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26 de Abril de 2021 às 19:10

Contos de um país extraordinário

Viver num país que vive dependente da caridade e ajudas europeias, assente em fatores extraordinários, não nos fará pensar que o modelo está errado?

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A FRASE...

 

"Portugal foi o primeiro Estado-membro a apresentar o PRR."

 

António Costa, Twitter, 22 de abril de 2021

 

A ANÁLISE...

 

Por ora já se sabe, Portugal irá receber aproximadamente 6 mil milhões de euros em fundos europeus por ano, bazuca incluída, nos próximos cinco anos. Isso é aproximadamente 3% do PIB por ano. Em paralelo, a Comissão Europeia prevê crescimentos anuais reais, na ordem dos 2% em Portugal nesses anos. Ou seja, aceitando o rácio apresentado pelo Governo de transformação de capital em PIB potencial de 3 para 1, discutível dado o histórico de investimentos pouco produtivos do passado, monos em linguagem normal, temos que sem este afluxo extraordinário de fundos 2030 e Next Generation, o crescimento do PIB se situaria algures entre os 0% e 1% nos próximos anos de recuperação sem pandemia.

 

Felizmente temos a ajuda monetária ultraexpansionista do BCE que permite termos umas taxas a 10 nos 0,4% de financiamento a um país com 130% de dívida pública, quase toda em mãos estrangeiras, com um crescimento anémico a potenciar o risco de default. Essas são taxas absolutamente extraordinárias que poupam no mínimo 2% de juros por ano ao Estado, ou 5,7 mil milhões de euros, mais ou menos 2,5% do PIB.

 

Ou seja, se Portugal não fosse hoje um país extraordinário com as ajudas europeias extraordinárias que tem recebido, teria um crescimento do PIB entre 0% e 1% e com menos 5,7 mil milhões de euros para gastar em apoios sociais, na saúde, na educação ou em prestações, que iriam para juros. Viver num país que vive dependente da caridade e ajudas europeias, assente em fatores extraordinários, não nos fará pensar que o modelo está errado? Todos os anos temos recebido da Europa 1,5% do PIB, poupado em investimento público até à debilidade das infraestruturas públicas hospitalares, culturais e de transporte, para alimentar dependências, e conseguimos ser um país de salários de miséria, o segundo pior da Europa em paridade de poder de compra. E não tem a ver com esquerda ou direita. Aliás foi sob o socialista Schroeder que se fizeram as reformas liberais de emprego na Alemanha. O Syriza encolheu o Estado e libertou os gregos e o ministro Pedro Nuno Santos assumiu-se como um perigoso ultraliberal na reforma da TAP. O PS governou 19 dos últimos 25 anos. Em vista deste descalabro, terá coragem de mudar ou fará de conta? 

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

 

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