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18 de Setembro de 2020 às 10:45

A PSP e a censura

Tenho a certeza de que o cidadão António Costa é um firme defensor da liberdade de expressão, e sei que cresceu num ambiente no qual a literatura e a poesia eram estimadas. Não tenho disto a menor dúvida.

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Nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo.
António Costa, a 7 de abril de 2016



A PSP E A CENSURA 

Tenho a certeza de que o cidadão António Costa é um firme defensor da liberdade de expressão, e sei que cresceu num ambiente no qual a literatura e a poesia eram estimadas. Não tenho disto a menor dúvida. Por isso mesmo não consigo perceber porque é que, enquanto primeiro-ministro, permite que a actual direcção da PSP, nomeada pelo seu Governo, seja reincidente em tentativas de limitação da liberdade de expressão. Há pouco tempo, a PSP anunciou que apresentou uma queixa-crime contra um cartoon humorístico, que envolvia aquela força policial, publicado no suplemento satírico Inimigo Público. Entretanto soube-se que, há uns meses, a PSP deteve um homem que colava cartazes alusivos a uma exposição e que reproduziam um poema, já publicado em livro, que abordava a violência policial. O colador de cartazes e a curadora da exposição foram alvo de uma queixa da força policial ao Ministério Público, já que o referido poema foi considerado ofensivo pela PSP. Imagino que a direcção da PSP tenha criado uma comissão de censura prévia à revelia do Governo e do primeiro-ministro, e que agora considere que referências que lhe sejam feitas em "cartoons" ou poemas constituam um crime de "ofensa a organismo, serviço ou pessoa coletiva". No meio de tudo o que se passa no país, estas acções da PSP não são enganos fortuitos nem incidentes menores. Reflectem uma atitude e uma linha de conduta preocupantes. Acredito que, inquieto como está com o futuro do Benfica, o cidadão António Costa não queira tomar posição em defesa da liberdade de expressão, mas acredito que o primeiro-ministro deva fazer alguma coisa para que ninguém tenha medo de fazer "cartoons" ou poemas nos quais as polícias sejam criticadas.


Dixit
"Debatemo-nos por um modelo ideal de educação cívica, mas somos incapazes de manter um debate cívico e civilizado. Há aqui uma preocupação deplorável de intimidar as pessoas. Passam a saber que há um custo a pagar se pensarem pela sua própria cabeça".

Sérgio Sousa Pinto



SEMANADA

O ex-presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, Orlando Nascimento, foi acusado pelo Ministério Público de crime de abuso de poder  o Ministério Público aceitou arquivar um processo de falsificação de documentos da deputada socialista Hortense Martins, a troco de um pagamento de mil euros ao Estado  António Pires de Lima afirmou esperar "que o CDS acorde"  mais de um milhão e duzentos mil utilizadores estiveram registados na Escola Virtual, uma plataforma de ensino à distância, durante o período de suspensão das atividades lectivas presenciais  segundo um inquérito realizado pela Porto Editora, num contexto em que o digital assumiu um novo protagonismo na educação, 76% dos encarregados de educação e 50 % dos professores sublinharam a importância do manual escolar em papel, utilizado por 96% dos alunos  as exportações de Portugal para a China cresceram 77,14% em junho, enquanto as importações sofreram uma queda de 17,45%, em relação a maio   na primeira semana de aulas, há cerca de 600 escolas com falta de professores  o transporte fluvial entre as duas margens do Tejo teve uma queda de 45% nos meses de verão  o Metropolitano de Lisboa registou uma quebra na procura de 59% entre os meses de junho e agosto, face ao mesmo período de 2019, ou seja, menos 24,7 milhões de passageiros.

O ESCRITOR E O SONHO - Maria Gabriela


Llansol, considerada como um dos nomes mais inovadores e importantes da ficção portuguesa contemporânea, nasceu  em Lisboa em 1931, viveu na Bélgica entre 1965 e os anos 1980, altura em que regressou a Portugal, e a sua vida profissional foi centrada em questões relacionadas com problemas educacionais. Entre 1974 e a sua morte, Maria Gabriela Llansol escreveu 76 cadernos manuscritos, numerados, escritos como diários e com a designação genérica de "Livros das Horas". A Assírio & Alvim tem vindo a editar estes cadernos, com selecção, organização de textos, introdução e notas de João Barrento e Maria Etelvina Santos. O novo volume agora editado, "O Sonho É Um Grande Escritor", reúne um número importante de sonhos que foram registados pela escritora nos seus cadernos entre 1969 e 2006, muitos por sugestão do psicanalista que a acompanhou em Lovaina. Além dos textos, esta edição reproduz desenhos da própria Llansol, as capas dos cadernos utilizados e reproduções de ilustrações que são referenciadas na escrita. Muitas vezes, os textos começam com "hoje tive este sonho", que depois é contado - e que pode ser a música que sonhou ouvir, encontros ou percursos imaginados. É um livro perturbante e envolvente. Como Maria Gabriela Llansol escreveu, "se é o sonho que cria o Homem, vou criar o sonho que me cria".

PEIXE NO AREAL

Gosto do mês de Setembro, mais do que de Agosto. A temperatura está mais amena, menos calor, o sol é menos intenso, menos incómodo. E, junto ao mar, há menos gente. Muito menos gente. Isto aplica-se também a restaurantes de praia. Há poucos dias, tive ocasião de comprovar isso mesmo na Praia das Maçãs, num clássico da região, o Neptuno, paredes-meias com o areal. Sala ampla, esplanada protegida do vento. Nestes tempos de pandemia, sobretudo durante a semana, neste caso uma sexta-feira, há menos gente e tudo funciona de modo escorreito. Um cliente habitual disse-me que ainda por cima a sexta-feira é um bom dia para o peixe. Na bancada, havia um pregado com óptimo aspecto, infelizmente grande demais para apenas duas pessoas. A alternativa foi avançar para dois sargos, que vieram bem grelhados, inteiros, sem o truque muitas vezes fatal de serem escalados. Antes disso, tinham sido provados uns belos percebes e uma salada de polvo, ambos muito apreciados. Os vinhos têm preços ajuizados e, no final, o melão cumpriu muito bem o seu papel patriótico num duelo com um abacaxi tropical. O serviço foi atento e simpático, a vista do areal e a da praia são um argumento de muito peso para as coisas correrem bem. O telefone é o 219 291 222.

AS FOTOGRAFIAS DA LUÍSA


Por uma feliz coincidência, neste fim-de-semana, podem ser vistas, em vários locais, imagens de Luísa Ferreira, uma das mais interessantes fotógrafas portuguesas, persistente no trabalho, paciente no olhar. A sua actividade enquanto fotojornalista leva-a a olhar para o dia-a-dia de uma forma muito particular, aliando o espírito crítico à abordagem da realidade. Como ela diz, está sempre a ver o que se passa. Gosta de trabalhar temas durante períodos largos de tempo - por exemplo, o seu projecto académico é uma tese em que segue, através da fotografia, as transformações ocorridas no Porto de Lisboa ao longo de vários anos. Da mesma forma desenvolveu, desde 1994, "Há Quanto Tempo Trabalha Aqui", no qual documenta as pessoas que trabalharam a vida inteira numa loja, dando-lhe vida própria durante décadas. Sábado à tarde, no MAAT, vai falar sobre este seu trabalho, que evidencia o desaparecimento de pessoas e de lugares com história.

A conversa está inserida no ciclo "O Lado B", que decorre paralelamente à exposição "The Peepshow".

Luísa Ferreira estará também presente no Museu da Água, em Lisboa, de 17 a 20 de setembro, com o projecto "Engrácia, a santa passageira", uma exposição promovida pela Associação Portuguesa de Arte Fotográfica, com imagens de João Tuna, Luís Pavão, Rosa Reis, Susana Paiva e, claro, Luísa Ferreira. Ainda no mesmo dia, às 19h00, e para assinalar os 20 anos do laboratório FinePrint (Rua Gonçalves Crespo 6C), o seu fundador, Nuno Soares, juntou vários dos fotógrafos, cujas imagens tem impresso, e faz uma exposição onde também estará uma fotografia de Luísa Ferreira. Por último, na CC11, uma associação cultural constituída por profissionais ligados ao jornalismo visual (Rua do Centro Cultural 11, em Alvalade), Luísa Ferreira apresenta a instalação "Claro e Escuro" (pormenor na imagem), integrada na exposição "Diário de Uma Pandemia" que ali decorre até 31 de Outubro. A instalação de Luísa Ferreira agrupa imagens recolhidas em Lisboa ao longo do confinamento e da pandemia e, nas palavras da própria, é uma metáfora sobre os efeitos na cidade e na nossa vida de tudo o que se tem passado, dos novos lixos produzidos e da falta de respeito pelo ambiente quotidianamente evidenciado nas ruas.

O MUNDO EM QUE VIVEMOS 

Segundo a Fundação Bill e Melinda Gates, o desenvolvimento global regrediu mais de duas décadas devido à pandemia, a pobreza extrema aumentou 7%, a cobertura da vacinação está a cair para níveis dos anos 1990 e os impactos económicos reforçam as desigualdades.


UM OLHAR HUMANO

O ponto de partida de Francisco Timóteo para a sua exposição de estreia, "A Pequenez Humana", é este: "A escala do universo é algo que nos ultrapassa. Não somos realmente capazes de processar a sua imensidão devido à nossa proporcional insignificância." Francisco Timóteo faz parte da nova geração de artistas plásticos, nasceu em 1998, estudou música e pintura em Lisboa, com passagens por Barcelona e Sevilha, tendo participado em exposições colectivas desde 2017. Esta é a sua primeira exposição individual. Num texto sobre a exposição, Raul Pérez sublinha que "a temática do espaço, do infinitamente grande e do infinitamente pequeno", é bem expressa num dos seus quadros (na imagem), que representa um minúsculo homem só, caminhando num imenso bloco de gelo. A "Pequenez Humana" fica até 30 de Outubro na biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, no Campus do Monte da Caparica.  Outras sugestões: na galeria Módulo, inaugurou "Natureza do Gesto", de Tiago Santos (Calçada dos Mestres 34A). Na Galeria Monumental (Campo dos Mártires da Pátria) Pedro Chorão apresenta, até 31 de Outubro, "O Princípio da Paisagem" e na Cisterna (Rua António Maria Cardoso, ao Chiado), pode ser vista a colectiva Contiger, com trabalhos de Ana Fonseca, Bettina Vaz Guimarães, João Távora, Jorge Leal, Liene Bosquê, Maya Weishof, Miguel Santos, Susana Anágua, e Zoë Sua Kay. Na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80, ao Beato), Fernanda Fragateiro apresenta este sábado "A Monotonia É Fixe", até 14 de Novembro. Na Galeria Salgadeiras (Rua da Atalaia 12), Rui Horta Pereira apresenta até 7 de Novembro uma série de desenhos sob o título "A Maioria das Pedras Não Tem Fôlego e etc.".

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