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À nossa! Saúde!

A desinformação e o debate pouco sério são assuntos que me preocupam mais no final de 2020 do que me preocupavam antes. Esse é um dos desejos pequeninos que tenho para 2021: que a qualidade da informação e da sua partilha aumente.

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Esta é a minha crónica de despedida de 2020 no Deans’ Corner. Que ano este... testados até ao limite das nossas emoções e aptidões. É um momento de inevitável balanço e de olhar para o futuro de mangas já arregaçadas – sem ação não haverá esperança e 2021 começa já daqui a 15 dias. É no Novo Ano que temos de nos focar, teremos de ser melhores do que fomos até aqui, a começar pela época festiva.

Esta crónica é também uma espécie de Carta ao Pai Natal, intimista, como quando falamos para dentro com a nossa consciência (aqueles que a têm) – um balanço do que fizemos bem e uma justificação para merecermos a sua recompensa no Natal.

Querido Pai Natal, que tal nos portámos em 2020? O ano começou discreto em Portugal, seguindo uma trajetória sem grandes surpresas. Subitamente, fomos atingidos em março pela força de um vírus que chegou aos quatro cantos do mundo. Trouxe medo, dor, confinamento. Muitos não sabiam se se haviam de preocupar mais com as vidas e o desconhecimento acerca da doença ou com os impactos económicos de parar uma parte significativa da atividade empresarial. Os decisores, em Portugal e no mundo, tiveram de fazer escolhas que ninguém gostaria de ter de fazer. Sendo que sou crítica de diversas medidas que têm sido tomadas nestes últimos nove meses, não deixo de ser solidária quanto à dificuldade de enfrentar este momento da nossa vida coletiva.

É ponto alto deste ano de crise profunda, a solidariedade que se sentiu nos primeiros meses – todos sentimos as penas uns dos outros e foram imensos os setores de atividade essenciais que voltámos a valorizar como já nem tínhamos memória. Foi também impressionante a forma como conduzimos processos de transformação digital acelerada em inúmeras organizações.

Estamos, inevitavelmente, fatigados de um estilo de vida mais isolado e menos livre no que diz respeito a movimentos e socialização. Aqui entram, na minha opinião, os pontos menos positivos do nosso comportamento no último ano. Há quem, simplesmente, não se consiga ocupar com algo útil quando está em casa e comece a disparatar, a torto e a direito, nas redes sociais, e até nos media. Sobre tudo. E sobre nada. Fala-se muito, mas de forma mal informada em diversas circunstâncias e sem qualquer solução válida. A desinformação e o debate pouco sério são assuntos que me preocupam mais no final de 2020 do que me preocupavam antes. Esse é um dos desejos pequeninos que tenho para 2021: que a qualidade da informação e da sua partilha aumente. Indiretamente relacionado com este ponto, temos as recentes notícias que dão nota da vontade da União Europeia atacar comportamentos anticoncorrenciais das “Big Techs”. Elas dominam quase completamente a nossa vida hoje em dia, o que se acentuou com a desmaterialização de uma parte substancial das nossas atividades em 2020. Não haverá efetiva democracia se dependermos de um poder económico tão concentrado e com capacidade de manipulação. Um assunto na lista das prioridades para 2021.

Para fechar 2020, não esqueçamos os mortos e todos os que têm sofrido com esta pandemia. Nesta época festiva, aproveitemos os pequenos prazeres da companhia dos poucos com quem podemos estar, não pondo outros em risco. E, sendo Natal, para os crentes e para os não crentes, o tempo é de solidariedade e humanismo, não esquecendo a essência do que aí se celebra – amor que não discrimina. A minha mensagem de Natal é mais bem dada pelo Rui Veloso no seu “Presépio de Lata”: https://www.youtube.com/watch?v=lF4GezvCp_k.

Não peço para mim em 2021 nada mais do que peço para si: À nossa! Saúde!

P.S. - Para o próximo ano, ideias e projetos transformadores não faltam – as mangas já estão mesmo arregaçadas! O ISEG vai surpreender TANTO! Celebraremos 110 anos como nunca imaginou.... conto mais em janeiro...

 

Presépio de Lata (Rui Veloso) 

 

Três estrelas de alumínio A luzir num céu de querosene Um bêbedo julgando-se césar Faz um discurso solene 

 

Sombras chinesas nas ruas Esmeram-se aranhas nas teias Impacientam-se gazuas Corre o cavalo nas veias 

 

Há uma luz branca na barraca Lá dentro uma sagrada família À porta um velho pneu com terra Onde cresce uma buganvília 

 

É o presépio de lata Jingle bells, jingle bells 

 

Oiçam um choro de criança Será branca, negra ou mulata? Toquem as trompas da esperança E assentem bem qual a data 

 

A lua leva a boa nova Aos arrabaldes mais distantes Avisa os pastores sem tecto Tristes reis magos errantes 

 

E vem um sol de chapa fina Subindo a anunciar o dia Dois anjinhos de cartolina Vão cantando aleluia 

 

É o presépio de lata Jingle bells, jingle bells 

 

Nasceu enfim o menino Foi posto aqui à falsa fé A mãe deixou-o sozinho E o pai não se sabe quem é 

 

É o presépio de lata Jingle bells, jingle bells

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