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Opinião
16 de Novembro de 2012 às 12:21

A esquina do Rio

É muito interessante seguir o pingue-pongue entre Santos Pereira e Vítor Gaspar.

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Curiosidade I
É muito interessante seguir o pingue-pongue entre Santos Pereira e Vítor Gaspar. Quando Santos Pereira defende uma fiscalidade mais competitiva que possa atrair investimento para a economia, Vítor Gaspar aplica uma fiscalidade mais apertada. É rara a semana em que não se sentem divergências públicas entre a Economia e as Finanças e a imagem que fica é a de um duelo em que Santos Pereira quer sobretudo preparar o futuro e Vítor Gaspar quer só resolver o passado. Mas é também curioso observar como, além de Santos Pereira, ministros como Nuno Crato e Paulo Macedo actuam a pensar no que está para a frente e fazem efectivas reformas. Começa a ser evidente que no Governo existem duas linhas, que seguem rumos diferentes. Uma história a seguir.


Curiosidade II
Esta semana, António Costa deu o tiro de partida para o seu reposicionamento: ao propor uma redução de 2% no IRS dos contribuintes residentes em Lisboa mostra uma iniciativa e uma capacidade políticas que o colocam a milhas de António José Seguro. Com este sinal, iniciou a campanha para a sua recandidatura em Lisboa, que já se percebeu que irá ser baseada em causas sociais, usando o poder de que dispõe; e ao mesmo tempo, torna-se num pólo de atracção dos socialistas e surge como uma alternativa clara se o seu partido quiser mudar de rumo. Foi um autêntico xeque-mate duplo: à oposição em Lisboa (que continua sem candidato visível) e aos seus opositores no PS.


Curiosidade III
Alberto da Ponte, que antes de ser presidente da RTP foi, durante anos, um dos mais importantes anunciantes, bem informado sobre o sector, e com uma enorme experiência no marketing, solicitou a intervenção da ERC no processo de audimetria, considerando que "o mercado das audiências não está a funcionar".


Ouvir
Uma coisa engraçada que está a acontecer com os músicos rock é que a sua criatividade e energia prolongam-se no tempo muito além daquilo que se esperaria no final dos anos 60 do século passado. O primeiro disco de Neil Young, na altura com os Buffalo Springfield, data de 1966, tinha ele 21 anos. Quem diria que agora, aos 67 anos de idade, ele editaria num só ano dois discos - um que revisita clássicos da música popular dos Estados Unidos ("Americana") e outro, só com temas inéditos , "Psychedelic Pill", surpreendente, enérgico, arrebatador, contemporâneo. Em ambos, Neil Young está com os Crazy Horse, músicos que muito contribuem para a riqueza dos dois registos. Mas como se isto não chegasse, no início de Outubro foi publicada a sua autobiografia, "Waging Heavy Peace: A Hippy Dream". Mas regressemos ao novo disco.
A faixa de abertura, "Drifting Back", tem 27 minutos, e é marcada por solos de guitarra como há muito não ouvia e por uma letra que revisita de forma dura a música que hoje se faz e o estilo que ela inspira. É um contraste bem marcado com "Twisted Road", onde Neil Young evoca a primeira vez que ouviu "Like A Rolling Stone" de Bob Dylan e a forma como o som dos Grateful Dead o marcou. Mas há outros temas a reter, como "Ramada Inn", "She's Always Dancing" ou o impressionante "Walk Like A Giant".
Eu confesso que há muito tempo não ouvia um disco que me marcasse e impressionasse tanto como este. E não deixa de ser curioso que alguns dos discos mais notáveis deste ano são de nomes como Bob Dylan, Rolling Stones, Leonard Cohen, Beach Boys e este Neil Young.
É como se estivéssemos perante um acesso de criatividade incontinente dos mais velhos, dos pioneiros, em resposta
a alguma monotonia e conformismo de alguns dos mais novos. Duplo CD adquirido no iTunes.


Gosto
Do Codebits, uma iniciativa do Sapo e da PT destinada a fomentar a criatividade dos programadores portugueses e que este fim-de-semana acontece mais uma vez - e onde vai estar exposta uma impressora 3D.


Folhear
Os livros/álbuns costumam ser grandes, pesados, previsíveis, graficamente monótonos e destinados apenas a servirem de tabuleiro para chávenas de café. Por alguma razão se chamam álbuns de mesa.
"LX 60 - A Vida em Lisboa Nunca Mais Foi a Mesma" não é nada disso: tem um formato mais pequeno, pode ler-se na cama sem se ter a sensação de que se está a fazer halteres. E, sobretudo, está muito bem feito. Joana Stichini Vilela investigou, ouviu dezenas de pessoas, fez reviver a memória do que era a vida em Lisboa na década de 60, nos bairros, nos cafés, mas também nos teatros, na política, na geração de criadores que nascia no cinema, na música, na literatura, em todo o lado. Cita números, mostra dados, exemplifica situações. E tudo é ricamente ilustrado com imagens de época num trabalho gráfico invulgar de Nick Mrozowski,
o norte-americano que veio fazer o grafismo do diário "i" e que se apaixonou por Lisboa. É um livro especial, este agora editado pela D. Quixote, mas também um trabalho meticuloso e raro. Exemplar.


Ver
Em vez de uma exposição, sugiro que vejam a edição "Commemorative US Election Special" da revista "Time", que tem a data de 19 de Novembro na capa.

Custa 4,50 euros e é um exemplo de uma grande edição - desde o trabalho de selecção das fotografias, maravilhosas imagens da campanha a preto-e-branco, a brilhante ideia dos 100 objectos que marcaram todas as candidaturas, as imagens do momento da vitória e do momento da derrota, as infografias exemplares, as boas e más ideias dos dois candidatos, um repositório de gafes políticas e, sobretudo, a investigação "How He Did It", que retrata a forma como Obama conseguiu ganhar, com destaque para uma visita aos bastidores da zona nevrálgica da campanha: os centros de dados dos democratas que permitiram estudar, segmentar, focar e, finalmente, conseguir os votos decisivos para a vitória, num exercício de marketing político absolutamente extraordinário. E, claro, um balanço do grande protagonista desta campanha - a televisão, cuja morte anunciada foi mais uma vez negada pelas evidências e que, na cobertura em directo, nos debates e como veículo publicitário se revelou um meio absolutamente incontornável na estratégia dos dois candidatos.


Arco da velha
O investimento líquido da Alemanha em Portugal recuou 112% este ano e a presença alemã na economia portuguesa atingiu o mínimo
de duas décadas.


Semanada
A igreja congelou o preço das missas, casamentos e baptizados até final de 2013; pneumonia mata 16 portugueses por dia; portos de Lisboa e Setúbal perdem 38% das cargas com a greve de estivadores; há 79 queixas diárias por violência doméstica; 33 mil empresas foram notificadas para pagar a TSU dos recibos verdes; em 2010 apenas 17% das empresas com menos de 10 trabalhadores tinham uma página na Internet; o Ministério das Finanças diz que a recessão em 2013 vai ser inferior a 1% e o Banco de Portugal prevê que atinja 1,6%; a arrecadação da receita fiscal em 2013 caiu 4,9% até Setembro deste ano, em comparação com o período homólogo do ano passado, e isto apesar do aumento dos impostos; o Banco de Portugal prevê que para o ano desaparecerão mais 82 mil postos de trabalho; entre Julho e Setembro, o INE contabilizou 870,9 mil desempregados, o que representa um acréscimo trimestral de 5,3%; taxa de natalidade deve cair 20% este ano; poder de compra cairá em 2013 para nível mais baixo desde 1999; no terceiro trimestre o PIB voltou a cair, e aprofunda uma recessão que já dura há sete trimestres consecutivos.


Provar
Esta semana fui finalmente ao remoçado Belcanto, e a experiência correu muito bem. O chef José Avillez está agora a comandar as operações, mantendo um sábio equilíbrio entre as receitas tradicionais da casa e a forma contemporânea que gosta de imprimir à sua cozinha. O interior do restaurante foi modernizado, mas sem estragar o ar intemporal das salas do Belcanto - à entrada não fumadores, ao fundo, fumadores - pelo meio uma cozinha aberta para o corredor onde a azáfama é bem visível. Começo por destacar, no "couvert", uma delícia absolutamente viciante que é um pão com azeitonas, mesmo sendo salgado mais perto dos caracóis de pastelaria que da focaccia tradicional.; a broa de milho também é respeitável. A entrada foi uma cavala marinada que esteve acima das expectativas e o prato foi um bacalhau à Braz levíssimo e irrepreensível. A acompanhar esteve um vinho do chef, bem servido a copo. O final foi também inesperado - um sorvete de tangerina, aromático, a revelar todo o sabor da fruta e com uma consistência e temperatura perfeitas. Largo de S. Carlos 10, tel. 213 420 607


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