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Manuel Falcão - Jornalista 28 de Agosto de 2020 às 10:11

O "off"

As conversas em "off" com políticos são um terreno armadilhado há muito tempo.

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"Aquilo que foi feito não pode ser desfeito"
William Shakespeare

O "off"
As conversas em "off" com políticos são um terreno armadilhado há muito tempo. Os políticos mais experientes desenvolveram competências extraordinárias nesse domínio. Alguns recusam-se a falar sobre determinado tema e depois dizem alguma coisa do género: "Eu disso não falo, mas em ‘off’ sempre lhe digo que é uma escandaleira"; outros falam do assunto, mas controlam as palavras e a mensagem - estão no seu direito, claro. O pior é quando no fim da conversa, na despedida, dizem: "Sobre aquele assunto, já agora, eles são uns patifes."

Costa é um político muito experiente, veterano de guerras internas em "off" e "on" dentro do PS e com doutoramento em mudanças de posição e em insinuações. Acontece que, na minha opinião, quando um jornalista ouve o que agora se sabe, à saída, nas escadas de S. Bento, não lhe ficava mal dizer: "Senhor primeiro-ministro, esqueci-me de lhe fazer uma pergunta, mas agora responda em ‘on’: entende que no lar de Reguengos houve falta de coragem dos profissionais de saúde e foi por isso que a situação se terá deteriorado?". A pergunta é legítima, podia ter sido feita antes, por qualquer razão não a fizeram. Mas devia ter sido feita a seguir. O mais que se arriscavam era a ter uma resposta como: "Não comento." E claro que teriam irritado um pouco mais o primeiro-ministro que, como se percebe pelo som da entrevista, estava particularmente irritado com a situação - o que nele também não é invulgar.

Como temos visto, António Costa ganhou o hábito, de cada vez que ele próprio cria um problema (como foi o caso com as declarações que fez a propósito da ministra Godinho), correr a dar uma entrevista para tentar limpar a imagem. Foi o que tentou fazer mais uma vez. Saiu-lhe o tiro pela culatra e a culpa não foi de quem divulgou o "off", foi dele próprio. Para piorar as coisas, depois de falar com o bastonário da Ordem dos Médicos, chamou os jornalistas para ouvirem o que tinha a dizer sobre a conversa, sem direito a fazerem perguntas. O bastonário afirma que as declarações que Costa fez no final da reunião não correspondem ao que foi dito à porta fechada. António Costa é daquele género que nunca erra nem nunca vê razão para apresentar desculpas. Como mais uma vez se viu.

Semanada

Há 528 estações e apeadeiros activos na rede ferroviária portuguesa, que movimentam 24 milhões de passageiros por mês, e dez estações, em Lisboa e no Porto, concentram 38% do tráfego total a ligação ferroviária entre os dois extremos do Algarve, de Olhão a Faro, demora quase três horas, o mesmo que há quase 40 anos a Via do Infante foi a auto-estrada portuguesa que mais tráfego perdeu no segundo trimestre deste ano, e em Abril, durante o estado de emergência, registou uma queda da circulação média diária de 81% face ao período homólogo segundo o Instituto da Mobilidade e dos Transportes, em Abril circularam, no conjunto das concessões rodoviárias, pouco mais de 6 mil veículos, menos cerca de 13 mil do que em Abril do ano passado segundo um estudo TGI da Marktest, nos últimos 12 meses triplicou o número de portugueses que encomenda refeições por aplicações de telemóvel de serviços de entrega, e a pizza é a comida mais consumida desta forma segundo o estudo Mediamonitor da Marktest, a situação no lar de Reguengos, entre 17 e 23 de Agosto, foi referida em 428 notícias de canais televisivos, num total de 14 horas de emissão sobre este tema em 2019, as fábricas de automóveis em Portugal geraram 2,2% do PIB, e só a Autoeuropa gerou 1,7% do PIB nacional, tendo já voltado a produzir 890 automóveis por dia, a um ritmo pré-covid Gomes Cravinho, ministro da Defesa, autorizou uma adjudicação direta, sem concurso, no valor de 2,1 milhões de euros, em vestuário de combate, e o Tribunal de Contas considerou que o governante tinha violado a lei.

Dixit
"Muita gente quer convencer-nos de que estar sempre a falar de corrupção é uma forma de populismo. O maior truque do diabo é convencer-nos de que não existe."
João Miguel Tavares

Ver
A primeira surpresa que registo, em todos os locais, é a afluência de público. Por todo o lado onde estive, de Vila Nova de Cerveira a Bragança, vi as exposições com gente, nalguns casos à espera de vez para entrar. Em Cerveira, a Bienal, que vai na sua XXI edição, tem propostas muito diversificadas. Destaco a exposição "De Casa Para um Mundo", que junta obras de artistas plásticos com músicos e escritores, um desafio sempre arriscado e que muitas vezes pode ser penoso. Embora no centro da cidade, o espaço onde é mostrada é ingrato, mas as obras de Ana Fonseca, Cristina Ataíde, Graça Pereira Coutinho e Pedro Calapez, para só citar alguns dos nomes propostos pela curadora Fátima Lambert, suscitam a curiosidade de quem passa. Já Amarante e o Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso são uma conversa à parte: o galerista Fernando Santos pediu a um conjunto de artistas obras que se enquadrassem no título "Fuck Art, Let’s Eat". E, assim, Ana Vidigal, José Loureiro, João Jacinto, Julião Sarmento (na imagem), Manuel Baptista, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Pedro Proença e Rui Sanches, entre outros, responderam ao desafio e as suas obras estão perto das de Amadeo de Souza-Cardoso, que ali nasceu.

A terminar, quero deixar uma referência a dois locais em Bragança - o primeiro é o Centro de Interpretação da Cultura Sefardita que, com poucos recursos mas num belo projecto de Souto Moura, mostra a importância dos judeus em Portugal desde o nascimento da nacionalidade; e o outro é o Museu do Abade de Baçal - onde, além de obras de arte sacra, se destaca a colecção de pinturas de Abel Salazar, os desenhos a tinta-da-china de Almada Negreiros e, sobretudo, a magnífica exposição de fotografia de Duarte Belo, "Sabores da Terra", a olhar para o território de Trás-os-Montes de uma forma que, espero, possa ser mostrada por todo o país. Uma nota final: não planeiem visitar museus municipais à segunda-feira, estão fechados, vá-se lá saber porquê.

Passear
A pandemia fez-nos redescobrir Portugal. Voltei este Verão a locais onde não ia há mais de 40 anos e devo desde já esclarecer que fiz as reservas com apenas duas semanas de antecedência, estritamente em nome pessoal, pagando o que nos sites respectivos surgiu como proposta. Gabo-me de conhecer bem o país, mas reconheço que, após várias décadas, regressar ao mesmo local, de maneira diferente, faz-nos ver tudo de outra forma. Lembro-me que, no final dos anos 1970, fiquei tão encantado com Trás-os-Montes e Alto Douro que, uns anos mais tarde, regressei lá numas férias sem destino, só a descobrir. Desde essa altura, no início dos anos 1980, nunca mais aí voltara. Tinha algum receio de, agora, ficar desiludido, mas isso não aconteceu.

Primeira constatação: muitos portugueses a visitar Portugal; segunda constatação: muitos espanhóis a descobrirem os territórios da fronteira, em hotéis, restaurantes, nos percursos mais turísticos; terceira constatação: há empresários que em cada local desenvolveram hotéis com bom acolhimento, restaurantes nalguns casos excepcionais, e os locais têm uma gentileza e boa-disposição a acolher forasteiros que ultrapassam o dever profissional. No Norte, do Minho a Trás-os-Montes, fiquei em bons sítios com menor custo que em sítios menos bons mais a centro.

Já aqui falei na semana passada na desilusão que foi a Pousada da Ria, do Grupo Pestana, junto a Aveiro. Foi mais cara e desconfortável que qualquer outro local destas férias. Um dos mais baratos, no Baleal, a Silver Coast Beach Residence, foi um exemplo de bom acolhimento e teve um dos melhores pequenos-almoços de toda a viagem. A Casa da Calçada, em Amarante, com um conforto e serviço excepcionais, teve um custo menor que a Pousada do Grupo Pestana. Noutro registo, o Hotel Boega, em Vila Nova da Cerveira, informal e acolhedor, faz-nos querer ficar a provar os cozinhados tradicionais que provámos num jantar. E na G Pousada, em Bragança, um empresário local oferece o que noutras pousadas não existe: competência e bom serviço. Se fizesse um "ranking" do pão servido ao pequeno-almoço, a G Pousada arrebatava o primeiro lugar. Nesta viagem descobri quartos com vistas magníficas, como esta imagem que aqui fica de Amarante, onde, se puder, mais vezes regressaremos.

Arco da velha
Uma exposição do Museu de Arte Contemporânea, de obras adquiridas nos últimos dez anos, e que está pronta há mais de dois meses, arrisca-se a fechar sem ser aberta ao público, por falta de verba para resolver questões técnicas como iluminação e sinalética. 

Sabores
Quando o restaurante da Casa da Calçada, em Amarante, está em jogo no meio de outros locais, fica difícil fazer comparações. Galardoado várias vezes com uma estrela Michelin, o Lugar do Paço é uma referência da restauração em Portugal. Sob a direcção do chef Tiago Bonito, está aberto de quinta a sábado ao jantar e ao domingo ao almoço. Quer os menus de degustação quer a carta são aliciantes. Nos menus de degustação, o serviço de vinhos adequado a cada prato é exemplar, revelando pequenos produtores da região com um "sommelier" que sabe falar do que serve e do porquê das suas propostas. Toda a refeição e a sua envolvente são especiais. Não sou um grande fã de menus de degustação, mas admito que este superou as minhas expectativas. Os destaques vão, nas entradas, para o caviar com gema de ovo fumado e para o carabineiro do Algarve com açafrão. Nos pratos principais, o cherne esteve magnífico e o borrego cheio de sabor e no ponto exacto. A melhor sobremesa foi a beterraba a envolver maracujá.

Em Bragança, quero destacar a melhor posta mirandesa que já comi: uma carne extraordinária de textura e sabor, bem temperada, cozinhada no ponto, tenríssima, acompanhada por saborosas batatas assadas, enquanto do outro lado da mesa uma desejada truta minhota se revelou um pouco mais seca que o desejável - no restaurante Geada, uma referência local, que aliás depois se expandiu para a Pousada (que já tem uma estrela Michelin) e, mais recentemente para o gastrobar Contradição, dirigido pela nova geração da mesma família. Junto ao castelo de Bragança, no Contradição, provaram-se bons pastéis de massa tenra com recheio invulgar em tempero, uma muxama de atum com salada bem temperada e vieiras com panceta de porco bísaro. Tudo satisfez, acompanhado por um espumante local e por um branco da região.

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