Opinião
A esquina do rio (2 Junho 2006)
DEPUTADOS - Certamente por engano um jornal noticiava esta semana que os patrióticos deputados portugueses estão a adaptar a agenda do Parlamento aos horários dos jogos do Mundial.
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DEPUTADOS - Certamente por engano um jornal noticiava esta semana que os patrióticos deputados portugueses estão a adaptar a agenda do Parlamento aos horários dos jogos do Mundial. É obviamente um equívoco: a verdade é que os deputados adoptaram a agenda do Mundial em detrimento da agenda parlamentar. Confirma-se que até os senhores deputados colocam no futebol, na selecção e em Scolari os destinos do país. Quem achar isto estranho arrisca-se a ser chamado vende-pátrias.
LER - A edição deste mês da revista “Atlântico” tem um imperdível artigo de Maria Filomena Mónica sobre a Casa da Música do Porto no qual arrasa com observação metódica e humor cáustico os detalhes do “poliedro esdrúxulo”. Mas a grande peça da revista é um notável artigo do historiador Rui Ramos sobre o 28 de Maio, provocatoriamente intitulado “O 25 de Abril de Salazar”: “Tal como o 25 de Abril de 1974 poderia ter acabado numa ditadura marxista, mas deu lugar à democracia em 1976, também o 28 de Maio de 1926 Poderia ter acabado numa república reformada, mas deu lugar ao Estado Novo. Por estranho que possa parecer, as semelhanças e as analogias não se ficam por aqui”.
OUVIR - Sonny Rollins tem 75 anos e continua a ser um dos saxofonistas tenor mais marcantes do jazz. A sua capacidade de interpretação, o sentimento que consegue transmitir com o seu sopro, a intensidade com que toca, tudo contribui para que cada disco seja uma redescoberta. No dia 15 de Setembro de 2001, poucos dias depois dos atentados de Nova York, Rollins deu um concerto no auditório da Universidadce de Berklee, em Boston - esta é a mais prestigiada escola de música de jazz do mundo. Fortemente marcado pela conjuntura de choque em que decorreu, o concerto teve uma carga emotiva invulgar que felizmente se preservou na respectiva gravação, agora editada. Sonny Rollins foi acompanhado neste concerto por um quinteto que integrava Clifton Anderson no trombone, Stephen Scott no piano, Bob Crenshaw no baixo eléctrico, Perry Wilson na bateria e Kimati Dinizilu na percussão. É preciso dizer que em Nova York, Rollins vive a seis quarteirões do local onde ficava o World Trade Center e assistiu, na rua, a tudo o que se passou. Um dia depois foi evacuado do local e há imagens, da CNN, que o mostram a ser transportado, com o seu inseparável saxofone debaixo do braço. Sóbrio e intenso, o concerto tem momentos altos no tema que lhe dá o nome, “Without a Song” (do clássico álbum “The Bridge”), no swing irresistível de “Global Warming” e no extraordinário “Why Was I Born”. “Without A Song - The 9/11 Concert”, CD Milestone Records, distribuído por Universal Music.
COMER - Durante muito tempo o Restaurante A Paz foi um prazer quase diário - fica na Ajuda, era-me próximo, um grupo de amigos juntava-se lá com frequência ao almoço. A qualidade era extraordinária e o serviço irrepreensível. Esta semana, após quase quatro anos de ausência, voltei lá e só me arrependi de o regresso ter demorado tanto tempo. A simpatia do Senhor António continua um cartão de visita, assim como tudo o resto. À hora de almoço a casa tem mais movimento, ao jantar é mais sossegada - e como serve até às dez e meia, é um bom local para um jantar tranquilo. De entrada puseram-nos na mesa uma saladinha de feijão e uns carapauzinhos de escabeche que estavam uma delícia. A seguir veio o que nos tinha lá levado nesse dia: uns filetes de garoupa, acompanhados de arroz de feijão, batata frita às rodelas finíssimas e uma salada mista. A coisa correu pelo melhor: os filetes, bem panados, secos de gordura, de peixe fresquíssimo, continuam entre os melhores que se podem provar em Lisboa. A rematar umas cerejas do Fundão, bem primaveris. Ficou a apetecer-me voltar lá com mais frequência. A Paz, Largo da Paz 22B (à Ajuda), telef. 213 631 915.
AGENDA - Hoje e amanhã às 21h00 e Domingo às 16h00, últimas oportunidades de ver o bailado Giselle, pela Companhia Nacional de Bailado, com coreografia de Georges Garcia, segundo Marius Petipa, Jean Coralli e Jules Perrot, música de Adolphe Adam, cenário e figurinos de António Lagarto e desenho de luz de Cristina Piedade. No Teatro Camões, em Lisboa.
BACK TO BASICS - “Vivemos num tempo em que as coisas desnecessárias se transformaram nas nossas maiores necessidades” - Óscar Wilde.
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