Opinião
A esquina do Rio
Polémicas ideológicas e sociais à parte, nos dias a seguir à campanha de descontos do Pingo Doce, do dia 1 de Maio, muita gente apareceu a elogiá-la como uma grande acção de marketing.
Marketing
Polémicas ideológicas e sociais à parte, nos dias a seguir à campanha de descontos do Pingo Doce, do dia 1 de Maio, muita gente apareceu a elogiá-la como uma grande acção de marketing. Tentemos fazer um balanço. O que correu bem? - uma enorme afluência de público, uma primeira imagem positiva de auxílio às bolsas mais fracas na situação actual de crise, captação de novos clientes vindos de outras cadeias de distribuição, vendas e facturação acima de todas as previsões (por acaso a coincidirem com o tradicional período de aperto de algumas tesourarias devido à liquidação do IVA). E, o que correu mal? - incidentes graves em muitas lojas, acusações de eventual "dumping", diminuição do efeito positivo antes referido devido à forma como a acção veio colocar em agenda a questão do relacionamento das cadeias de distribuição com os seus fornecedores (nomeadamente com os produtores agrícolas nacionais), noticiário negativo sobre a transferência dos descontos para os fornecedores. E o que surgiu de novo? - na prática, uma alteração do posicionamento da marca Pingo Doce, de loja de proximidade acolhedora para uma cadeia de "hard discount". Avaliados os prós e os contras, eu diria que os aspectos negativos, em termos de imagem da empresa e do sector da distribuição, superaram os positivos. E, claro, resta saber se o posicionamento do Pingo Doce foi modificado intencionalmente ou não. Se não foi, o investimento para anular esse desvio será considerável. E é mais um ponto negativo.
Folhear
Volta e meia gosto de comprar a revista semanal francesa "Les Inrockuptibles". Não se deixem enganar pelo título - há muito mais coisas lá dentro do que rock - cinema, tendências, literatura, exposições, séries de TV, sociedade, política. Por exemplo, uma bela reportagem sobre os efeitos da campanha porta-a-porta que os estrategas de Hollande decidiram fazer logo a seguir à primeira volta - quase quatro milhões de casas receberam um contacto da campanha e o efeito eleitoral deve ter rondado os 200.000 votos, sobretudo nos abstencionistas. Aqui está uma coisa para fazer pensar os nossos especialistas em marketing político. A revista tinha também um dossier sobre os negócios entre Sarkozy e Kadhafi e uma reportagem sobre o que resta da Al-Qaeda um ano depois da morte de Bin Laden. Aqui está uma coisa para fazer pensar os nossos especialistas em marketing político. Mas a música tem sempre o seu espaço - a edição da semana passada tinha na capa a cantora Beth Ditto, dos Gossip, a propósito do seu novo disco.
E, como acontece com alguma regularidade, a revista inclui um CD amostra com 15 faixas de outros tantos lançamentos recentes, entre os quais os novos dos Citizens, dos Dandy Warhols, The Temper Trap ou de Patti Smith.
Digital
Tudo indica que estamos a assistir a uma mudança acelerada na paisagem digital, tal como a temos conhecido até aqui. Há dois anos a revista "Wired" titulava a sua capa de forma provocatória com a frase "The Web Is Dead". Algumas pessoas não perceberam na altura o que isso queria dizer - mas agora, aos poucos, começamos todos a perceber como a provocação era mais pequena que a previsão. Trocando por miúdos: a utilização da Internet, dos sites web tradicionais, está a diminuir e a utilização de aplicações teve um aumento explosivo.
Em França, um estudo que analisa o primeiro trimestre deste ano, indica que 63,4% dos sites web viu a sua utilização descer, enquanto as aplicações registavam um aumento de utilização de 57,5% . No ano passado, foram descarregadas 10,7 mil milhões de aplicações e a previsão é que em 2015 se atinjam os 183 mil milhões. Nada que espante: este ano estima-se que sejam vendidos 119 milhões de tablets, um aumento de 98% em relação a 2011. Tudo muda muito depressa à nossa volta quando olhamos para o mundo digital. Na semana passada, um especialista norte-americano assinalava que 80% do investimento publicitário em digital é aplicado em display, a publicidade que aparece por exemplo nos sites dos jornais; mas, sublinhava, 80% do tempo das pessoas que navegam na net é agora passado nas redes sociais como o Facebook, o Twitter, o Linkedin , o Google + e o Instagram. Esta é a tendência e é incontornável. Por isso é que a colocação em bolsa do Facebook e a compra do Instagram dão que falar. E a facturação do Facebook cresceu 45% no primeiro trimestre, em relação a igual período do ano passado.
Ouvir
Walter Benjamim foi um crítico literário, ensaísta e filósofo alemão que viveu no início do século XX. É também o nome escolhido pelo português Luís Nunes, que a partir de Londres, onde vive, criou "The Imaginary Life Of Rosemary And Me", um CD surpreendente, com oito canções simples, onde se misturam referências folk, sonoridades que lembram, às vezes, Eels, outras vezes Lambchop, ou ainda o lirismo de Mazzy Star. Mas não se pense que este é um disco de cópias - é um disco de belas canções pop, como poucos portugueses dos últimos anos. Destaque para "Mary", "Airports And Broken Hearts", "Twenty Four" ou "Our Imaginary House", uma delícia que reza assim: "Our imaginary house/has your paintings on the walls/ and my songs under the doors/you may come in if you like/and be happy for a while/or you may move in next door".
Ver
A Carbono é uma loja de discos, especializada nas edições em vinil, e que fica no nº 6 da Rua do Telhal, perto da Avenida da Liberdade. É um espaço com uma dimensão simpática e promoveu agora uma exposição baseada em capas de LP's intitulada "Descubra as Diferenças". A exposição fica patente até Agosto e baseia-se na comparação entre capas semelhantes, partindo do princípio que qualquer obra parte sempre de influências e referências. Por exemplo, a capa de "London Calling", dos Clash, é claramente inspirada pela capa do primeiro LP de Elvis Presley; os Pearl Jam inspiraram-se uma vez num single dos Jackson 5, os portugueses Tédio Boys seguiram o EP "She Loves You" dos Beatles. Ao todo são 200 capas de discos em exposição que mostram semelhanças, homenagens, referências. Se gosta de discos de vinil, esta é uma boa oportunidade para conjugar uma visita a uma exposição invulgar com a descoberta de uma loja única.
Arco da velha
Mário Soares apelou a que o PS rompesse o acordo com a troika; no mesmo dia, Carlos Zorrinho sublinhou que o PS não se desvincularia do acordo. O líder da coligação grega de extrema-esquerda, Syriza, disse que só participaria num executivo se for rasgado o acordo com a troika.
Semanada
49,1% da população portuguesa já utiliza a Internet; mais de 300 famílias entram em incumprimento todos os dias e, destas, uma centena deixa de pagar a prestação da casa; estão a abrir duas lojas de ouro por dia; uma em cada cinco grandes empresas portuguesas tem dívidas em atraso à banca; 1.437 alunos universitários pediram empréstimos no valor total de 17 milhões de euros para financiarem os seus estudos; Guimarães Capital da Cultura está sem verbas e vai recorrer à banca para conseguir manter a programação; empresas angolanas reforçaram esta semana as suas posições accionistas no BPI e na Zon; nas eleições francesas, a abstenção teve o valor mais baixo dos últimos anos; o Tratado de Roma foi assinado há 55 anos, o Tratado de Lisboa foi assinado em 2009 e a Europa está num pantanal.
Provar
Em tempos idos, o AdLib foi uma das discotecas que marcaram a noite lisboeta. Ficava situada no último andar do prédio que hoje acolhe o Guilty e o Sushi Café Avenida. Há vários anos, o espaço fechou e pouco tempo depois o Hotel Sofitel, na Avenida da Liberdade, resolveu ir buscar a designação Ad Lib para o seu restaurante. Tem feito o seu percurso e está nas mãos do chefe Daniel Schlaipfer, que tem origem alemã. As suas propostas são interessantes e tão invulgares como um belíssimo filete de dourada ao vapor com couscous e espuma de caril, que é uma das estrelas da lista. Outra boa referência é o risotto do mar com camarão, polvo e ameijoas. Ao almoço, há um menu executivo a 20 euros, com novidades semanais e que inclui uma entrada, o prato do dia e uma sobremesa. Avenida da Liberdade 127, telef. 213 228 350.
www.twitter.com/mfalcao
mfalcao@gmail.com
www.aesquinadorio.blogs.sapo.pt
Polémicas ideológicas e sociais à parte, nos dias a seguir à campanha de descontos do Pingo Doce, do dia 1 de Maio, muita gente apareceu a elogiá-la como uma grande acção de marketing. Tentemos fazer um balanço. O que correu bem? - uma enorme afluência de público, uma primeira imagem positiva de auxílio às bolsas mais fracas na situação actual de crise, captação de novos clientes vindos de outras cadeias de distribuição, vendas e facturação acima de todas as previsões (por acaso a coincidirem com o tradicional período de aperto de algumas tesourarias devido à liquidação do IVA). E, o que correu mal? - incidentes graves em muitas lojas, acusações de eventual "dumping", diminuição do efeito positivo antes referido devido à forma como a acção veio colocar em agenda a questão do relacionamento das cadeias de distribuição com os seus fornecedores (nomeadamente com os produtores agrícolas nacionais), noticiário negativo sobre a transferência dos descontos para os fornecedores. E o que surgiu de novo? - na prática, uma alteração do posicionamento da marca Pingo Doce, de loja de proximidade acolhedora para uma cadeia de "hard discount". Avaliados os prós e os contras, eu diria que os aspectos negativos, em termos de imagem da empresa e do sector da distribuição, superaram os positivos. E, claro, resta saber se o posicionamento do Pingo Doce foi modificado intencionalmente ou não. Se não foi, o investimento para anular esse desvio será considerável. E é mais um ponto negativo.
Folhear
Volta e meia gosto de comprar a revista semanal francesa "Les Inrockuptibles". Não se deixem enganar pelo título - há muito mais coisas lá dentro do que rock - cinema, tendências, literatura, exposições, séries de TV, sociedade, política. Por exemplo, uma bela reportagem sobre os efeitos da campanha porta-a-porta que os estrategas de Hollande decidiram fazer logo a seguir à primeira volta - quase quatro milhões de casas receberam um contacto da campanha e o efeito eleitoral deve ter rondado os 200.000 votos, sobretudo nos abstencionistas. Aqui está uma coisa para fazer pensar os nossos especialistas em marketing político. A revista tinha também um dossier sobre os negócios entre Sarkozy e Kadhafi e uma reportagem sobre o que resta da Al-Qaeda um ano depois da morte de Bin Laden. Aqui está uma coisa para fazer pensar os nossos especialistas em marketing político. Mas a música tem sempre o seu espaço - a edição da semana passada tinha na capa a cantora Beth Ditto, dos Gossip, a propósito do seu novo disco.
E, como acontece com alguma regularidade, a revista inclui um CD amostra com 15 faixas de outros tantos lançamentos recentes, entre os quais os novos dos Citizens, dos Dandy Warhols, The Temper Trap ou de Patti Smith.
Digital
Tudo indica que estamos a assistir a uma mudança acelerada na paisagem digital, tal como a temos conhecido até aqui. Há dois anos a revista "Wired" titulava a sua capa de forma provocatória com a frase "The Web Is Dead". Algumas pessoas não perceberam na altura o que isso queria dizer - mas agora, aos poucos, começamos todos a perceber como a provocação era mais pequena que a previsão. Trocando por miúdos: a utilização da Internet, dos sites web tradicionais, está a diminuir e a utilização de aplicações teve um aumento explosivo.
Em França, um estudo que analisa o primeiro trimestre deste ano, indica que 63,4% dos sites web viu a sua utilização descer, enquanto as aplicações registavam um aumento de utilização de 57,5% . No ano passado, foram descarregadas 10,7 mil milhões de aplicações e a previsão é que em 2015 se atinjam os 183 mil milhões. Nada que espante: este ano estima-se que sejam vendidos 119 milhões de tablets, um aumento de 98% em relação a 2011. Tudo muda muito depressa à nossa volta quando olhamos para o mundo digital. Na semana passada, um especialista norte-americano assinalava que 80% do investimento publicitário em digital é aplicado em display, a publicidade que aparece por exemplo nos sites dos jornais; mas, sublinhava, 80% do tempo das pessoas que navegam na net é agora passado nas redes sociais como o Facebook, o Twitter, o Linkedin , o Google + e o Instagram. Esta é a tendência e é incontornável. Por isso é que a colocação em bolsa do Facebook e a compra do Instagram dão que falar. E a facturação do Facebook cresceu 45% no primeiro trimestre, em relação a igual período do ano passado.
Ouvir
Walter Benjamim foi um crítico literário, ensaísta e filósofo alemão que viveu no início do século XX. É também o nome escolhido pelo português Luís Nunes, que a partir de Londres, onde vive, criou "The Imaginary Life Of Rosemary And Me", um CD surpreendente, com oito canções simples, onde se misturam referências folk, sonoridades que lembram, às vezes, Eels, outras vezes Lambchop, ou ainda o lirismo de Mazzy Star. Mas não se pense que este é um disco de cópias - é um disco de belas canções pop, como poucos portugueses dos últimos anos. Destaque para "Mary", "Airports And Broken Hearts", "Twenty Four" ou "Our Imaginary House", uma delícia que reza assim: "Our imaginary house/has your paintings on the walls/ and my songs under the doors/you may come in if you like/and be happy for a while/or you may move in next door".
Ver
A Carbono é uma loja de discos, especializada nas edições em vinil, e que fica no nº 6 da Rua do Telhal, perto da Avenida da Liberdade. É um espaço com uma dimensão simpática e promoveu agora uma exposição baseada em capas de LP's intitulada "Descubra as Diferenças". A exposição fica patente até Agosto e baseia-se na comparação entre capas semelhantes, partindo do princípio que qualquer obra parte sempre de influências e referências. Por exemplo, a capa de "London Calling", dos Clash, é claramente inspirada pela capa do primeiro LP de Elvis Presley; os Pearl Jam inspiraram-se uma vez num single dos Jackson 5, os portugueses Tédio Boys seguiram o EP "She Loves You" dos Beatles. Ao todo são 200 capas de discos em exposição que mostram semelhanças, homenagens, referências. Se gosta de discos de vinil, esta é uma boa oportunidade para conjugar uma visita a uma exposição invulgar com a descoberta de uma loja única.
Arco da velha
Mário Soares apelou a que o PS rompesse o acordo com a troika; no mesmo dia, Carlos Zorrinho sublinhou que o PS não se desvincularia do acordo. O líder da coligação grega de extrema-esquerda, Syriza, disse que só participaria num executivo se for rasgado o acordo com a troika.
Semanada
49,1% da população portuguesa já utiliza a Internet; mais de 300 famílias entram em incumprimento todos os dias e, destas, uma centena deixa de pagar a prestação da casa; estão a abrir duas lojas de ouro por dia; uma em cada cinco grandes empresas portuguesas tem dívidas em atraso à banca; 1.437 alunos universitários pediram empréstimos no valor total de 17 milhões de euros para financiarem os seus estudos; Guimarães Capital da Cultura está sem verbas e vai recorrer à banca para conseguir manter a programação; empresas angolanas reforçaram esta semana as suas posições accionistas no BPI e na Zon; nas eleições francesas, a abstenção teve o valor mais baixo dos últimos anos; o Tratado de Roma foi assinado há 55 anos, o Tratado de Lisboa foi assinado em 2009 e a Europa está num pantanal.
Provar
Em tempos idos, o AdLib foi uma das discotecas que marcaram a noite lisboeta. Ficava situada no último andar do prédio que hoje acolhe o Guilty e o Sushi Café Avenida. Há vários anos, o espaço fechou e pouco tempo depois o Hotel Sofitel, na Avenida da Liberdade, resolveu ir buscar a designação Ad Lib para o seu restaurante. Tem feito o seu percurso e está nas mãos do chefe Daniel Schlaipfer, que tem origem alemã. As suas propostas são interessantes e tão invulgares como um belíssimo filete de dourada ao vapor com couscous e espuma de caril, que é uma das estrelas da lista. Outra boa referência é o risotto do mar com camarão, polvo e ameijoas. Ao almoço, há um menu executivo a 20 euros, com novidades semanais e que inclui uma entrada, o prato do dia e uma sobremesa. Avenida da Liberdade 127, telef. 213 228 350.
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