da epidemia, apontando as estimativas para uma taxa de prevalência na população adulta de 15,6% em 2008, sendo as principais formas de transmissão as relações heterossexuais e a transmissão de mãe para filho. Esta taxa está ainda relacionada com a generalização da poligamia e com a elevada mobilidade laboral no Zimbabué. As mulheres, tendo menos escolaridade e menos rendimentos próprios, estão especialmente vulneráveis, tornando-as mais propensas a comportamentos de risco.
No Zimbabué, o estigma é muito acentuado e a SIDA continua a ser associada a promiscuidade e a outros comportamentos sociais indesejáveis. Se a hipótese acima mencionada for verdadeira, então o estigma será mais um factor que facilita a disseminação do HIV no país. Ao originar escolhas que tornam as pessoas mais vulneráveis à epidemia, então o estigma torna-se também um problema económico, pelo que será necessário perceber quais as suas causas de modo a evitar novas infecções.
O uso dos dados disponibilizados pelo programa Measure DHS ("Demographic and Health Survey") possibilitou o estudo dos comportamentos e atitudes de inúmeras mulheres Zimbabueanas que, entre 2005 e 2006, habitavam tanto nas zonas rurais como urbanas do Zimbabué. Conclui-se que existem determinadas características que favorecem a existência de comportamentos estigmatizantes num indivíduo.
Por um lado, os indivíduos com maiores rendimentos, níveis mais elevados de escolaridade e mais informação sobre métodos de prevenção demonstram níveis mais baixos de estigma. Por outro, os que declararam sentir probabilidades mais baixas de serem infectados têm, em média, valores mais elevados de estigma. Os dados sugerem igualmente que o aumento do nível médio do estigma numa região está associado a uma menor procura de testes de HIV. Todavia, os dados indicam uma associação positiva entre o estigma social e o uso do preservativo, o que parece sugerir que o estigma acaba por incentivar as pessoas a protegerem-se do HIV.
Apesar do papel do estigma na evolução do HIV ainda não ser completamente claro, é fundamental continuar a estudar este fenómeno de forma a fortalecer o esforço de prevenção de novos casos de HIV.
Baseado no trabalho de projecto "Risky behaviour and HIV/AIDS-related stigma in Zimbabwe", Mestrado em Economia, Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, 2010. Trabalho orientado pela Professora Adeline Delavande.
Mestrado em Economia
Faculdade de Economia da UNL
A formação de preconceitos relativamente aos que vivem com HIV é genericamente denominada de "estigma social do HIV", que pode originar diversas formas de discriminação, tais como a rejeição pela família ou mesmo pela comunidade, isolamento, segregação e perda de direitos. Mas terá este estigma alguma influência na adopção de comportamentos que possam aumentar o risco de infecção por HIV? O receio da discriminação pode ou não travar a realização de testes de despistagem ou ao uso do preservativo?
No Zimbabué, o estigma é muito acentuado e a SIDA continua a ser associada a promiscuidade e a outros comportamentos sociais indesejáveis. Se a hipótese acima mencionada for verdadeira, então o estigma será mais um factor que facilita a disseminação do HIV no país. Ao originar escolhas que tornam as pessoas mais vulneráveis à epidemia, então o estigma torna-se também um problema económico, pelo que será necessário perceber quais as suas causas de modo a evitar novas infecções.
O uso dos dados disponibilizados pelo programa Measure DHS ("Demographic and Health Survey") possibilitou o estudo dos comportamentos e atitudes de inúmeras mulheres Zimbabueanas que, entre 2005 e 2006, habitavam tanto nas zonas rurais como urbanas do Zimbabué. Conclui-se que existem determinadas características que favorecem a existência de comportamentos estigmatizantes num indivíduo.
Por um lado, os indivíduos com maiores rendimentos, níveis mais elevados de escolaridade e mais informação sobre métodos de prevenção demonstram níveis mais baixos de estigma. Por outro, os que declararam sentir probabilidades mais baixas de serem infectados têm, em média, valores mais elevados de estigma. Os dados sugerem igualmente que o aumento do nível médio do estigma numa região está associado a uma menor procura de testes de HIV. Todavia, os dados indicam uma associação positiva entre o estigma social e o uso do preservativo, o que parece sugerir que o estigma acaba por incentivar as pessoas a protegerem-se do HIV.
Apesar do papel do estigma na evolução do HIV ainda não ser completamente claro, é fundamental continuar a estudar este fenómeno de forma a fortalecer o esforço de prevenção de novos casos de HIV.
Baseado no trabalho de projecto "Risky behaviour and HIV/AIDS-related stigma in Zimbabwe", Mestrado em Economia, Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, 2010. Trabalho orientado pela Professora Adeline Delavande.
Mestrado em Economia
Faculdade de Economia da UNL