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Opinião
07 de Abril de 2016 às 00:01

1% não dá

Sair do torpor em que a economia caiu requer, antes de mais, promover a recapitalização e restruturação das empresas e reduzir os obstáculos ao investimento e à contratação de trabalhadores.

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A FRASE...

 

"Se os esforços desenvolvidos anteriormente nesta área [reformas do mercado de trabalho] forem revertidos (…), [o FMI] teria de rever em baixa as projeções para o crescimento potencial, que atualmente se aproxima de 1,0 por cento."

 

IMF Portugal Country Report No. 16/97, 31 de março de 2016

 

A ANÁLISE...

 

Crescimento de 1%? Isso não dá para reduzir o desemprego ou aumentar salários de modo sustentado; não dá para honrar os compromissos com os reformados do futuro; não dá para reduzir a enorme dívida pública e privada; não dá para assegurar todas as funções sociais do Estado consideradas básicas; não dá para reduzir a fiscalidade que esmaga a classe média. Um crescimento de 1% por ano, em suma, não permite corresponder às expetativas de sociedade que a população almeja. Mas o FMI sugere que pode ser ainda pior, caso as reformas implementadas ao abrigo do programa de ajustamento sejam revertidas. Ainda que tal não aconteça, será a perspetiva de crescimento de 1% pessimista? Não necessariamente, sobretudo considerando que, na primeira década do século, Portugal cresceu a uma média de 0,7% ao ano.

 

Claro que se pode argumentar que após as reformas adotadas nos últimos anos, que corrigiram alguns dos defeitos do modelo que vigorou até 2011, a economia tornou-se mais competitiva e, por essa via, adquiriu maior potencial de expansão. Acontece que, como refere o FMI, esse potencial adicional está coartado pelo nível muito elevado de endividamento, nomeadamente do tecido empresarial, o que implica uma menor capacidade de investimento, de inovação e de geração de emprego. Daí que sair do torpor em que a economia caiu requer, antes de mais, promover a recapitalização e restruturação das empresas e reduzir os obstáculos ao investimento e à contratação de trabalhadores. Se a isto lhe juntarmos impostos mais baixos e maior concorrência no setor não-transacionável, os 1% do FMI podem muito bem mais do que duplicar nos próximos anos.  

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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