Opinião
A liberdade vem da independência
Politicamente mudámos, mas economicamente tem parecido uma versão do Triunfo dos Porcos, sendo que o antigo condicionamento industrial renasceu para uma versão de "empresários mansos do regime e os outros".
A FRASE...
"Precisamos de um novo Salazar?"
Manuel Luis Goucha, Público, 3 de janeiro de 2019
A ANÁLISE...
Vivemos num país com uma atávica dependência do Estado, do Rei e da Corte. Foi assim que fomos habituados durante grande parte da nossa história, desde quando os empreendedores e conquistadores não regressaram das Índias.
Vieram golpes e revoluções, mas pouco mudou. Talvez a mais importante tivesse sido a Revolução Liberal, quando o nome não era um anátema e sinónimo de qualquer coisa muito má, ao moderar o poder de um só homem, bom ou tonto.
Mesmo a nossa revolução dos cravos pouco mudou nessa dependência. Veio a liberdade política, o fim dum regime caduco e repressivo, mas os empresários continuaram a depender do Estado. Porque o regime político democrático assim o desejava, capturando os empresários, numa forma requentada salazarista, e sendo capturado por eles. Era bom para todos. Todos viviam confortáveis e coniventes. Uns porque tinham negócios e rendas, os outros não os tendo faziam o percurso da sabujice para os conseguir.
Politicamente mudámos, mas economicamente tem parecido uma versão do Triunfo dos Porcos, sendo que o antigo condicionamento industrial renasceu para uma versão de "empresários mansos do regime e os outros".
Até que as coisas começaram a mudar. A grande revolução invisível de 2012/2014 fez com que os grandes empresários e banqueiros ligados à corte e ao rei tivessem o seu Alcácer Quibir. Um principezinho diria que o essencial é invisível aos olhos, e talvez por isso as ondas de choque dessa revolução estão a ser desvalorizadas, as políticas públicas sonham com um mundo pré-revolução estimulando o consumo, os rendimentos, as 35 horas numa parte da população trabalhadora, pago por impostos indiretos sobre os restantes, ignorando os sinais de mudança. Num país sem capital, endividado e ressacado, a viver na ilusão, se não mudar a bem, mudará a mal. E o pior a acontecer será para o Estado e para todos os que dependem dele. De 4 em 4 anos haverá uma nova "reforma" da Segurança Social e os professores e os médicos serão os novos proletários.
Contudo, a pouco e pouco, há cada vez mais empresas vencedoras na dura luta que é competir no mundo, livres por não dependerem da corte nem do Rei.
A qualidade da gestão e o VAB esmagado em cadeias de valor é outro tema importante, mas pelo menos não necessitam de donos políticos… na liberdade que dá o mundo.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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