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09 de Agosto de 2019 às 11:31

A greve

Aqui há uns anos, o PCP organizava greves do sector dos transportes com uma localização cirúrgica no tempo, por forma a provocar o maior desgaste possível no executivo em funções

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"Não há expediente a que um homem não recorra para evitar o trabalho que dá pensar"
Thomas Edison

A greve
Aqui há uns anos, o PCP organizava greves do sector dos transportes com uma localização cirúrgica no tempo, por forma a provocar o maior desgaste possível no executivo em funções; uns anos mais tarde, o PS, pela mão de Armando Vara, esteve ligado ao bloqueio da Ponte 25 de Abril, precipitando a queda do cavaquismo. Desta vez, o PS está refém de uma ameaça de greve desencadeada por um sector pouco numeroso mas aguerrido - o dos condutores de transportes de matérias perigosas, que asseguram a distribuição de combustível a postos de abastecimento, aeroportos e outras entidades e serviços. Com a dependência energética em relação aos combustíveis fósseis, a interrupção do seu fornecimento depressa lança o caos nas principais infraestruturas, no transporte de mercadorias e no transporte privado, além de áreas sensíveis como os serviços e veículos de emergência. Acontece que esta greve, conduzida inicialmente por um sindicato de constituição recente, não filiado em nenhuma das centrais sindicais, organizado em torno de uma estratégia negocial jurídica inesperada e planeada, que deu maior protagonismo ao advogado que ao próprio sindicato, dificilmente podia ser assacada a uma força política de forma clara. Sabe-se agora que Pardal Henriques, o advogado em causa, poderá estar na lista do Partido Democrático Republicano, liderado por Marinho Pinto. O Governo, com a cobertura e até incentivo do PR, decretou serviços mínimos muito acima do habitual. A situação criada vai trazer para a ribalta uma questão sensível - até que ponto o direito à greve pode ser restringido, até que ponto uma greve pode ter consequências que podem afectar de forma assinalável o dia a dia dos cidadãos e de actividades económicas como a distribuição alimentar? A resposta a esta questão não é fácil mas, nas sociedades contemporâneas, o desafio do equilíbrio entre direitos e deveres, entre responsabilidade e liberdade, é cada vez maior. Nos próximos anos, neste e noutros sectores, situações como esta vão multiplicar-se e tenho as maiores dúvidas que o sistema político e partidário e as organizações sindicais estejam preparadas para lidar com o caso. A decisão sobre serviços mínimos agora tomada significa, na prática, uma alteração não legislada da Lei da Greve, feita pelo Governo, com o beneplácito do Presidente da República e a complacência das duas centrais sindicais. Já viram o que um sindicato não alinhado desencadeia?

Dixit
A correção da injustiça não se faz com a criação de uma nova injustiça, nem com a destruição de um valor, o da ciência e da cultura.
António Barreto

Semanada

Segundo o presidente da secção regional Sul da Ordem dos Médicos, as maternidades da região de Lisboa e do Sul do país estão todas a funcionar a meio-gás e as grávidas andam a "saltar de hospital em hospital" a passagem das 40 para as 35 horas de trabalho semanais provocou um défice de 1.700 enfermeiros que não foi ainda resolvido nem com as contratações do ano passado nem deste ano, o que prejudica a assistência prestada nos hospitais do SNS segundo a Marktest, as marcas da indústria automóvel foram as que mais apostaram em publicidade durante o primeiro semestre de 2019 fontes oficiais admitem que a venda de combustível subiu 30% na última semana Cristiano Ronaldo manteve-se a personalidade mais mencionada nos "social media", com Cristina Ferreira na 2.ª posição, de acordo com o serviço Social Media Explorer da MediaMonitor Manuel Salgado anunciou que vai deixar de ser vereador na Câmara Municipal de Lisboa e avisou que pretende continuar a ter uma palavra sobre as opções urbanísticas da cidade onde autorizou projetos polémicos um recente relatório indica que o Governo e entidades públicas diversas não cumprem com as suas obrigações de prestar informações ao Parlamento segundo os dados do mais recente Eurobarómetro, os portugueses estão mais pessimistas com a economia um organismo governamental pretendeu fazer um inquérito dirigido a meio milhão de funcionários públicos que, entre outras questões, queria avaliar se as medidas tomadas pelo actual Governo em relação à Função Pública são mais motivadoras que as medidas do Governo anterior. 

Folhear
A revista Scenario, editada seis vezes por ano pelo Copenhagen Institute For Future Studies, apresenta-se como uma publicação dedicada a tendências contemporâneas, visões e especulações sobre o futuro, assim como a ideias que agitam os tempos correntes. Em Lisboa, pode ser encontrada na Under The Cover (Rua Marquês Sá da Bandeira 88, junto à Gulbenkian), e a mais recente edição inclui uma entrevista com Jared Diamond, um biólogo norte-americano, vencedor do Pulitzer, autor de livros como "Colapso", "O Terceiro Chimpanzé" ou "O Mundo Até Ontem". O entrevistado aborda a presente situação mundial, recorda os últimos três séculos de História e as principais crises que afligem o planeta. Jared Diamond coloca no centro da sua análise as alterações climáticas e as pressões migratórias que, na sua opinião, são as questões mais graves que se colocam no futuro à humanidade. Outros artigos interessantes são: um ensaio sobre o que pode ser um futuro onde deixe de existir privacidade e também um outro ensaio sobre uma cidade que se desenvolve em torno de um aeroporto - um tema que devia ser particularmente caro aos lisboetas. A capa é dedicada a Lene Hald, uma investigadora que nos fala sobre a epigenética - uma disciplina que nasce nos anos 1970 e se desenvolve para estudar a forma como os genes de cada um podem ser influenciados. Finalmente, vale a pena ler "Teenage Mutants", um artigo onde se explora como evoluem as atitudes dos "teenagers" nestes tempos mais recentes.

Arco da velha
Em 2018, o Estado devia ter pago 18 milhões de indemnizações, nomeadamente por expropriações ou atrasos na Justiça, mas só pagou sete mil euros.

Ver
Os cartazes de campanha eleitoral deviam sempre ser apelativos, inovadores, provocadores, alcançando uma comunicação eficaz e aumentando a notoriedade das forças políticas que os apresentam. No entanto, não é isso que acontece nos últimos anos na generalidade dos casos onde o cinzentismo se tornou dominante na propaganda política. A excepção é a série de cartazes da Iniciativa Liberal que já começou nas europeias e que agora, na pré-campanha das Legislativas, voltou a criar mensagens que despertam a atenção. Numa resposta irónica à actual campanha do PS, em vez de "cumprimos", lê-se "com primos", em letras garrafais, acompanhado da frase "e outros familiares no Governo", em letras mais pequenas. Abaixo, são indicados três índices que suscitam, de acordo com o partido, as falhas do Governo de Costa. Em vez de "mais emprego" e "menos precariedade", a IL escreve "mais impostos" e "menos serviços públicos". Além disso, em contraponto à propaganda de "mais 350 mil empregos" e "89% de contratos sem termo", a Iniciativa Liberal refere os "539.921 hectares de área ardida em 2017", a morte de "2.600 doentes" em listas de espera em 2016 e os "6 mil milhões de impostos cobrados". Os cartazes da Iniciativa Liberal são da autoria do publicitário Manuel Soares de Oliveira. Quer neste quer em casos anteriores, o grafismo é simples mas eficaz e o seu conteúdo chama a atenção. Estrategicamente colocados em pontos de grande movimento, eles são também utilizados nas redes sociais - por exemplo, sobre a greve dos motoristas de matérias perigosas, a página de Facebook da Iniciativa Liberal publicou uma infografia que se resume a um camião autotanque cuja carga está dividida em blocos coloridos - enquanto os salários dos motoristas representam menos de 10% do preço final dos combustíveis, os impostos cobrados pelo Estado são superiores a 50%. Não é por acaso que uma das bandeiras da Iniciativa Liberal é mobilizar os cidadãos para combaterem a opressão fiscal do Estado.

Ouvir
Querem ouvir uma coisa diferente dos tops actuais e das sonoridades que passam pela centena e meia de festivais que se realizam no Verão em Portugal? Aqui têm uma sugestão: Skurk é o nome de um grupo coral norueguês, de 40 vozes, fundado em 1973 e que ao longo da sua existência já gravou mais de 25 álbuns, centrados na música folclórica da Noruega, em espirituais, world music e em clássicos do jazz. Tem colaborado com muitos músicos, nomeadamente com Tord Gustavsen, um pianista de jazz e compositor, também ele norueguês, que se tornou conhecido por um conjunto de discos lançados na primeira década deste século pela editora ECM. Agora, na mesma editora, foi publicado um disco co-assinado pelo grupo coral Skurk, por Tord Gustavsen e pelo baterista Rune Arnesen, sob o título "Taking Back In The Garden Of Eden", que inclui 12 temas, todos compostos por Kirsti Dahl Johansen, com arranjos de Gustavsen e sob direcção musical do fundador dos Skurk, Per Oddvar Hildre. A gravação decorreu numa igreja em Oslo e o disco, de uma simplicidade e beleza raras, desenvolve-se num ambiente sonoro entre o misticismo e celebrações litúrgicas. Disponível no Spotify.

Provar
Encontrar um local sossegado para jantar no Algarve nesta época do ano é uma tarefa quase impossível. Por puro acaso, fui ter a um restaurante de um aldeamento turístico em Cabanas de Tavira - o aldeamento chama-se Quinta Velha, o restaurante chama-se DaBoca e a sua lista foi criada por Paulo Runa (que também dirige o Sabores da Ria, na marginal de Cabanas). Embora não seja um grande apreciador de menus de degustação, deixei-me tentar pela Mixórdia do Mar e fiquei bem agradado. A sua composição é variável conforme a oferta do mercado e, no dia em que lá fui, tive direito a navalheiras e ostras muito frescas, um brás de espargos, uma açorda de ovas de bacalhau com camarão e um belíssimo lombo de robalo acompanhado de um risotto de coentros e amêijoas. A rematar, uma torta de laranja genuína. A lista de vinhos é razoável, mas o vinho da casa, D. Xisto, seleccionado pelo "chef", é uma boa escolha - quer no branco, quer no tinto. E, acima de tudo, este é um local sossegado com uma esplanada sem carros nem multidões por perto. Telefone 281 381 078.

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