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20 de Abril de 2020 às 22:32

O vírus de um mundo novo

Se onde estava capital passou a estar dívida, é no balanço do banco emissor que está a condição para que haja o restabelecimento das relações de mercado necessárias para se ter o crescimento económico que volte a transformar a dívida em capital.

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A FRASE...

 

"É impressionante o número de pessoas que esperam que uma catástrofe seja a oportunidade para resolver problemas. Eles não sabem o que dizem…" 

 

António Barreto, Público, 19 de Abril de 2020

 

A ANÁLISE... 

 

Uma epidemia globalizada é o choque imprevisto que tem potência suficiente para produzir a mudança do mundo conhecido para o mundo novo. Foi assim no século XIV, com a peste negra vinda das estepes eurasiáticas, desencadeando mudanças que estão na base da mobilização para a expansão europeia. Está a ser assim na passagem da segunda para a terceira década do século XXI, quando está aberto o confronto pela localização do centro de hegemonia mundial.

 

A epidemia é um processo sem autor ou uma revolução sem revolucionários. O vírus limita-se a fazer o que está na sua natureza. A potência revolucionária do vírus está no que ele provoca com as reacções que desencadeia nas sociedades, nas economias e nas estruturas do poder. São estas reacções que matam o mundo conhecido para que possa aparecer um mundo novo.

 

Ao escolher a via da distância social para evitar os contágios, as sociedades escolhem congelar a economia. Ao choque na oferta (porque parou a produção) segue-se o choque na procura (porque diminuem os rendimentos, aumenta o desemprego, perde-se a confiança e não há investimento). Os mercados deixaram de existir, o que significa que também não se podem ajustar para recuperar relações de equilíbrio. Não havendo relações de mercado, tudo depende do poder político que ocupa o Estado. Mas quando são violados os padrões de equilíbrio na economia e são violados os limites orçamentais com as despesas de saúde impostas pela crise sanitária, os responsáveis políticos que ocupam o Estado ficam sem recursos para sustentar uma sociedade em quarentena e uma economia congelada – e só podem continuar a ser poder políticos se puderem emitir dívida com a garantia de que há comprador.

 

O choque imprevisto que condena o mundo conhecido à impossibilidade social, económica e política também determina o que são as condições do mundo novo. Se onde estava capital passou a estar dívida, é no balanço do banco emissor que está a condição para que haja o restabelecimento das relações de mercado necessárias para se ter o crescimento económico que volte a transformar a dívida em capital. Mas esse banco emissor tem de ter uma escala que só se atinge com a integração de várias economias nacionais – o que quer dizer que o mundo novo será um mundo de espaços integrados.

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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