Opinião
A guerra que aí vem
As polémicas eleitorais deixaram a claro um consenso quanto à determinação em resistir a pressões internacionais e o peso determinante da palavra do líder supremo do Irão.
A contagem decrescente para a guerra acelerará nos próximos dias depois das eleições parlamentares no Irão e da visita do primeiro-ministro israelita a Washington.
A votação de sexta-feira permitirá ao líder supremo Ali Khamenei reduzir ainda mais a capacidade de iniciativa política do presidente Mahmoud Ahmadinejad e, se a abstenção não for elevada, reforçar a legitimidade do regime.
As fraudes nas presidenciais de Junho de 2009 – numa altura em que Khamenei apoiava Ahmadinejad contra candidatos sustentados pelos seus rivais Ali Rafsanjani e Mohamad Khatami – puseram em causa, pela primeira vez, a legitimidade eleitoral da república islâmica saída da revolução de 1979 e alimentaram oito meses de protestos nos principais centros urbanos.
A palavra do Líder Supremo
Ultrapassada a crise o líder supremo acabou por se desentender com o protegido que levara à presidência em 2005, suspeito de nacionalismo messiânico corruptor da supremacia clerical estabelecida por Khomeini, e nesta disputa deverá prevalecer uma maioria de críticos de Ahmadinejad entre os 290 deputados a eleger.
Um apelo ao boicote eleitoral foi lançado por oposicionistas como Mir Mosavi – primeiro-ministro entre 1981 e 1989 e candidato derrotado nas presidenciais de 2009 que se encontra em prisão domiciliária em Teerão há um ano –, mas o impacto da abstenção é uma incógnita.
Além da eleição de cerca de meia centena de independentes, a votação definirá novas relações de forças nas 31 províncias e principais cidades dos diversos grupos conservadores que aspiram ao controlo do "Majlis" e à presidência que Ahmadinejad terá de abandonar em 2013.
A rede de patrocínio presidencial foi posta em causa em processos judiciais por corrupção e numa altura em que a inflação supera os 20%, com tendência a agravar-se devido às dificuldades para importação de combustíveis refinados e alimentos, as forças em confronto visam ganhar capacidade decisória acrescida quanto à distribuição de recursos cada vez mais escassos.
As coligações conservadoras – sobretudo as mais devotadas a Khamenei, sucessor de Khomenei em 1989 – têm em comum admitirem a necessidade de novas políticas económicas, sobretudo na vertente distributiva, partindo do princípio que a quebra do valor das exportações de petróleo e a baixa das receitas fiscais deverão propiciar a curto prazo um défice orçamental, provavelmente de 2% no próximo ano fiscal que começa em Março.
Apesar do baixo nível de endividamento do Irão (9% do PIB), num sinal de consenso ante a necessidade de fazer frente às sanções internacionais a discussão sobre controlo de movimentos de capital tem vindo a aumentar nos círculos políticos que temem uma redução drástica das actuais reservas em divisas (cerca de 100 mil milhões de dólares) e a desvalorização do rial.
A acrescida repressão a contestatários do regime, não impede que as eleições contribuam para dirimir disputas entre algumas das principais correntes políticas da república islâmica e dar expressão, ainda que limitada, a descontentamentos e exigências de grupos de interesses sociais, étnicos e regionais.
O processo de admissão de candidaturas e as polémicas eleitorais deixaram a claro um consenso quanto à determinação em resistir a pressões internacionais e o peso determinante da palavra do líder supremo.
A chantagem de Netanyahu
Para Benjamin Netanyahu as eleições apenas confirmarão a impossibilidade de negociar com Teerão e a inutilidade das sanções para pôr termo ao programa militar nuclear dos herdeiros de Khomeini.
A ronda negocial e propagandística de Netanyahu em Washington na próxima semana (encontro com Obama e discurso na conferência anual do AIPAC ("American Israel Public Affairs Committee") visa passar uma mensagem muito precisa: um ataque militar justifica-se porque o Irão está prestes a adquirir capacidade defensiva suficiente para proteger as instalações e equipamentos essenciais ao programa militar nuclear.
Limitando o debate a este cenário, Netanyahu, com forte apoio no Congresso entre democratas e republicanos, poderá continuar a cercear a margem de manobra do presidente para impedi-lo de se opor publicamente à eventualidade de um ataque israelita. Até Novembro a capacidade de chantagem de Netanyahu sobre a Casa Branca é uma ameaça à reeleição de Obama.
A votação de sexta-feira permitirá ao líder supremo Ali Khamenei reduzir ainda mais a capacidade de iniciativa política do presidente Mahmoud Ahmadinejad e, se a abstenção não for elevada, reforçar a legitimidade do regime.
A palavra do Líder Supremo
Ultrapassada a crise o líder supremo acabou por se desentender com o protegido que levara à presidência em 2005, suspeito de nacionalismo messiânico corruptor da supremacia clerical estabelecida por Khomeini, e nesta disputa deverá prevalecer uma maioria de críticos de Ahmadinejad entre os 290 deputados a eleger.
Um apelo ao boicote eleitoral foi lançado por oposicionistas como Mir Mosavi – primeiro-ministro entre 1981 e 1989 e candidato derrotado nas presidenciais de 2009 que se encontra em prisão domiciliária em Teerão há um ano –, mas o impacto da abstenção é uma incógnita.
Além da eleição de cerca de meia centena de independentes, a votação definirá novas relações de forças nas 31 províncias e principais cidades dos diversos grupos conservadores que aspiram ao controlo do "Majlis" e à presidência que Ahmadinejad terá de abandonar em 2013.
A rede de patrocínio presidencial foi posta em causa em processos judiciais por corrupção e numa altura em que a inflação supera os 20%, com tendência a agravar-se devido às dificuldades para importação de combustíveis refinados e alimentos, as forças em confronto visam ganhar capacidade decisória acrescida quanto à distribuição de recursos cada vez mais escassos.
As coligações conservadoras – sobretudo as mais devotadas a Khamenei, sucessor de Khomenei em 1989 – têm em comum admitirem a necessidade de novas políticas económicas, sobretudo na vertente distributiva, partindo do princípio que a quebra do valor das exportações de petróleo e a baixa das receitas fiscais deverão propiciar a curto prazo um défice orçamental, provavelmente de 2% no próximo ano fiscal que começa em Março.
Apesar do baixo nível de endividamento do Irão (9% do PIB), num sinal de consenso ante a necessidade de fazer frente às sanções internacionais a discussão sobre controlo de movimentos de capital tem vindo a aumentar nos círculos políticos que temem uma redução drástica das actuais reservas em divisas (cerca de 100 mil milhões de dólares) e a desvalorização do rial.
A acrescida repressão a contestatários do regime, não impede que as eleições contribuam para dirimir disputas entre algumas das principais correntes políticas da república islâmica e dar expressão, ainda que limitada, a descontentamentos e exigências de grupos de interesses sociais, étnicos e regionais.
O processo de admissão de candidaturas e as polémicas eleitorais deixaram a claro um consenso quanto à determinação em resistir a pressões internacionais e o peso determinante da palavra do líder supremo.
A chantagem de Netanyahu
Para Benjamin Netanyahu as eleições apenas confirmarão a impossibilidade de negociar com Teerão e a inutilidade das sanções para pôr termo ao programa militar nuclear dos herdeiros de Khomeini.
A ronda negocial e propagandística de Netanyahu em Washington na próxima semana (encontro com Obama e discurso na conferência anual do AIPAC ("American Israel Public Affairs Committee") visa passar uma mensagem muito precisa: um ataque militar justifica-se porque o Irão está prestes a adquirir capacidade defensiva suficiente para proteger as instalações e equipamentos essenciais ao programa militar nuclear.
Limitando o debate a este cenário, Netanyahu, com forte apoio no Congresso entre democratas e republicanos, poderá continuar a cercear a margem de manobra do presidente para impedi-lo de se opor publicamente à eventualidade de um ataque israelita. Até Novembro a capacidade de chantagem de Netanyahu sobre a Casa Branca é uma ameaça à reeleição de Obama.
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