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Sandra Clemente - Jurista 18 de Janeiro de 2017 às 20:55

Vacas sagradas

É sabido, mas não por Silva Peneda, que também se aliena património para reinvestir de maneira a adaptarmo-nos ao mundo de hoje e criarmos condições para uma vida melhor no futuro. Vacas sagradas há muitas em Portugal.

De entre elas, por estes dias, o salário mínimo, a concertação social, a classe média, a coerência, a bondade da esquerda. Não é por se encher a boca com elas ou por nos aferroarmos à sua imobilidade que se assegura a sua sobrevivência. Entre quarta e quinta-feira, o Governo de Portugal invocou-as a todas para ver se o protegiam da exposição da sua incapacidade para continuar. Não conseguiu. É óbvio que estão esgotados os acordos entre as esquerdas, e o Governo não sabe o que fazer, nem pode fazer nada.

 

António Costa é manifestamente incompetente para ser primeiro-ministro na atualidade. Forjado na política antiga do "establishment" saído da revolução, feita para um mundo pequeno e maioritariamente inculto, em que a retórica era suficiente para alimentar o povo e garantir que os privilégios se mantinham entre os "habitués", mostrou anteontem no Parlamento que nunca saiu desse mundo, embora diversifique alguns atores. É apenas condescendente com a democracia: reage mal a ter de lidar com a oposição democraticamente eleita. A sua prestação no último debate quinzenal foi a pior que já lhe ouvi: impreparado, demagógico, inconsequente, apostou em inverter o jogo em vez de no profissionalismo. Foram dias que espelharam o alheamento em que vive o Governo e os seus parceiros, indiferentes ao descrédito que infligiram à classe política com o debate, o motorista a recolher assinaturas porta a porta, a CIP a dizer não ter assinado o acordo que o primeiro-ministro disse já estar assinado ou coisa parecida. Porventura, atingiu os pináculos do ridículo quando os Verdes declararam, na prática, sem valor o acordo que assinaram com o PS no Parlamento, justificado pela defesa intransigente dos trabalhadores. Deixou de os defender, está só vigilante. E os da impotência, quando ontem Centeno culpou o anterior governo pela subida dos juros da dívida. Já não há Governo.

 

Jurista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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