Opinião
A nova geração de investidores
A sensação da facilidade de se ganhar muito dinheiro nos mercados faz com que o recurso a fortes alavancagens coloque esses investidores a correr riscos excessivos.
(Comente aqui o artigo de Ulisses Pereira)
Dias tristes. Meses tristes. Um ano triste. Não há outra forma de descrever o que temos vivido. Não é este o espaço para falar de quem é a culpa de termos chegado à situação a que o país chegou. Portugal é o epicentro do vírus e os constantes murros no estômago que levamos diariamente, com as notícias cada vez mais dramáticas, fazem com que a tristeza não seja uma palavra vã. Nem gasta, por mais que a usemos.
No meio desta tristeza, há coisas que nos fazem sorrir e que mudaram. Nos últimos meses, foram cada vez mais os jovens que me escreveram, com perguntas, comentários, dúvidas e críticas. É habitual receber muitos desses contactos, mas de jovens é bem menos frequente. A pandemia e o confinamento fizeram com que muitos deles se interessassem pelos mercados financeiros e tivessem tido a primeira experiência a negociar.
Além da idade, há algo que diferencia estes jovens do perfil habitual de quem me contacta. Esta nova geração entrou logo a investir no mercado norte-americano ou nas criptomoedas, mas vou deixar este último activo para quem seja especialista. Em relação às bolsas americanas, estes jovens investidores entraram depois daquelas primeiras quedas abruptas e a grande maioria tem conseguido valorizações fantásticas das suas carteiras, pelas subidas muito fortes do mercado americano neste período e pelo facto de usarem posições bastante alavancadas, permitidas por várias corretoras.
Este fenómeno não é apenas português e já tinha referido que, pela primeira vez na história, parecia ser a força dos pequenos investidores a empurrarem os mercados para cima pois a percentagem do grande capital nas "sidelines" é muito maior do que o habitual.
Ser jovem, entrar em bolsa e entrar em subidas fortíssimas tem aspectos positivos e negativos. É difícil não ficar logo encantado pelo mercado de capitais e são investidores que o mercado conquista. Obviamente a valorização forte das suas carteiras é outra das coisas boas desta entrada em momento de grandes subidas. Mas há também o reverso da medalha. A sensação da facilidade de se ganhar muito dinheiro nos mercados faz com que o recurso a fortes alavancagens coloque no futuro esses investidores a correr riscos excessivos. Por outro lado, há quase a sensação de que qualquer queda é uma boa oportunidade de compra e isso pode causar sérios danos quando os mercados inverterem.
Os jovens (e bem-sucedidos) investidores que entraram no mercado americano depois de Abril nunca viram o mercado a cair. Nunca assistiram a um "bear market". Há quase uma sensação de indestrutibilidade que lhes tem de ser explicada que é irreal porque, um dia, o mercado vai implodir e eles têm de estar cientes disso para poderem preservar parte dos muitos ganhos obtidos.
Costumo dizer que quem chega aos mercados num "bear market" tem mais probabilidades de ter sucesso nos mercados. É mais realista, sabe o quão difícil é ganhar dinheiro em bolsa pois normalmente entra a perder (geralmente, quem inicia não começa a abrir posições curtas, algo que aprende posteriormente no seu percurso nos mercados financeiros) e sabe que as quedas fazem parte dos dias do mercado. Mas, há que reconhecê-lo, a maioria dos que começam a acompanhar a bolsa durante um "bear market" desiste pela falta de entusiasmo que um mercado a cair em si mesmo encerra.
A maioria dos investidores chega aos mercados perto do topo dos "bull markets", seja pelas notícias de fortes subidas que a comunicação social veicula, seja pelos amigos a dizerem que ganharam imenso dinheiro nos últimos tempos. É normal, faz parte da história da bolsa. É também por isso que tantos perdem nos mercados, pela incapacidade de perceber que entraram numa fase excepcional dos mercados - o último fôlego dos "bull market" - em que quase todas as acções voam, mesmo aquelas que nem asas têm.
É por isso que, em resposta a esta nova geração (que bom é ver jovens a interessarem-se pelos mercados - um deles, com apenas 15 anos, já me envia análises técnicas!), que descobriu agora a bolsa e que está a ganhar bastante dinheiro no mercado americano ou nas criptomoedas, dou sempre os parabéns pelos resultados, não os desencorajo a "surfar" a actual onda que lhes está a fazer valorizar a sua carteira, mas recordo sempre que um dia a maré vai mudar e é importante que tenham um plano para o dia em que isso acontecer. É importante que tenham um plano predefinido, bem escrito, de forma que depois as emoções não lhe toldem a razão.
O ano de 2020 ficará marcado como aquele em que as nossas vidas mudaram, em que o mundo entristeceu e em que passámos a valorizar o simples facto de estarmos com saúde e vivos. Para muitos, foi o ano em que se apaixonaram pela bolsa. Alguns ficarão ligados a ela para sempre, desde que se lembrem que o mercado também pode cair. Não, isto não é nenhuma análise, é apenas o conselho de alguém que acompanha os mercados financeiros há quase 30 anos e já viu muitos novos investidores a chegarem ao mercado quando ele voa em direcção ao céu, mas que se esquecem de abrir o pára-quedas quando os trovões impedem que se continue a voar.
Artigo escrito em 22/01/21 às 12h00
Fontes: https://live.euronext.com/pt/
Ulisses Pereira não detém qualquer dos ativos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui,onde também pode ser consultada a lista com as anteriores análises de Ulisses Pereira.
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
Dias tristes. Meses tristes. Um ano triste. Não há outra forma de descrever o que temos vivido. Não é este o espaço para falar de quem é a culpa de termos chegado à situação a que o país chegou. Portugal é o epicentro do vírus e os constantes murros no estômago que levamos diariamente, com as notícias cada vez mais dramáticas, fazem com que a tristeza não seja uma palavra vã. Nem gasta, por mais que a usemos.
Além da idade, há algo que diferencia estes jovens do perfil habitual de quem me contacta. Esta nova geração entrou logo a investir no mercado norte-americano ou nas criptomoedas, mas vou deixar este último activo para quem seja especialista. Em relação às bolsas americanas, estes jovens investidores entraram depois daquelas primeiras quedas abruptas e a grande maioria tem conseguido valorizações fantásticas das suas carteiras, pelas subidas muito fortes do mercado americano neste período e pelo facto de usarem posições bastante alavancadas, permitidas por várias corretoras.
Este fenómeno não é apenas português e já tinha referido que, pela primeira vez na história, parecia ser a força dos pequenos investidores a empurrarem os mercados para cima pois a percentagem do grande capital nas "sidelines" é muito maior do que o habitual.
Ser jovem, entrar em bolsa e entrar em subidas fortíssimas tem aspectos positivos e negativos. É difícil não ficar logo encantado pelo mercado de capitais e são investidores que o mercado conquista. Obviamente a valorização forte das suas carteiras é outra das coisas boas desta entrada em momento de grandes subidas. Mas há também o reverso da medalha. A sensação da facilidade de se ganhar muito dinheiro nos mercados faz com que o recurso a fortes alavancagens coloque no futuro esses investidores a correr riscos excessivos. Por outro lado, há quase a sensação de que qualquer queda é uma boa oportunidade de compra e isso pode causar sérios danos quando os mercados inverterem.
Os jovens (e bem-sucedidos) investidores que entraram no mercado americano depois de Abril nunca viram o mercado a cair. Nunca assistiram a um "bear market". Há quase uma sensação de indestrutibilidade que lhes tem de ser explicada que é irreal porque, um dia, o mercado vai implodir e eles têm de estar cientes disso para poderem preservar parte dos muitos ganhos obtidos.
Costumo dizer que quem chega aos mercados num "bear market" tem mais probabilidades de ter sucesso nos mercados. É mais realista, sabe o quão difícil é ganhar dinheiro em bolsa pois normalmente entra a perder (geralmente, quem inicia não começa a abrir posições curtas, algo que aprende posteriormente no seu percurso nos mercados financeiros) e sabe que as quedas fazem parte dos dias do mercado. Mas, há que reconhecê-lo, a maioria dos que começam a acompanhar a bolsa durante um "bear market" desiste pela falta de entusiasmo que um mercado a cair em si mesmo encerra.
A maioria dos investidores chega aos mercados perto do topo dos "bull markets", seja pelas notícias de fortes subidas que a comunicação social veicula, seja pelos amigos a dizerem que ganharam imenso dinheiro nos últimos tempos. É normal, faz parte da história da bolsa. É também por isso que tantos perdem nos mercados, pela incapacidade de perceber que entraram numa fase excepcional dos mercados - o último fôlego dos "bull market" - em que quase todas as acções voam, mesmo aquelas que nem asas têm.
É por isso que, em resposta a esta nova geração (que bom é ver jovens a interessarem-se pelos mercados - um deles, com apenas 15 anos, já me envia análises técnicas!), que descobriu agora a bolsa e que está a ganhar bastante dinheiro no mercado americano ou nas criptomoedas, dou sempre os parabéns pelos resultados, não os desencorajo a "surfar" a actual onda que lhes está a fazer valorizar a sua carteira, mas recordo sempre que um dia a maré vai mudar e é importante que tenham um plano para o dia em que isso acontecer. É importante que tenham um plano predefinido, bem escrito, de forma que depois as emoções não lhe toldem a razão.
O ano de 2020 ficará marcado como aquele em que as nossas vidas mudaram, em que o mundo entristeceu e em que passámos a valorizar o simples facto de estarmos com saúde e vivos. Para muitos, foi o ano em que se apaixonaram pela bolsa. Alguns ficarão ligados a ela para sempre, desde que se lembrem que o mercado também pode cair. Não, isto não é nenhuma análise, é apenas o conselho de alguém que acompanha os mercados financeiros há quase 30 anos e já viu muitos novos investidores a chegarem ao mercado quando ele voa em direcção ao céu, mas que se esquecem de abrir o pára-quedas quando os trovões impedem que se continue a voar.
Artigo escrito em 22/01/21 às 12h00
Fontes: https://live.euronext.com/pt/
Ulisses Pereira não detém qualquer dos ativos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui,onde também pode ser consultada a lista com as anteriores análises de Ulisses Pereira.
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
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