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Opinião
13 de Janeiro de 2020 às 19:50

Passado contra futuro

Que sejam agora os protagonistas da política americana no presente a promover a ilusão do nacionalismo, a desmantelar as entidades de regulação e supervisão de espaços supranacionais mostra que a ilusão dos iludidos é o outro modo de designar a decadência.

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A FRASE...

 

"A melhor forma de um cidadão ter liberdade e prosperidade é num contexto de Estado-nação." 

 

Steve Bannon, Expresso, 4 de Janeiro de 2020

 

A ANÁLISE...

 

A ilusão dos iludidos é a mais perigosa e a mais persistente, porque o iludido esconde a sua ilusão produzindo novas ilusões, até que deixa de lhe ser possível recuperar o sentido do real e ficará condenado, mesmo que não tenha consciência disso, à eterna repetição da ilusão. É a ilusão que não tem fim porque já só haverá ilusão. Mas quando a ilusão consiste em invocar o passado para não ter de reconhecer que o presente já tornou esse passado impossível, entra-se na fase da memória com demência, que recorda o passado, mas ignora o presente.

 

Os nacionalismos europeus, que Steve Bannon celebra como tendo construído a forma política perfeita do Estado-nação, também produziram os impérios europeus, de que os Estados Unidos da América são um dos subprodutos. Mas o que Bannon esconde, na sua ilusão, é que as guerras que os Estados-nação europeus disputaram com o objectivo de construírem impérios tiveram como motivação essencial escaparem às limitações impostas pelas fronteiras, em nome da necessidade de espaço vital, do acesso a matérias-primas de que precisavam para a sua industrialização, da necessidade de alargarem os pequenos mercados nacionais para atingirem a escala dos mercados mundiais. E a realidade que os Estados Unidos encontraram nas duas guerras mundiais do século XX desmentiu a ilusão de que o Estado-nação tenha sido, ou possa ser, a melhor forma de garantir ao cidadão liberdade e prosperidade. Pelo contrário, é nos Estados fechados e exíguos que não há nem liberdade nem prosperidade.

 

A estrutura de ordem que os Estados Unidos promoveram na segunda metade do século XX baseou-se em redes de alianças e na construção de entidades e de espaços supranacionais que pudessem servir de antídotos aos impulsos nacionalistas e de reguladores de conflitos motivados pela expansão na captura de espaços vitais. Que sejam agora os protagonistas da política americana no presente a promover a ilusão do nacionalismo, a desmantelar as entidades de regulação e supervisão de espaços supranacionais mostra que a ilusão dos iludidos é o outro modo de designar a decadência. 

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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