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31 de Agosto de 2012 às 12:22

A esquina do Rio

O debate da última semana sobre o futuro do serviço público de rádio e televisão não começou bem e provocou reacções empolgadas, na maior parte dos casos presas a modelos antigos, já pouco ajustados ao presente - e ainda menos ao futuro.

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RTP
O debate da última semana sobre o futuro do serviço público de rádio e televisão não começou bem e provocou reacções empolgadas, na maior parte dos casos presas a modelos antigos, já pouco ajustados ao presente - e ainda menos ao futuro. Nesta matéria, o Governo tem sido ele próprio vítima, também, de colocar ideias feitas à frente de uma análise da realidade.
Façamos um pouco de história rápida: o modelo de serviço público europeu que os velhos do Restelo usam como argumento é algo saído de meados do século passado, numa época em que nem se pensava em operadores privados de TV numa Europa saída da guerra. Nesse tempo, não havia satélites, nem distribuição por cabo, muito menos Internet, "tablets" ou "smartphones". Hoje já nada é assim, mas há quem queira manter tudo inalterado.


Inovar no serviço público
Este Governo tem na mão a possibilidade de, em vez de ir atrás do rebanho, contribuir para um novo posicionamento do serviço público, com os olhos postos no futuro e não no passado, de uma forma até pioneira no panorama tradicional europeu. Mas, para isto, convinha que existisse uma ideia precisa do que deve ser o serviço público, baseado em conteúdos concretos e não em princípios gerais, muito interessantes, mas pouco úteis na concretização de ideias.
Cada vez mais acho que o serviço público só se justifica se oferecer aquilo que os canais privados são menos susceptíveis de proporcionar -, ou seja, se for, em termos de conteúdos, complementar em vez de alternativo, sectorial em vez de generalista. Por outro lado, também me parece muito pouco lógico que continue a concorrer com os privados na captação de publicidade. Conseguirá um operador de serviço público viver com os cerca de 150 milhões da contribuição audiovisual sem esforço suplementar de financiamento do Estado? - os estudos feitos entretanto pelo próprio Governo indicam que sim, ainda mais se existir uma racionalização de meios técnicos e humanos, se existir uma reestruturação da oferta de canais em sinal aberto e no cabo, e se a própria rádio for encarada também num novo prisma.
O serviço público é importante? Eu também acho que sim, mas não precisa de tantos canais como agora - na televisão pode bem viver com um único canal em sinal aberto, com um único internacional, sem a RTP Memória, e com um canal que substitua a RTP Informação, com características de proximidade, de informação local e de uma interacção maior com a dinâmica da sociedade e com públicos sectoriais que têm necessidades específicas. Ou seja, a oferta deve ser repensada em torno dos públicos-alvo e não dos suportes e formatos rígidos que existiam até aqui. O mesmo se pode dizer da rádio.


Concessão?
Mais do que uma concessão, eu acharia interessante que o serviço público aliviasse o peso da máquina de produção interna e encomendasse mais conteúdos à produção independente, externa e privada. Dessa forma, uma boa parte do valor da contribuição audiovisual seria reinvestido no sector privado, na dinamização da produção audiovisual em língua portuguesa, fundamental para mantermos uma identidade cultural no mundo digital e no consumo móvel de conteúdos. E é nesse cenário, e não no passado da família sentada frente a um televisor na sala, que é preciso pensar, porque só assim se justifica hoje em dia a manutenção do serviço público.
Ou seja, um operador mais vocacionado para organizar as suas emissões e escolher os seus conteúdos do que em produzi-los: um "broadcaster", em vez de um "producer", em suma. Um serviço público assim, já agora, devia reforçar a sua articulação com uma política sustentada de desenvolvimento do audiovisual e podia ser parte fundamental de uma política integrada de fomento das indústrias criativas, tão relevantes do ponto de vista económico. Assim, o investimento da sociedade seria reprodutivo e não consumido essencialmente em estruturas sobredimensionadas.


Ouvir
Uma das minhas melhores compras dos últimos tempos em matéria discográfica foi o triplo álbum "Screaming And Crying - 75 masterpieces by 35 blues guitar heroes". Aqui estão temas clássicos de nomes como B.B. King, Johnny Otis, Muddy Waters, T-Bone Walker, Guitar Slim, Chuck Berry, Elmore James, Albert King ou John Lee Hooker, entre outros - uma preciosidade para quem gosta de blues. Neil Slaven fez a selecção e as belíssimas notas que enquadram a evolução dos blues desde 1930 até meados dos anos 60. Triplo CD Fantastic Voyage/Future Noise Music, Amazon.


Arco da velha
Rafael Correa, o presidente do Equador, que diz defender Julian Assange em nome da liberdade de expressão, é o mesmo que no seu país persegue jornalistas que escrevem críticas ao seu Governo.


Semanada
Em três anos, só 11 alunos do ensino militar tentaram seguir carreira nas Forças Armadas; Estado gasta 11 milhões por ano com encargos de funcionários públicos que estão a trabalhar no privado e acumulam remunerações; tratamentos termais desceram 10% devido ao fim das comparticipações; este ano já emigraram 1.344 enfermeiros; todos os partidos parlamentares querem que o Canal Parlamento seja uma excepção e tenha um tratamento diferente dos outros canais de televisão; lucros dos casinos de Lisboa, Espinho e Póvoa do Varzim cai 92% no primeiro semestre; vendas de carros usados caíram entre 30 a 40%; o sector da construção perde 90 postos de trabalho por hora; no último ano, a dívida pública que foge ao crivo de Bruxelas aumentou 7,4 mil milhões, sobretudo devido aos empréstimos do Estado às empresas públicas; Metropolitano de Lisboa registou menos 5,9 milhões de passageiros no segundo trimestre de 2012 - ou passaram todos a andar de bicicleta nas ciclovias de Sá Fernandes, ou então é mesmo verdade que Lisboa perdeu habitantes.


Folhear
A edição de Setembro da "Monocle" é dedicada aos que se dedicam à arte da guerra. A revista mostra especialistas no fabrico de camuflagens e tem uma curiosa reportagem sobre a escola de cozinheiros do exército suíço - onde há um cozinheiro para cada 50 soldados, todos com uma ideia muito precisa sobre qual a melhor comida que se pode confeccionar para manter a tropa em bom estado. Outros temas são um clube londrino, o Frontline, exclusivo para correspondentes de guerra, um levantamento de revistas e estações de rádio militares, os uniformes dos guardas suíços que protegem o Vaticano, uma entrevista com o secretário-geral da NATO e uma descrição daquilo a que se poderia chamar o soldado moderno, sempre sob o prisma de que a maior parte dos militares e dos exércitos está a fazer um grande trabalho. Ainda nesta edição, no "global travel guide", há um destaque para a pousada projectada por Gonçalo Byrne na Cidadela de Cascais e um guia do empreendedorismo que inclui o exemplo da cadeia "A Padaria Portuguesa", citando o seu CEO, Nuno Carvalho.


Provar
Um dia destes era boa ideia que a cadeia originária do Casanostra, do Bairro Alto, trouxesse para Lisboa o conceito da hamburgueria Casavostra que abriu em Almancil, no local onde antes estava a sua pizzaria, também Casavostra, que agora se mudou para umas novas e amplas instalações, a curta distância aliás. O sítio é simpático e provei um hambúrguer baptizado de "alentejano", onde pedaços de morcela são misturados na carne picada do bovino - a coisa resulta, e ainda por cima as batatas fritas são honestíssimas. Além de vários hambúrgueres, há saladas, pratos vegetarianos e um tártaro de salmão bem apaladado. Aberto todos os dias até às 24. Av. 5 de Outubro 364, Almancil, telefone 289391104.


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