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2011 em revista e perspectivas para 2012

Este tem sido um ano complicado para os investidores. A inflação persistentemente elevada que tem assolado a Zona Euro, o Reino Unido e os Estados Unidos

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Este tem sido um ano complicado para os investidores. A inflação persistentemente elevada que tem assolado a Zona Euro, o Reino Unido e os Estados Unidos, bem como os fracos dados macroeconómicos e o aumento da volatilidade do mercado, têm dificultado a obtenção de um retorno real sobre o capital. Os mercados accionistas caíram globalmente, e as "yields" subiram em muitos mercados de crédito e de obrigações de dívida pública.

No entanto, no Reino Unido e nos Estados Unidos, de forma surpreendente, as obrigações de dívida pública têm dado cartas, tirando proveito de uma definição cada vez mais apertada do que constitui um refúgio seguro no mundo dos investimentos. Muitos investidores têm optado por estas obrigações, porque o Reino Unido e os Estados Unidos, ao contrário dos países da Zona Euro, podem imprimir dinheiro para pagar a dívida.

Os decepcionantes retornos dos mercados accionistas resultam dos dados económicos, que têm estado aquém das expectativas, e da lenta resposta política relativamente aos acontecimentos da Zona Euro. Relativamente às projecções iniciais, que aliás eram modestas (ver gráfico), o crescimento global tem sido constantemente revisto em baixa, enquanto a crise da dívida da Zona Euro se agudizou de tal forma que passou a ameaçar a própria sustentabilidade da moeda única. Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos, país que possui ainda a maior economia do mundo e apresenta uma das forças laborais mais flexíveis, parece debater-se com um grave problema de desemprego, de carácter não cíclico, mas estrutural.

No mês de Março, além do mais, o Japão, a terceira maior economia do mundo, foi flagelado por um tsunami, que provocou uma explosão numa central nuclear, com efeitos sucessivos sobre as cadeias de abastecimento em todo o mundo, particularmente nos sectores automobilístico e tecnológico.

São estes os motivos que explicam a queda das expectativas de crescimento, particularmente na segunda metade do ano, as quais, por sua vez, levaram à revisão em baixa das previsões de crescimento dos resultados das empresas.

Muitos dos problemas macroeconómicos devem-se igualmente à fraqueza do sector bancário europeu e norte-americano, o qual, ainda a braços com os efeitos tardios do colapso do Lehman Brothers, ocorrido em 2008, continua a tentar endireitar as suas contas, nas quais se faz sentir fortemente o peso da dívida soberana da Zona Euro e/ou da dívida relacionada com o sector imobiliário. A relutância dos bancos europeus e norte-americanos em emprestar dinheiro tem contribuído significativamente para o decepcionante crescimento após a recuperação inicial ocorrida em 2009-2010, verificando-se uma severa restrição aos empréstimos concedidos às pequenas e médias empresas, as quais, aliás, são responsáveis pela maior parte do crescimento do emprego no âmbito da OCDE.

Não constitui motivo de surpresa o facto de, a nível global, o sector mais fraco nos mercados accionistas ser o financeiro, seguido de outros sectores economicamente sensíveis, como o industrial e o de materiais. Enquanto isso, os sectores defensivos apresentaram melhor desempenho, com perdas relativamente pequenas em sectores como os bens de consumo e os cuidados de saúde. Os valores mobiliários de primeira categoria, nestes sectores, tiraram partido de rendimentos de dividendos relativamente altos (apoiados por contas sólidas) e de uma exposição crescente à procura dos consumidores nos mercados emergentes.

Os mercados accionistas dos países emergentes sofreram quedas análogas às dos países desenvolvidos, apesar de esses países apresentarem um crescimento económico muito mais robusto. Este comportamento deveu-se a dois factores. Em primeiro lugar, os países emergentes optaram por uma política monetária mais apertada, com os bancos centrais a tentaram diminuir a inflação. Em segundo lugar, o fraco crescimento das economias desenvolvidas levou à revisão em baixa das previsões de crescimento do PIB desses países. Além disso, desde o Outono, tem sido cada vez mais difícil obter financiamento ao comércio externo junto da banca europeia e norte-americana, que procura vender activos nas economias emergentes, para ajudar a endireitar as suas contas.

Perspectivas para 2012
É quase certo que os efeitos da crise da dívida da Zona Euro irão continuar a fazer-se sentir em 2012. Mesmo que apareça rapidamente uma solução definitiva, a Europa vai apresentar menor crescimento, devido aos prejuízos económicos que já foram causados. Com alguma sorte, o crescimento poderá chegar aos 0,5%, e as reformas necessárias para aumentar a competitividade económica levarão anos a dar frutos.

Fora da Europa, o panorama é um pouco mais risonho. Nos Estados Unidos, dada a corrida eleitoral que se avizinha, é provável que, tanto a política fiscal como a monetária continuem em expansão. Os investidores continuam tolerantes no que diz respeito ao nível de endividamento do país, visto que o mercado de títulos do Tesouro continua imbatível em tamanho e liquidez. O Japão vai continuar a recuperar do terramoto ocorrido a 11 de Março. Nos outros países asiáticos, o crescimento irá sofrer um abrandamento inevitável, devido à queda do comércio com a Europa, mas o PIB continuará a crescer a um ritmo mais acelerado que em todas as outras regiões. As exportações de matérias-primas da América Latina para a China vão continuar, e o Brasil e o México vão beneficiar do aumento da procura interna.

Dada a grande aversão ao risco, consequência da crise da Zona Euro, os tradicionais activos seguros passam a proporcionar um fraco potencial de retorno. Os rendimentos da dívida soberana principal situam-se bem abaixo do nível que as esperadas taxas nominais de crescimento do PIB deixariam antever. Dado que as previsões relativas à economia norte-americana apontam para uma expansão de pelo menos 4% nos próximos cinco trimestres (em termos nominais, mais uma vez), os rendimentos a 10 anos deveriam ser muito superiores ao valor de 2% que apresentam actualmente, sendo parte dessa divergência explicada pela flexibilização quantitativa. O ouro, que habitualmente funciona como uma cobertura contra a inflação, está em risco, porque uma escalada da crise da Zona Euro teria provavelmente um carácter deflacionário, e o aumento do dólar, devido a uma fuga para a qualidade, afectaria igualmente os preços do metal amarelo.

As classes de activos que aparentemente oferecem maior potencialidade de retorno no próximo ano são as de rendimento fixo com altas taxas de rendibilidade, como a dívida de mercados emergentes (tanto em dólares como em moeda local), dado que os cupões generosos, a diminuição da aversão ao risco e a apreciação de divisas constituem bons indícios de retornos totais positivos. A dívida corporativa de alta rendibilidade também parece atractiva, dado que as empresas geralmente têm dinheiro suficiente para pagar juros, e os spreads actuais fazem prever uma taxa de incumprimento muito superior à que se nos afigura como provável. Os mercados accionistas poderão recuperar algumas das perdas ocorridas em 2011, se as perspectivas na Europa melhorarem e as avaliações forem atractivas, mas será difícil haver crescimento dos resultados, o que restringirá os ganhos. As acções com melhores dividend yields deverão proporcionar uma almofada adicional.




*Senior Sales Executive do JPMorgan AM



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