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Opinião
22 de Julho de 2011 às 12:00

A Esquina do Rio

As eleições no PS são um bom pretexto para reflectir sobre a política, sobre a relação dos cidadãos com os partidos e sobre a forma destes se relacionarem com a sociedade.

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Política

As eleições no PS são um bom pretexto para reflectir sobre a política, sobre a relação dos cidadãos com os partidos e sobre a forma destes se relacionarem com a sociedade. No caso do PS, no início deste processo eleitoral para escolher o novo secretário-geral, percebeu-se que existia um número relativamente reduzido de militantes de facto activos e com quotas pagas e, por outro lado, percebeu-se que foram liminarmente rejeitadas duas propostas de Francisco Assis que visavam uma tentativa de maior ligação do aparelho partidário à sociedade civil - uma espécie de primárias em que pudessem votar simpatizantes (e não apenas militantes) e a presença de jornalistas nos debates internos. Nestas eleições tudo segue como habitualmente, a arregimentar apoios de responsáveis distritais, de dirigentes do aparelho e de notáveis.

O maior argumento destas eleições internas - no PS e no PSD - é de facto o bom uso do telemóvel para conquistar os votos da máquina do aparelho. Não vislumbrei (apesar do esforço de Assis, diga-se em abono da verdade), nenhum esforço sério para discutir ideias ou estratégias para o país e não apenas para a forma de fazer oposição e politiquice. Um outro sinal dos novos tempos políticos tem sido dado por dois comentadores da área do PSD - Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa, que estão a passar por uma fase em que gostam de ser portadores de notícias e não apenas de opinião. É o reflexo, ao espelho, daqueles jornalistas que escrevem notícias com opiniões em vez de factos. Agora, é de bom tom que nas notícias haja opinião e que na opinião haja notícias - esta é a verdadeira tabloidização da comunicação em Portugal.

Lisboa

António Costa foi eleito pela primeira vez presidente da Câmara há quatro anos, completados no dia 15 de Julho. A cidade não está melhor; na realidade está mais degradada. Vou dar um exemplo do que é incompreensível: a Elias Garcia está interrompida no sentido Av. 5 de Outubro- Av. da República, devido a um prédio em ruína, mas, desde Dezembro, altura em que a faixa foi encerrada, ainda não foi colocado um único sinal a avisar do sucedido à entrada do troço interrompido. No cruzamento têm sido frequentes as travagens bruscas e os acidentes. Os cidadãos deixaram de ser a prioridade, que tem sido a reforma administrativa da cidade, feita aliás de forma polémica, desde o conteúdo até aos nomes escolhidos para as novas freguesias. Lisboa está paralisada, à excepção das manifestações folclóricas dinamizadas pelo vereador Zé que não faz falta. Em quatro anos António Costa fez muito pouco pela cidade e pelos munícipes que aqui pagam impostos. A cidade está mais desconfortável para quem cá vive, ele tem sido um mau presidente.

Ouvir

A colecção Original Jazz Masters Remastered, que a Concord/Universal edita, acaba de disponibilizar uma versão remasterizada a 24 bits do disco «Something Else!!!», a gravação de 1958 que colocou o saxofonista Ornette Coleman definitivamente no primeiro plano dos músicos de jazz. A acompanhá-lo, outros quatro grandes músicos: Don Cherry no trompete, Walter Norris no piano, Don Payne no baixo e Billy Higgins na bateria. Este disco, o primeiro da carreira de Ornette Coleman, foi considerado na altura algo de muito inovador e surpreendente, através das ligações que retomava, de forma livre, dos blues com o jazz - é mesmo considerado um dos trabalhos que mais contribuíu para abrir novos caminhos na música. Todos os temas são originais do próprio Coleman, que tinha 28 anos e cujo trabalho principal, na época, era ser ascensorista num dos grandes armazéns comerciais de Nova Iorque.

Provar

Encontrar um bom bitoque, ainda por cima sem batatas fritas pré-congeladas, não é coisa fácil. Há casas que fazem gala em utilizar uma peça da carne de vaca derivada da sola de sapato para a confecção do referido prato; outras têm acessos súbitos de criatividade nos molhos, destinados a esconder a falta de qualidade dos ingredientes. Na Marisqueira Roma o bitoque é de lombo, confeccionado como deve ser, com gordura q.b., alho e louro, e a carne vem cozinhada como se pede. O corte da carne é apropriado e a altura e dimensão do naco são adequados ao preço, razoável e simpático. A acompanhar vêm batatas fritas às rodelas, finas e caseiras, sem óleo a mais, estaladiças. A casa tem fama de ter umas boas amêijoas e há quem lhe elogie a sapateira e a imperial é bem tirada. Num destes almoços de verão outonal constatou-se a qualidade do bitoque do lombo, e o conforto da pequena esplanada, abrigada do sol e do vento. Para sobremesa recomenda-se uma visita à Casa do Gelado, mesmo ao lado, no número 28. A Marisqueira Roma fica na sempre agradável Avenida de Roma, 30-A , tel. 218446100

Ver

Desde o passado dia 4 de Julho é possível ver a nova proposta de exposição permanente do Museu Berardo, baseada na sua própria colecção. Ao todo são 250 obras, de nomes como Picasso, Duchamp, Dali ou Francis Bacon, entre outros, e que permitem fazer uma viagem pelas principais tendências das artes plásticas ao longo do século XX. Esta é a primeira selecção de peças da colecção já orientada pelo novo responsável do Museu, Pedro Lapa.

Além desta, permanente, existem mais três exposições temporárias patentes até finais de Agosto ou início de Setembro: «Five Rings», de Olga Barry e Rui Chafes; «Cem Vezes Nguyen», de Alfredo Jaar; e «One After Another, a Few Silent Steps», de Pedro cabrita Reis - todas têm entrada gratuita, domingo a sexta das 10h00 às 19h00 e sábados das 10 às 22h00. Até ao fim de Julho, às sextas, sábados e domingos, assinalando o 4º aniversário, o Museu Berardo fica aberto até às 24h00 com bar esplanada, DJ's, no terraço do Piso 2.


Semanada

A secretaria de Estado da Cultura conseguiu resolver, em poucas semanas, o diferendo que se arrastava desde há mais de um ano entre os herdeiros de Jorge de Brito e o Estado, a propósito da obras de Vieira da Silva depositadas na fundação Arpad Szenes- Vieira da Silva, uma coisa que o Ministério de Canavilhas não conseguiu durante mais de um ano - caso para dizer que mais vale uma secretaria de Estado que decida, que um Ministério indeciso.

Noutro contexto, a imprensa relatou que, numa reunião de organismos distritais do PSD, na semana passada, pelo menos três líderes distritais chamaram a atenção para
a necessidade de ter um interlocutor que "agilize" os contactos, não só do partido, mas também dos presidentes de câmara eleitos pelo PSD, com os ministérios, em especial aqueles que são tutelados por independentes ou pelo CDS. Julgava que o Governo devia falar com eleitos de todos os partidos de forma igual, mas pelos vistos enganei-me.

Ler

Muito oportuno o livro "A Televisão e o Serviço Público", na colecção Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos. O seu autor , Eduardo Cintra Torres, investigador universitário e crítico de televisão, foi um dos redactores do Relatório elaborado em 2002 sobre o serviço Público de Televisão (declaração de interesse: também integrei o mesmo grupo de trabalho). Numa centena de páginas o autor faz uma boa resenha histórica da evolução da televisão em Portugal, nalguns momentos com comparações com o cenário internacional; a parte final é mais focada no conceito do serviço público e chega mesmo a apresentar uma proposta programática para um funcionamento futuro da RTP.

Pessoalmente gostaria de ver reflectido, neste contexto, qual deve ser o papel estratégico do Serviço Público no fomento de uma indústria audiovisual, sobretudo na área do desenvolvimento da produção independente - por exemplo não se analisa o facto de em Portugal as estações serem elas próprias, ou através de empresas instrumentais em que participam, as produtoras da maior parte dos conteúdos nacionais de ficção, ao contrário do que acontece nos países mais desenvolvidos do ponto de vista da indústria audiovisual. No essencial o livro é um bom levantamento da situação e um contributo para um debate que vai aquecer os ânimos daqui a algum tempo, mesmo que nalgumas questões de audiometria e de programação tenha pequenas falhas ou omissões.


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