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18 de Outubro de 2019 às 10:21

As reportagens intrometidas

Ainda a nova legislatura não começou e já surgiu o primeiro caso político em torno da RTP.

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"Quando os políticos se queixam que a televisão transforma a política num circo, devemos recordar-nos que o circo já existia e que a única coisa que a televisão faz é mostrar que nem todos os intervenientes estavam convenientemente treinados."
Edward R. Murrow

As reportagens intrometidas
Ainda a nova legislatura não começou e já surgiu o primeiro caso político em torno da RTP. Infelizmente, foi causado pelo comportamento recente da direcção de informação da estação em relação a um dos programas dessa área com maior audiência, o "Sexta às 9", de Sandra Felgueiras, que regularmente apresenta investigações sobre casos da actualidade nacional. O programa, que devia ter retomado a sua exibição em Setembro, acabou por não ser emitido durante a campanha eleitoral por decisão da direcção de informação e apenas voltou na semana passada. Quem o viu perceberá o porquê da suspensão durante a campanha eleitoral - o trabalho de investigação sobre a exploração do lítio em Portugal e as concessões atribuídas gera desconforto no poder . Tivesse ele sido exibido na altura prevista e um dos ministros, agora reconduzido, João Galamba, teria sido pretexto para mais umas dores de cabeça de António Costa. Galamba, que aliás é um dos "bulldogs" políticos de serviço ao PS, já se indignou sobre o programa, mostrando assim o seu conhecido apreço pela liberdade de opinião e de informação, evidenciando o que se pode ter passado nos bastidores da decisão. O que se passa é que, ao estimular comportamentos assim, quem esconde e adia programas como este está a prestar um péssimo serviço e a dar razão a todos os que querem acabar com o serviço público de televisão, dando pretexto a que surjam acusações de ingerência editorial. Não se sabe, nem saberá, se a decisão de esconder o programa foi tomada por receio de ofender o poder ou por descarada intromissão deste, mas o que é facto é que uma das duas coisas existiu, e isso não é bom. Até à data, não ouvi nenhum dos bonzos do Conselho Geral Independente, essa inútil instituição criada por Poiares Maduro, pronunciar-se sobre o assunto, eles que eram suposto ser os guardiões da virtude. O caso do "Sexta às 9" já proporcionou que alguns viessem clamar pela privatização da RTP e outras aleivosias do género, próprias de quem não entende das matérias sobre as quais se pronuncia. Os mais liberais e avançados países europeus têm serviço público audiovisual forte e dinâmico, que é o fiel da balança na paisagem audiovisual desses países, que estimula o tecido económico da área e que é um bastião das respectivas culturas nacionais. Aqui, a noção de serviço público é evitar incomodar os políticos, sobretudo os que estão no poder. E isso, sim, é que é preciso mudar.

Semanada

O número de ministros que são membros do secretariado nacional do PS aumentou de três para seis no novo Governo o novo Executivo tem mais dois ministérios, apenas duas caras novas, oito mulheres em vez das cinco anteriores, e o número de ministros de Estado aumentou para quatro saíram três governantes e há 14 repetentes com as mesmas funções Mário Nogueira, líder da Fenprof, disse que se Tiago Brandão Rodrigues continuasse como ministro da Educação, isso seria uma provocação aos professores não houve alterações nas pastas mais polémicas como a Saúde, Educação e Justiça e o ministro das cativações que afectam estas pastas, Mário Centeno  a média de idade dos governantes desceu de 54,8 anos para 52,5 anos Fernando Medina manteve o ex-vereador Manuel Salgado à frente da empresa municipal de obras l o juiz Ivo Rosa foi acusado de falta de bom senso pelo Ministério Público devido ao seu comportamento na investigação do caso do roubo de armas em Tancos, que atrasou a investigação uma lista candidata à Ordem dos Enfermeiros foi excluída por ter mulheres a mais na sua composição este ano, já se registaram nas escolas portuguesas 264 casos de agressões entre alunos há um milhão de pensões abaixo dos 264 euros a região Norte é a mais afectada pela pobreza. 

Dixit
"Caro João Galamba, nenhum político nem servidor público está acima do escrutínio."
Sandra Felgueirasautora do programa "Sexta às 9" da RTP, cuja reportagem sobre a concessão da exploração de lítio, área tutelada por João Galamba, teve a exibição suspensa durante a campanha eleitoral.

Uma fábula ilustrada
Na Galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho 71) inaugurou esta semana uma dupla exposição com trabalhos da portuguesa Joana Gomes e da alemã Daniela Krtsch. Comecemos por esta última: Daniela Krtsch, artista alemã que vive há mais de duas décadas em Lisboa, apresenta "Jorinde & Joringel", uma série de pinturas inspirada no conto homónimo dos irmãos Grimm: a história de dois noivos prometidos que se perdem na floresta e são enfeitiçados por uma bruxa má que transforma as virgens em pássaros. A transformação em rouxinol da amada Jorinde, e a busca do seu Joringel por libertá-la da morte certa no castelo da bruxa, é um conto de fadas aqui ilustrado de forma marcante por Krtsch (na imagem). Curiosamente, a autora tem desenvolvido extensa colaboração com outra arte visual, o vídeo, nomeadamente em clips para a banda Micro Audio Waves e em filmes de curta e longa metragem. Joana Gomes, pelo seu lado, apresenta "Double Poetics", trabalhos sobre tela, de médio e grande formato, e trabalhos sobre papel. Esta sua exposição mostra uma selecção de obras do seu espólio e de experiências criativas recentes, divididas em duas áreas distintas. A primeira, com uma série de pinturas de grandes dimensões que, segundo a curadora, Inês Valle, "criam paisagens de cor e matéria". A segunda parte mostra uma série de pinturas e desenhos, em que a cor surge de forma intensa, "contida pelo silêncio e ritmo formal da geometria branca que intercepta toda a obra". As duas exposições ficam patentes na Galeria até meados de Janeiro. A outra sugestão da semana está no Museu Colecção Berardo. Dando continuidade a um projeto inaugurado em Abril deste ano, "Constelações II: uma coreografia de gestos mínimos" apresenta obras de, entre outros, Fernando Calhau, Ana Hatherly, José Maçãs de Carvalho, Sol LeWitt, Cindy Sherman, Jack Pierson, Joseph Kossut, Mark Rothko, Ernesto de Sousa, João Tabarra, Rui Chafes e Douglas Gordon, entre outros . A curadoria é de Ana Rito e Hugo Barata.

Liberal, porquê?
"O Apelo da Tribo" é um ensaio escrito em 2017 por Mario Vargas Llosa no qual o autor explica a evolução das suas filiações filosóficas e políticas. "Nós, os liberais, não somos anarquistas e não queremos suprimir o Estado", escreve Mario Vargas Llosa, Prémio Nobel da Literatura de 2010. Logo nas primeiras páginas do livro, lê-se: "A doutrina liberal representou desde a sua origem as formas mais avançadas da cultura democrática e foi a que fez progredir mais os direitos humanos, a liberdade de expressão, os direitos das minorias sexuais, religiosas e políticas, a defesa do meio ambiente e a participação do cidadão comum na vida pública das sociedades livres. Por outras palavras, o que mais nos foi defendendo do inextinguível ‘apelo da tribo’. Este livro gostaria de contribuir com um grãozinho de areia para esta tarefa indispensável." Sendo um livro de ensaios biográficos, "O Apelo da Tribo" é, ao mesmo tempo, uma história intelectual e política do percurso de Vargas Llosa, desde uma juventude fascinada pelo marxismo e pelos movimentos revolucionários latino-americanos até alertar para os perigos da submissão intelectual, da demagogia, do chauvinismo e do nacionalismo, bem como da negação da racionalidade e da liberdade de pensar e questionar. Adam Smith, Ortega Y Gasset, Friederich von Hayek, Karl Popper, Raymond Aron, Ibrahim Berlin e Jean-François Revel são alguns dos nomes sobre cuja obra e pensamento Vargas Llosa escreve nesta obra. Edição Quetzal.

Redescobrir os sons
Quando uma editora discográfica se chama Italians Do It Better, tudo pode acontecer. No caso, a editora é obra de Johnny Jewel, o mentor dos Chromatics, banda do início do século e que pratica uma fusão de pop com electrónica, constituída por Ruth Radelet na voz, sintetizadores e guitarra, Adam Miller na guitarra, Nat Walker na bateria e pelo próprio Jewel, que toca vários instrumentos e assume o papel de produtor. "Closer To Grey", lançado inesperadamente no início de Outubro, é atípico no contexto da discografia da banda, mas é uma bela surpresa. Os arranjos e a produção são sempre exemplares e a voz de Ruth Radelet é capaz de algumas magias - como aliás se pode bem notar na sua versão do clássico "The Sound Of Silence", de Simon & Garfunkel, que é a faixa de abertura de "Closer To Grey", o primeiro disco dos Chromatics em sete anos (aparentemente neste período esteve para ser publicado o álbum "Dear Tommy", entretanto dado como desaparecido). Ao todo são 12 temas, dos quais, além da já citada versão, realço "Touch Red", "Closer To Grey", "Light As A Feather", "Whispers In The Hall" , a inesperada balada "Move a Mountain", "On the Wall"e "Through the Looking Glass". Disponível no Spotify.

Arco da velha
Milhares de alunos continuam sem professores um mês após as aulas terem começado e o Ministério da Educação diz não ter sido informado de qualquer situação anómala.

Uma bela tosta
A minha busca por sanduíches e tostas em condições prossegue continuamente. Desta vez, disseram-me que no Restelo, na rua das lojas, havia umas boas tostas numa casa que dá pelo nome de Lambretta. Esta semana, confirmei que isso é verdade. A tosta da casa, tosta Lambretta, é feita em pão alentejano e leva queijo curado, peru fumado, molho inglês e mostarda de Dijon. O resultado é surpreendente em termos de sabor e de textura. Uma outra descoberta é uma sanduíche de salmão em bolo do caco, com rúcula, pesto e requeijão. A Lambretta também serve saladas (a clássica Caesar, uma de salmão e outra de burrata), há rosbife no prato com salada, cebola confitada e batata palha. As empadas de galinha recomendam-se. No capítulo dos doces, há scones, tarte de maçã, blattertarte, pão de ló e há gelados da Artisani. Voltando à razão da experiência, a tosta Lambretta e o salmão em bolo do caco correram muito bem, o serviço é eficaz, a esplanada é abrigada. No interior, a decoração é muito simpática, com réplicas de cartazes publicitários antigos. À disposição do cliente estão exemplares de revistas estrangeiras, como a Monocle, por exemplo. Aqui está um sítio que vale a pena conhecer. Lambretta, Rua Duarte Pacheco Pereira 26-A.

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