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03 de Outubro de 2019 às 20:23

Século XXI na União Europeia: os portugueses e os outros europeus

Que perfil de política económica nos poderá aproximar da média da UE? As opções são múltiplas mas não será certamente aquela que se centre fundamentalmente no saldo orçamental.

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Na campanha eleitoral que hoje termina foi recorrente o uso de dois indicadores macroeconómicos: o quase excedente orçamental e o nível de fiscalidade. Ambos traduzem resultados históricos, mas em sentido contrário. Podem dar uma orientação ao próximo governo sobre algumas opções políticas, mas são insuficientes para conhecer melhor a evolução do país, a partir de 2000, em comparação com os restantes parceiros da União Europeia (UE).

 

Comecemos por alguns indicadores relativos à população. No período em análise (2000-2018), seis países da Europa Central e de Leste (ECL) registaram sempre um saldo populacional total negativo; em 2018, tal aconteceu também em Portugal e na Itália. O saldo natural negativo que afectou quase todos os países não foi compensado pelo saldo migratório (2018) em cinco países da ECL e em Portugal. A alteração da pirâmide etária tem afectado de forma diferente os países. A evolução do Índice de Dependência de Jovens (jovens até aos 15 anos em % da população em idade activa) revela o seguinte: o valor baixou em 20 países; nos valores mais elevados (entre 28 e 32%, para um valor médio da UE28 de 24%) encontram-se a Suécia, a Irlanda e a França; Portugal ocupa a 27.ª posição. A evolução do Índice de Dependência de Idosos (pessoas com 65 e mais anos em % da população activa) não é mais animadora: em resultado do envelhecimento e do aumento da esperança de vida aos 65 anos, o valor aumentou em 27 países (a excepção é o Luxemburgo); bem acima da média da UE28 (30,2%), com valores entre os 33 e os 35% encontram-se quatro países (Portugal, Finlândia, Grécia e Itália). Desta síntese poder-se-iam reter orientações a prazo para a inversão do saldo migratório bem como para as políticas de natalidade, saúde e cuidados continuados.

 

Na política nacional muito se tem falado de termos a geração mais qualificada de sempre. Como comparamos afinal com os parceiros europeus? Vamos considerar apenas um indicador: a população entre 30-34 anos com o ensino superior, em % da população residente da mesma idade. Nesta dimensão observa-se uma evolução positiva por toda a Europa mas com ritmos e resultados bem diferentes. Em 2018, e para um valor médio da UE28 de 40,7%, destacam-se seis países com valores entre 45 e 50% (Polónia, França, Estónia, Bélgica, Dinamarca) e outros cinco no intervalo 52%-57% (Suécia, Luxemburgo, Irlanda, Chipre, Lituânia). Portugal (33,5%) encontra-se na 27.ª posição tendo aumentado em 22 pontos percentuais o valor do rácio. Partindo de idênticos valores em 2000, outros países fizeram mais, como foi o caso, por exemplo, da Eslováquia ou da Polónia (aumentos de 27 e de 37 pontos percentuais, respectivamente). Donde, não nos podemos iludir com o elevado número de alunos que ingressam anualmente no ensino superior: uns não conseguem aceder e muitos desistem.

 

Por razões de espaço, consideremos apenas mais um indicador: o PIB per capita (UE28=100) que nos informa sobre a criação de riqueza, face à média europeia, em paridade do poder de compra. Apesar da redução registada em muitos países após a crise de 2008, onze deles registam valores superiores à média europeia - de 104 na França e no Reino Unido até 254 no Luxemburgo. Portugal passou de 84 para 76, passando a ocupar a 21.ª posição, apenas acima da Polónia, Hungria, Roménia, Croácia, Bulgária - que aumentaram o seu índice - e da Grécia. No espaço de dezoito anos, fomos ultrapassados pela Estónia, Eslováquia, Eslovénia, Chipre, Lituânia, Malta e República Checa. Que perfil de política económica nos poderá aproximar da média da UE? As opções são múltiplas mas não será certamente aquela que se centre fundamentalmente no saldo orçamental. 

 

Professora universitária (ISEG) e investigadora. Economista

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

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