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Joaquim Aguiar 18 de Fevereiro de 2019 às 20:10

Mundo novo

O que foi o Novo Mundo das descobertas e da expansão europeia é agora a origem de um mundo novo que deixa a Europa sem a garantia da Aliança Atlântica e sem tempo para passar da promessa à realidade económica e militar da integração europeia.

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A FRASE...

 

"Para além da Rússia, agora temos os chineses e os americanos a tentar dividir a União

Europeia."

 

Carl Bildt, Público, 17 de Fevereiro de 2019

 

A ANÁLISE...

 

Foi a expansão europeia, a partir do século XV, que configurou o Novo Mundo, para onde os europeus emigraram sem perguntarem às populações nativas se estas estavam de acordo com esta ocupação. Terminou há muito essa configuração da ordem mundial. Estava sustentada na rede de impérios europeus que teria de ser destruída para que se pudesse estabelecer a hegemonia mundial dos Estados Unidos. A inevitável contracção da área de influência da Europa foi compensada pela aliança com os Estados Unidos, em grande medida justificada pelo papel que a emigração europeia teve na construção do poder americano, mas também foi encoberta pelo projecto de uma nova "expansão" europeia, agora endógena, com a constituição e os sucessivos alargamentos da União Europeia. Os "europeus americanos" eram base de apoio para a Aliança Atlântica e a União Europeia era a promessa de formação de uma base de poder económico e militar sem que tivesse de se passar por guerras entre europeus.

 

O que foi o Novo Mundo das descobertas e da expansão europeia é agora a origem de um mundo novo que deixa a Europa sem a garantia da Aliança Atlântica e sem tempo para passar da promessa à realidade económica e militar da integração europeia. Hoje, a Europa não é uma potência que possa equilibrar, no mundo novo multipolar, as grandes potências que são os Estados Unidos, a China e a Rússia. Pelo contrário, a Europa é o "prémio" em disputa na confrontação entre as três potências: quem ganhar a Europa obtém o diferencial de poder que lhes permite superiorizar-se aos dois outros competidores. E não surpreende que haja quem prefira destruir a Europa a permitir que ela seja capturada, em condições funcionais, por qualquer das outras duas potências de escala mundial.

 

No século XV, o império bizantino terminou quando em Constantinopla uma reunião de religiosos debate a questão do sexo dos anjos e os otomanos atacam. Hoje, os europeus debatem a soberania nacional e a recuperação do controlo dos instrumentos de política nacional quando o mundo se tornou multipolar e é configurado pelas áreas de influência de grandes potências.

 

Artigo está em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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