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A importância das empresas familiares

Em Portugal, as empresas familiares representam cerca de 70% a 80% do tecido empresarial e contribuem para 50% do emprego e 65% do PIB, segundo as estimativas da Associação de Empresas Familiares.

Quando se fala de empresas familiares é frequente pensar-se em pequenos negócios de origem e foco local, muitas vezes em áreas ligadas à restauração e retalho de bens e serviços. Esta visão redutora não representa a dinâmica, importância e realidade das empresas familiares em Portugal e no mundo.

Em Portugal, as empresas familiares representam cerca de 70% a 80% do tecido empresarial e contribuem para 50% do emprego e 65% do PIB, segundo as estimativas da Associação de Empresas Familiares. O panorama é semelhante na União Europeia em que as empresas familiares representam mais de dois terços das empresas e perto de 50% do emprego. Nos Estados Unidos as empresas familiares representam dois terços do PIB.

A maior e uma das mais internacionais empresas portuguesas – a Jerónimo Martins – é uma empresa familiar. Uma das marcas e empresas mais fortes e admiradas em Portugal – a Delta Cafés – é uma empresa familiar. A maior e mais internacional construtora portuguesa – a Mota-Engil – é uma empresa familiar. Uma das empresas portuguesas mais inovadoras a nível mundial no retalho – a Sonae – é uma empresa familiar. A maior empresa privada de saúde em Portugal é uma empresa familiar – o Grupo CUF –, bem como um dos maiores grupos industriais do país – a Semapa. As empresas familiares podem estar cotadas em bolsa ou ser privadas, ser focadas no mercado nacional ou serem multinacionais, e estão presentes em todos os setores da Economia. Algumas são muito antigas, como o Grupo Pinto Basto de comércio e transportes, fundado em 1771 e que vai já na 10.ª geração de gestão familiar. Muitas outras empresas que fazem parte do nosso dia a dia ou que estão solidamente no mercado internacional são empresas familiares de sucesso, sem que a maioria dos consumidores o saiba.

Apesar da sua diversidade, as empresas familiares têm traços comuns, alguns dos quais muito benéficos para a Economia. São caracterizadas desde logo pelo controlo da empresa estar nas mãos de uma família, a qual envolve vários do seus membros na gestão e liderança do negócio. Por isso, tipicamente, o horizonte temporal usado na gestão é de longo prazo. A palavra que captura esta ideia é “stewardship” que quer dizer ser um guardião. Há o sentimento de estar a gerir a empresa, não para o próximo trimestre ou ano, mas sim para construir um legado para as gerações futuras. Isso gera uma lógica de gestão mais orientada para a criação de valor partilhado e para um sentido de responsabilidade para com toda a comunidade envolvida no negócio, dos trabalhadores aos fornecedores e clientes, bem como a comunidade local que fez nascer e crescer a empresa. Esta forma de gerir para o longo prazo esteve fora de moda durante os anos 80 e 90, época do apogeu das empresas cotadas no mercado acionista e da gestão das multinacionais para maximização do valor acionista, mas está novamente em voga com a aposta na sustentabilidade e responsabilidade. Para as empresas familiares, a sustentabilidade e responsabilidade sempre foram o orientador principal da sua atuação e estratégia.

Nas empresas familiares há assim um forte sentido de tradição e comunidade mas que se alia à inovação. Os dados indicam que as empresas familiares investem menos que a média em inovação, mas são mais eficazes nos investimentos que fazem, gerando mais patentes e mais novos produtos por cada euro investido. Crescem e inovam de forma consistente ao longo de décadas. São por ventura menos rápidas nesse crescimento, mas fazem-no de forma mais sustentada. E fazem-no sem nunca perder as raízes na comunidade, cidade ou país que os viu nascer. São assim fundamentais para uma distribuição harmoniosa das atividade económica na geografia de um país, sendo motores do desenvolvimento de vilas e pequenas cidades, fora das zonas de grande centralidade económica.

A gestão de empresas familiares está também repleta de desafios e oportunidades. Um deles é o planeamento da sucessão. Empresas familiares que não planeiam a sucessão na gestão do negócio, muitas vezes pelo receio dos fundadores em lidarem com o seu envelhecimento e mortalidade, têm maior probabilidade de diminuir o seu valor e as suas margens nos dois anos após uma transição não planeada. Por outro lado, nos casos em que as novas gerações não querem assumir a governação do negócio familiar, há a necessidade de uma transição para uma gestão profissional não familiar, muitas vezes através de processos de venda do negócio a gestores qualificados e comprometidos.

Outro aspeto interessante é a governação das empresas familiares, em que se sobrepõem lógicas familiares, empresariais e comunitárias, sendo importante um foco muito especial nos mecanismos de governação que garantam o envolvimento e diálogo de todos, tendo em vista a criação de valor a longo prazo. Nestes processos a capacidade de diálogo e de alcançar compromissos é essencial mas nem sempre fácil quando se interligam negócios com relações familiares.

Para a Católica Lisbon é essencial o estudo e o apoio às empresas familiares em Portugal, verdadeira espinha dorsal da nossa Economia. Hoje, dia 7 de maio, organizamos o Family Business Day, liderado pelos nosso alunos da disciplina de Mastering Family Businesses, que junta duas centenas de participantes de empresas familiares e vários oradores sobre como criar um diálogo e comunicação eficazes em negócios familiares. Hoje lançamos também um videocast produzido pelos nossos alunos em que regularmente serão entrevistadas várias personalidades ligadas à área das empresas familiares.

Anunciamos também o lançamento da Católica Lisbon Family Business Platform, um hub de investigação e formação para a comunidade de empresas familiares em Portugal e na Europa. Esta plataforma será um ponto de reflexão, encontro e promoção de sinergias em negócios familiares, para termos um setor ainda mais pujante, que puxe pela dinâmica e inovação da nossa economia. Iremos já em Junho ser parceiros da conferência anual da Academia Internacional de Investigação em Empresas Familiares (IFERA) e acolher um consórcio de alunos de doutoramento que fazem investigação nos temas de “family business”. A plataforma irá desenvolver conhecimento rigoroso e formações inspiradoras sobre negócios familiares, contribuindo assim para a capacitação dos quadros e famílias para as dinâmicas únicas da gestão das empresas familiares. Finalmente, colocaremos esse conhecimento ao serviço da sociedade para reforçar a competitividade das nossas empresas e da Economia.

 

Em Portugal, as empresas familiares representam cerca de 70% a 80% do tecido empresarial e contribuem para 50% do emprego e 65% do PIB.
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