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Cumprir calendário

O que é que me fará despir este bolorento fato de urso? Não serão dados de crescimento económico, desemprego ou indicadores de confiança.

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Não foram apenas os meus artigos e análises que foram de férias. A julgar pelo que aconteceu no último mês na Bolsa portuguesa, os investidores também aproveitaram um dos Verões mais quentes da história para estarem longe da praça nacional, tornando Agosto num longo bocejo. Se a Bolsa fosse futebol, diríamos que tinham sido apenas semanas para cumprir calendário.

Confesso ter saudades de alguns Verões quentes na Bolsa portuguesa, mas a realidade que vivemos é bem diferente desses tempos. Este "Bear Market" leva quase 2 anos e meio e é interessante analisar os argumentos que ursos e touros apresentam neste momento.

Os ursos argumentam que a tendência descendente é claramente evidente, que o nosso mercado está descredibilizado pelo que aconteceu num passado recente com alguns dos bancos que saíram da nossa Bolsa e que o crescimento económico continua anémico, muito longe da recuperação que muitos anunciavam.

Por seu lado, os touros defendem que a situação económica do nosso país é melhor do que há 2 ou 3 anos atrás, com menores riscos de falência (quer das empresas quer do Estado) mas que as cotações estão bem abaixo dos valores dessa altura, o que significa que estão subavaliadas. Por outro lado, argumentam que há acções que estão em máximos dos últimos anos e que isso é sinal de força do nosso mercado.

Não posso deixar de me manter do lado dos ursos. O meu pessimismo já dura há cerca de 2 anos e a Bolsa portuguesa continua sem dar quaisquer sinais de força que me façam mudar de opinião. Se pensarmos que, há um par de meses atrás, o PSI atingiu o valor mínimo dos últimos 20 anos facilmente podemos perceber o quão paupérrimo tem sido o comportamento do nosso mercado.

O que é que me fará despir este bolorento fato de urso? Não serão dados de crescimento económico, de desemprego ou indicadores de confiança. Serão sinais de força no mercado que continuam sem aparecer. Os primeiros sinais seriam o aparecimento de "Higher lows" (mínimos relativos cada vez mais altos) e a quebra consistente da linha de tendência descendente que vem marcando o ritmo deste "Bear Market". Contudo, para me metamorfosear de urso para touro, necessito da quebra daquela que considero a grande fronteira entre o "Bear" e o "Bull Market" na zona dos 5600 pontos. Naturalmente que se a Bolsa portuguesa continuar a descer, também reverei em baixa esta fronteira como o tenho feito.

Se há 10 anos atrás me dissessem que hoje o PSI estaria abaixo dos 5000 pontos não acreditaria. Confesso que hoje, 10 anos depois, surpreende-me que ainda existam tantas pessoas interessadas pela Bolsa portuguesa, a discutirem-na em fóruns e a lerem artigos e análises sobre ela. Têm sido demasiados anos de quedas, de desilusões, de dinheiro a evaporar-se do mercado, de uma credibilidade perdida de um PSI20 que nem 20 acções tem.

Como sempre refiro, não são as quedas e a possibilidade de comprar acções mais baratas que me entusiasma. São sempre as subidas e a demonstração que os investidores voltaram a acreditar no mercado de capitais que me tornam optimista. Ao longo dos últimos anos, muito foram aqueles que tentaram adivinhar o fundo, saindo chamuscados. O mercado não é para heróis e apanhar facas em quedas é um exercício interessante para um artista circense mas não para um investidor.

Não serei eu que empurrarei o mercado para cima. Ninguém tem esse poder. Adoraria ver a Bolsa portuguesa a subir e a iniciar um novo "Bull Market", mas será o mercado que terá que provar que algo mudou, mostrando uma força até agora inexistente. Até que tal suceda, continuo de braço dado com os ursos, uma companhia que não me agrada mas à qual tenho sido fiel.








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Analista Dif Brokers
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