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09 de Abril de 2021 às 11:32

Lá vai Lisboa

As eleições autárquicas são aquelas em que os eleitores se podem sentir mais próximos dos eleitos e, teoricamente, a governação feita nas autarquias, mais do que qualquer outra, deveria ter em consideração os desejos das pessoas e a existência de uma relação de proximidade.

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"É mais fácil lutar por princípios do que viver de acordo com eles"
Alfred Adler, fundador da psicologia do desenvolvimento individual

Lá vai Lisboa
As eleições autárquicas são aquelas em que os eleitores se podem sentir mais próximos dos eleitos e, teoricamente, a governação feita nas autarquias, mais do que qualquer outra, deveria ter em consideração os desejos das pessoas e a existência de uma relação de proximidade. Lisboa é um caso gritante de abuso dos Paços de Concelho, que só não se revela pior graças à acção de várias juntas de freguesia que se preocupam, essas sim, com o bem-estar das pessoas que lá vivem. Peguemos, por exemplo, na modernização administrativa. É inegável que a nível da administração central as coisas estão mais fáceis e fluidas e diminuiu, em muitas áreas, a burocracia. No entanto, numa cidade como Lisboa, é o contrário que acontece: a burocracia parece que aumenta a cada passo e, apesar de muitas promessas de Fernando Medina, o licenciamento de obras continua a ser uma lotaria, as demoras são insuportáveis, os critérios não são uniformes. Em algumas áreas, os serviços centrais da autarquia servem para sustentar o poder e não para servir os cidadãos - e essa é uma das maiores falhas da gestão de Medina. Pior ainda, com o argumento de contornar a burocracia, a substituição de eleitos por nomeados - concentrando demasiadas funções e decisões em entidades como as Sociedades de Reabilitação Urbana, a EMEL ou a EGEAC, que aumentaram poderes, competências, gerando uma falta de controlo nos últimos anos. Elas não são escrutinadas pelos eleitores, apenas pelos responsáveis políticos que as nomeiam. E hoje em dia poucos são os que não reconhecem que a gestão de Medina trabalhou mais para fazer uma cidade virada para fora e para quem a visita do que para dentro e para quem cá vive. Nada disto - decisões tomadas por não eleitos, aumentos de taxas, decisões contra os interesses locais de munícipes - foi a votos nas anteriores eleições. Mas é bom que, nas próximas autárquicas, quem concorrer diga ao que vem.

Semanada

n Três antigos assessores presidenciais, de diferentes quadrantes políticos, criticaram a decisão política de Marcelo Rebelo de Sousa no caso da lei dos apoios sociais n João Ferreira, do PCP, que tem sido o candidato indicado pelo seu partido para vários cargos, está a iniciar a sua sexta campanha eleitoral nos últimos oito anos n segundo associações empresariais do sector do calçado, em 2020, houve uma quebra de venda de cinco mil milhões de pares de sapatos a nível mundial n um estudo realizado pelo Sexlab, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, concluiu que quase metade dos inquiridos (47%) fizeram menos sexo durante a pandemia e 40% deram conta de uma diminuição da satisfação sexual durante o mesmo período n em 2020, segundo a APAV, por dia, 23 mulheres, quatro homens, cinco crianças e quatro idosos foram vítimas de violência doméstica n desde o início da pandemia, mais de 116 mil pessoas foram já empurradas para o desemprego e o segundo confinamento agravou o desemprego em 78% dos concelhos do país n o Relatório Anual de Segurança Interna relativo a 2020 indica que a ciberespionagem cresceu no ano passado em Portugal – China e Rússia estão entre os países suspeitos n mais de metade (54%) dos portugueses ficaram em casa desde sexta-feira até domingo de Páscoa, uma diminuição em relação a 2020, quando 74% dos portugueses respeitaram o dever de confinamento n por causa da pandemia, houve uma diminuição de 21% de transplantes de órgãos em 2020 e mais 24 pessoas morreram no ano passado enquanto aguardavam um transplante. 

Dixit
"A maior e mais triste lição que podemos retirar da actual pandemia, desde o seu início, é a forma abjecta como os seres humanos são capazes de desprezar os seus semelhantes."
António Araújo, jurista e historiador

Teoria política
"O que acontece à política e às suas instituições específicas quando o ambiente tecnológico se altera desta maneira? Que transformações políticas associamos à robotização, à digitalização e à automatização?" Estas são algumas das muitas perguntas a que "Uma Teoria da Democracia Complexa", o novo livro de Daniel Innerarity, vai respondendo, com hipóteses e raciocínios. Innerarity foi considerado pela revista Le Nouvel Observateur como um dos 25 pensadores mais influentes da atualidade e nesta obra, agora editada em Portugal e que esgotou no espaço de dois dias em Espanha, o filósofo e investigador defende que a grande ameaça à democracia moderna é a simplicidade dos conceitos políticos que tomámos de empréstimo, ignorando a complexidade crescente em que a nossa organização social se desenvolveu. O autor sublinha que já não se trata de enfrentar os desafios dos séculos XIX e XX, mas sim os do século XXI. Dividido em três grandes capítulos, "A Compreensão da Complexidade", "O Governo das Sociedades Complexas" e "Democratizar a Democracia", este ensaio aborda questões como a representatividade actual dos sistemas democráticos, o comportamento das várias gerações na política e a democracia digital, entre outros. No fim do livro, citando Ulrich Beck, Daniel Innerarity sublinha que "a política não morreu, apenas emigrou dos clássicos espaços nacionais delimitados para os cenários mundiais interdependentes". Daniel Innerarity é catedrático de Filosofia Política e Social na Universidade do País Basco e diretor do Instituto de Gobernanza Democratica.

Molder em cinco séries de épocas diferentes
Esta foi a semana de abertura de museus e galerias. Até 3 de Outubro poderá ver, no mezanino da Biblioteca de Serralves, uma seleção de fotografias de Jorge Molder feita a partir do vasto conjunto de obras do artista que fazem parte do acervo da Fundação. São apresentadas fotografias das séries "T. V." (1995), "La Reine vous salue" (2001), "Tangram" (2004/08), "Call for Papers" (2013) e ainda "Zizi" (2013). O trabalho de Molder é conhecido sobretudo pelas suas fotografias a preto e branco, em que o artista se autofotografa (apenas o rosto, corpo inteiro ou as mãos) vestindo habitualmente fato escuro e camisa branca, ideia que é contrariada pelas duas séries mais recentes. As referências provenientes da literatura, do cinema, da música ou da história da arte, bem como o quotidiano, a vida e a sua natureza incerta e imprevisível, são fundamentais na sua obra, na medida em que podem constituir o ponto a partir do qual se pode derivar e construir algo. Como a exposição tem lugar na Biblioteca, a mostra é complementada com um conjunto de referências bibliográficas (importantes para o artista) disponíveis para consulta e com a apresentação de alguns dos seus livros e catálogos de exposições. A curadoria é de Isabel Braga. A fotografia aqui reproduzida, do cartaz da exposição, é da série "Tangram". Ainda em Serralves permanece até final de Junho a exposição dedicada ao trabalho de fotografia do cineasta Manoel de Oliveira. E, ainda no Porto e na fotografia, destaque também para a Galeria Salut Au Monde (R. Santos Pousada 620), onde até 8 de Maio poderá ser visto o novo trabalho de Tito Mouraz, "Mergulho", uma coleção de fotografias instantâneas que tem como ponto de partida as paisagens açorianas.

Arco da velha
Vários dias depois do início da venda de testes rápidos em farmácias, os formulários para reportar os resultados desses autotestes não estavam disponíveis.

Canções americanas
Durante muito tempo torci o nariz à música country. Era um preconceito, reconheço, descabido ainda por cima. Os programas de rádio que Jaime Fernandes fez durante vários anos espicaçaram-me a curiosidade para querer saber mais. Um dos nomes que descobri neste percurso foi o de Loretta Lynn, que está a fazer 89 anos e tem uma carreira de seis décadas. Em 2002, publicou um livro com as suas memórias, "Still Woman Enough", e agora lançou um álbum com o mesmo nome, o seu 50.º em estúdio, que revisita a sua carreira através de novas gravações de standards da country music, de êxitos seus e de um original (que dá o título ao álbum e que é a faixa de abertura, na qual é acompanhada por duas convidadas de peso: Reba McEntire e Carrie Underwood. A canção - e o disco - relata a carreira e a vida de Loretta Lynn desde o Kentucky até se tornar num dos grandes nomes da música popular americana. O álbum é co-produzido por John Carter Cash e pela filha de Loretta, Patsy Lynn Russell, e nas suas 13 faixas encontramos interpretações de êxitos da Carter Family e de Hank Williams, além de originais e êxitos popularizados por outros nomes da country. Os arranjos são simples, deixando espaço à voz de Loretta Lynn, como aliás se pode ver em "I Saw The Light", um tema de Hank Williams, ou em "Keep On The Sunny Side" e "I’ll Be All Smiles Tonight", da Carter Family, privilegiando instrumentos acústicos. Já na versão do clássico "Honky Tonk Girl", Loretta faz-se acompanhar por vários músicos, no tema que mais se aproxima do som de Nashville. "I know how to love, lose, and survive," canta Lynn em "Still Woman Enough", e dificilmente uma canção poderia resumir melhor uma vida como a sua.

Pão à antiga
Há um novo mercadinho que acontece às terças-feiras em Campolide, no largo de onde agora sai o eléctrico 24. Aí, além de legumes e fruta do produtor, existe uma banca de pães que chama a atenção - o Pão do João. O João, na realidade, é Johannes Rued, um alemão que há alguns anos veio viver para Portugal e se instalou em Torres Vedras, onde faz pão feito à mão, à moda antiga, com massa mãe e com os componentes básicos: farinha, água e sal. Nalgumas variedades que foi criando, incorpora frutos secos, sementes ou legumes. É sempre um produto inteiramente puro e sustentável, com ingredientes 100% portugueses. O Pão do João entrega ao domicílio em Torres Vedras, mediante contacto através das suas páginas de Facebook e Instagram. Em Lisboa, aparece às terças em Campolide e ao sábado no mercado da Quinta das Conchas. Há pão integral de milho e de trigo barbela e pão foco de trigo e centeio, além de pão integral de centeio com sementes de girassol, vendidos em porções de quilo ou meio quilo. A experiência da semana foi feita com o pão de trigo barbela que, levemente torrado e devidamente untado de manteiga dos Açores, se revelou uma grande companhia de pequeno-almoço.
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