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14 de Dezembro de 2018 às 10:21

Pela boca morre o peixe

Em Portugal não temos manifestações de multidões vestidas com coletes amarelos e não é por falta de razões: estamos num país onde, qualquer dia, em vez de comboios voltaremos a ter carroças, onde em vez de cacilheiros se utilizarão jangadas

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Nunca devemos interromper o inimigo quando ele está a cometer um erro.
Napoleão Bonaparte

Pela boca morre o peixe
Em Portugal não temos manifestações de multidões vestidas com coletes amarelos e não é por falta de razões: estamos num país onde, qualquer dia, em vez de comboios voltaremos a ter carroças, onde em vez de cacilheiros se utilizarão jangadas, um país onde médicos do maior hospital pediátrico se demitem por falta de condições, onde um porto marítimo fulcral para a economia continua a suicidar-se, onde as greves em serviços essenciais começam a ser mesmo preocupantes. Temos, no entanto, um sistema perfeito de vasos comunicantes, bem exemplificado no Orçamento do Estado que acabou de ser aprovado pela frente de esquerda: aumentam-se os gastos do Estado com os seus funcionários, graças ao dinheiro extra que vem da carga fiscal directa e indirecta. A sociedade portuguesa está a criar um funil em que a boca é larga para cobrar, mas o tubo de saída é estreito: o que fica de fora do funil são os serviços que o Estado devia assegurar e que são a razão de ser dos impostos. Por aqui, continua tudo trocado: os recursos gastam-se para ganhar sossego político em vez de ser para suprir necessidades da população. Na Assembleia, deputados vigarizam o livro de presenças e votações, no Ministério das Finanças, um quadro superior protegido por Centeno está sob suspeita de fechar os olhos a irregularidades. Noutros tempos dir-se-ia que pela boca morre o peixe. Mas começa a ser perigoso usar provérbios destes graças a uns cómicos que acham que falar assim pode ser ofensivo para os animaizinhos e consideram que o tema deve ser debatido no Parlamento. Depois queixam-se que a Assembleia da República tem má imagem.

Dixit
"Não podemos ir além do limite, sob pena de que PSD e CDS se fiquem a rir de nós e digam que tinham razão."
António Costa
no Parlamento, sobre o Orçamento do Estado para 2019

Semanada
Até ao final deste ano, há 47 pré-avisos de greves em 11 áreas da Administração Pública, desde a justiça aos hospitais, passando pela inspecção das pescas a percentagem de cesarianas realizadas nos hospitais privados é mais do dobro da realizada no Serviço Nacional de Saúde; entre 1 de novembro de 2017 e 31 de Outubro de 2018, o Ministério Público instaurou 3.423 inquéritos relativos a crimes de corrupção e crimes conexos em Outubro, segundo a Marktest, o site noticioso com maior alcance foi o do Correio da Manhã, com cerca de 2,5 milhões de visitantes segundo o Conselho das Finanças Públicas, os gastos das famílias portuguesas com a saúde estão acima da média da OCDE; 1.684 euros é o valor que em média cada português gastou em cuidados de saúde em 2017 segundo o Ministério do Ambiente, nos últimos dois anos, apenas foi retirado amianto em 90 dos 1.400 edifícios públicos que estão no plano de remoção daquela substância potencialmente cancerígena  em duas semanas de greve dos enfermeiros prevê-se o adiamento de cerca de 4.500 cirurgias Maria Begonha continua candidata à liderança da Juventude Socialista, apesar de ter prestado declarações falsas sobre o seu currículo e da polémica em torno dos contratos que celebrou com autarquias do PS, no valor de cerca de 140 mil euros.

A poesia impressa
Eugénia de Vasconcellos começou a publicar poesia em 2005, com "A Casa da Compaixão", e desde então tem escrito ensaios como "Cultura Light" ou "Camas Politicamente Incorrectas da Sexualidade Contemporânea", contos como "Do Banco Ao Negro" e poesia como "O Quotidiano a Secar em Verso" - que João Mário Silva descreveu como "um meteorito que cruzou o céu da poesia portuguesa". Está traduzida em catalão, alemão, sérvio e romeno. Nascida no final dos anos 60, em Faro, Eugénia Vasconcellos elege como poetas favoritos Camões, Walt Whitman e Herberto Helder. O seu novo livro, "Sete Degraus Sempre A Descer", percorre etapas do amor, da descoberta à desilusão, do encontro à despedida, entre dúvidas e desejos. Como Eugénia de Vasconcellos escreve logo no primeiro poema do seu novo livro, "A poesia não é coisa das páginas dos livros -/ não se faz na tipografia./ Ainda que seja nas páginas dos livros que/se fixa depois de a tipografia lhe dar um corpo de papel -/ é sempre de amor que se faz um corpo,/ é por amor que um corpo se dá./A poesia é da vida. É de quem tem."

O paradoxo contemporâneo
A Galeria Cristina Guerra Contemporary Art exibe, até 4 de Janeiro, uma exposição que reúne 42 obras de arte contemporânea de artistas portugueses e estrangeiros - de Julião Sarmento a John Baldessari, passando por Horácio Frutuoso, Vasco Araújo ou Joseph Kosuth, Ed Ruscha ou Matt Mullican, entre muitos outros. As obras têm proveniências diversas, nomeadamente de colecções particulares e do acervo da própria Galeria, e foram agrupadas por Alexandre Melo sob o título "1000 imagens - uma imagem vale mais que mil palavras". Existe um ponto comum entre muitas das obras, que é a utilização da palavra escrita, seja de forma isolada, seja numa frase. No texto que acompanha a exposição, Alexandre Melo sublinha que "a presença das palavras no contexto criativo das artes plásticas é marcante nas vanguardas históricas do início do século XX" para depois esclarecer que o critério de curadoria da exposição foi apresentar "uma grande diversidade de obras realizadas por autores que, cada um segundo a sua sensibilidade e no âmbito da sua linha de pesquisa, deram um lugar de destaque às palavras, e assim nos dão, a nós próprios, a possibilidade de pensar e decidir qual o valor e a atenção que queremos, ou não, continuar a conceder às palavras". Esta reflexão está enquadrada numa época em que as imagens se banalizaram e a sua utilização se globalizou e multiplicou - e por isso este confronto das palavras com a imagem se torna interessante. Mas, ao mesmo tempo, a montagem da exposição evidencia um paradoxo que por vezes se torna repetitivo na arte contemporânea - e que passa por viver de uma teoria e da sua sublimação, mais do que de uma emoção ou de um acto de comunicação. Evidenciar este paradoxo é a marca destas "1000 imagens".

Bolsa de valores
Claudia Fischer expõe na Galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho, 71, RC, Esq ) a obra Spatien #8, 2018, impressão sobre papel, edição 1/3 emoldurada, com a dimensão 26x73 cm, por 750 euros (IVA de arte incluído).

Arco da velha
O inspector-geral das Finanças, que integra o Conselho de Prevenção da Corrupção, é suspeito num processo em que se investigam corrupção, peculato e abuso de poder.

Uma estrela no fado
Carminho está a fazer um dos mais interessantes percursos artísticos entre as fadistas da sua geração e mistura o fado que conviveu com ela toda a vida (a mãe é a fadista Teresa Siqueira) com outros géneros musicais, nomeadamente a música brasileira. Sinal disso é ter já gravado nos seus quatro discos anteriores duetos com Chico Buarque, Milton Nascimento, Marisa Monte e Nana Caymmi. O seu quarto disco é aliás inteiramente dedicado à obra de Tom Jobim e é, também, uma prova da versatilidade da sua interpretação. "Maria", agora editado, é o seu quinto álbum e marca um regresso ao território musical de origem - o fado. Carminho envolveu-se mais do que é costume na produção e escreveu várias das canções que interpreta naquele que parece ser o disco mais pessoal da sua carreira. A concepção dos arranjos e a escolha de instrumentos (desde a tradicional guitarra de fado à guitarra eléctrica) mostra que a ousadia de Carminho não se manifesta só na sua forma de cantar, mas também na abordagem musical que concretiza. A guitarra portuguesa esteve a cargo de Bernardo Couto, José Manuel Neto e Luís Guerreiro, a viola de fado é de Flávio César Cardoso, no baixo acústico esteve José Marino de Freitas, no piano João Paulo Esteves da Silva e, na guitarra eléctrica, Filipe Cunha Monteiro - aliás, Carminho também toca guitarra eléctrica no tema "Estrela", por sinal um dos melhores do disco. É muito interessante o contraste que Carminho consegue criar entre as suas composições originais (nomeadamente "Mulher Vento" e "Estrela"), a interpretação de clássicos (como "O Começo", de Pedro Homem de Mello e Acácio Gomes), tradicionais (como "Sete Saias" de Artur Ribeiro) ou a abordagem "As Rosas" (de Joana Espadinha). CD Warner.

Sabores libaneses
A zona do Príncipe Real levanta-me a maior reserva em termos de restaurantes. Não tenho tido boas experiências, sobretudo no atendimento que parece penalizar quem não é turista. Mas, recentemente, tive uma boa surpresa num novo espaço que nasceu num local onde antes existia um desses restaurantes, no caso, o Prego da Peixaria. O Sumaya - Mesa Libanesa tem um acolhimento simpático, um serviço atencioso e os empregados sabem explicar o que é cada prato, deixando os clientes decidirem por si. Há combinados que juntam várias especialidades ou pode seguir-se o menu e ir pedindo. A comida libanesa apela à partilha de petiscos (mezze), portanto, a ideia é pedir várias coisas e ir partilhando e saltando de uma para outra. Veja na lista os mezze frios e quentes, pegue no pão achatado que lhe põem na mesa e vá fazendo experiências. Numa recente visita, a escolha recaiu sobre Labneh (iogurte com tomilho, azeitonas e hortelã), Baba Ghanouj (uma pasta de beringela com tahini, limão e romã), Fatayer (empadas de espinafre com limão e azeite) e Makanek (salsichas caseiras cozinhadas num molho de romã com pinhões). Há vinhos libaneses, mas também portugueses e, na circunstância, optou-se por um Catarina a copo. A sobremesa vai variando todos os dias, mas na altura veio um Mouhalabieh, uma espécie de panna cotta libanesa, que leva pistácios aos pedaços e fez um bom contraste de sabores com o resto da refeição. Sumaya - Mesa Libanesa - 213 470 351, reservas@sumaya.pt, Rua da Escola Politécnica 140.

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