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02 de Março de 2018 às 10:13

A esquina do Rio

Quando me recordo do que se tem passado nas últimas semanas no domínio das restrições exercidas sobre obras de arte, das clássicas às contemporâneas, fico inquieto.

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"Os políticos são a mesma coisa por todo o lado: prometem uma ponte onde nem sequer há um rio."
Nikita Khrushchev

Inquietudes
Quando me recordo do que se tem passado nas últimas semanas no domínio das restrições exercidas sobre obras de arte, das clássicas às contemporâneas, fico inquieto. Com base em diversos pretextos, quadros clássicos são retirados de exposição em museus prestigiados invocando razões morais. Imagens com conteúdos sexuais, mas há muito aceites como expressão artística, são amaldiçoadas, fotografias de alguns dos grandes fotógrafos do século XX são denegridas por mostrarem o corpo humano, e, sobretudo na moda, acusadas de o explorarem. Esta voragem puritana está a viver num crescendo perante a indiferença daqueles que habitualmente se rebelam contra a limitação das formas de expressão e que agora se mostram silenciosos, em nome de uma nova forma de correcção política que só tem paralelo nos tempos da inquisição e do fanatismo religioso. Ao mesmo tempo, obras que têm mais de carácter provocatório do que de arte foram retiradas da ARCO em Madrid, dando uma notoriedade ao autor de "Presos políticos na Espanha contemporânea" que a sua obra artisticamente não merecia de todo. Já aqui o coro dos habituais protestos se fez ouvir, num ruidoso contraste com o silêncio noutras ocasiões. Mas, como Manuel Villaverde Cabral bem fez assinalar, nota-se cada vez mais a "rasteira manifestação das ideologias partidárias que se imiscuem de forma cada vez mais deletéria no mundo da criação artística". Parece que estamos a remar para trás, dizem-me aqui ao ouvido. E é verdade.

Semanada
 Em Portugal, registam-se cinco queixas de plágio por semana  em 2016, a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos recebeu cinco mil queixas, a maioria sobre erros de leitura, facturação e cobrança da água  mais de 200 mil jovens portugueses até aos 25 anos não têm qualquer ocupação, não estudam nem trabalham  as dívidas por pagar na área da saúde cresceram 112 milhões de euros em apenas um mês  a Inspecção-geral da Saúde detectou hospitais que contratam médicos ilegalmente; a falta de especialistas médicos e terapeutas ditou o encerramento de 68 camas em unidades de reabilitação  uma instituição europeia acusa Portugal de manter detidos em condições desumanas  os pedidos de asilo a Portugal atingiram em 2017 cerca de 2000, um número recorde  foram realizados 11 inquéritos sobre violação do segredo de justiça entre 2014 e 2017  peculato e corrupção são os crimes mais frequentes entre os 405 funcionários públicos condenados por ilegalidades em 2017  no ano passado, o número de mulheres designadas para cargos de direcção superior da Administração Pública foi pela primeira vez maior do que o número de homens: 12 mulheres para oito homens; segundo a Marktest, há cerca de 4,7 milhões de portugueses que ouvem rádio - a maioria ouve no carro, um terço ouve em casa e cerca de 15% ouve no local de trabalho  em 2017, os diários generalistas venderam menos 15.831 exemplares por dia e fecharam o ano com uma quebra de circulação de 9%. 

Dixit
"A política é uma actividade altamente lucrativa (...). Dá rendimento, nome e influência. Os partidos devem pagar impostos como toda a gente e como as empresas. E o Estado deve financiar pouco."
António Barreto

Folhear
Raymond Aron foi filósofo, jornalista, professor e politólogo. Nasceu em 1905, morreu em 1983 e as suas memórias constituem uma visita aos principais momentos e ideias do século passado. Já era bem conhecido quando ganhou acrescida notoriedade com "O Ópio dos Intelectuais", uma crítica a Sartre, ao marxismo e à intelectualidade francesa. Simultaneamente, é uma crítica ao pensamento unilateral da esquerda e à sua complacência face à repressão existente nos regimes comunistas - por acaso, uma obra que volta a ganhar oportunidade com a sanha politicamente correcta que por aí cresce. As suas "Memórias" são uma reflexão sobre um século de grandes mudanças, desde a ascensão do nazismo à expansão do ideal comunista no pós-Guerra, passando pela a análise da Guerra Fria, as guerras do Vietname e da Argélia, a descolonização francesa e a sua opinião sobre qual foi a verdadeira dimensão do Maio de 68. No fundo, estas suas "Memórias" percorrem as ideias mais salientes da sua época: o marxismo, o liberalismo e o existencialismo. Foi colega de universidade de Sartre e conviveu com personalidades como Charles de Gaulle, André Malraux, Henry Kissinger ou Giscard D'Estaing e neste livro traça retratos destas figuras. Para quem gosta de ler sobre as ideias e políticas que moldaram o século XX, as "Memórias" de Raymond Aron acabaram de ser reeditadas, 35 anos depois da sua publicação original, pela Guerra & Paz, na sua colecção Grandes Livros, com tradução de Susana Serrão. 

Gosto
Vhils, aliás Alexandre Farto, tem uma exposição na Galeria Over The Influence em Los Angeles, cuja inauguração foi um êxito de público.

Não gosto
A CP vai vender para sucata locomotivas a vapor raríssimas do início do século XX. Diz não ter condições para as conservar nem recuperar. 

Ver
João Miguel Barros, um advogado que vive entre Macau e Lisboa, tem já um percurso longo ligado à fotografia. Expõe agora "Photo-Metragens", uma colecção de 14 pequenas histórias fotográficas para ver "como quem lê um livro de contos", segundo as palavras do próprio. A exposição, que resultou num livro-catálogo de grande formato, a preto e branco, arranca com "Sentido Único" nos viadutos de Xangai, para nos levar numa viagem que salta entre Lisboa, Banguecoque, a praia dos Salgados, Paris ou Hong Kong. Há visões nocturnas, marés vivas, pontes mágicas e alucinações nesta exposição pensada (e escrita) por João Miguel Barros, patente até 3 de Junho no Museu Berardo. Em simultâneo, promoveu na Galeria 8, no palacete da Fidelidade no Chiado, uma exposição do fotógrafo chinês Yang Yankang, intitulada "O Espelho da Alma". Tem por tema o Budismo Tibetano e mostra, até 4 de Maio, 40 fotografias centradas na espiritualidade do Tibete. Num outro registo, uma das melhores fotógrafas portuguesas, Luísa Ferreira, mostra até 30 de Março no Museu das Vítimas da Inquisição, na Igreja de Santa Maria da Várzea, em Alenquer, o seu mais recente trabalho, "Ao encontro de Damião de Goes, para José Mariano Gago". As imagens são um testemunho da derradeira investigação do antigo ministro da Ciência e Tecnologia, dedicada ao humanista português do século XVI: pouco antes da sua morte, em 2015, Mariano Gago convidou Luísa Ferreira para que o acompanhasse a Alenquer, terra natal de Damião de Goes, e aí recolhesse imagens do universo associado ao historiador.  

Arco da velha
O mesmo Governo que estabeleceu prazos muito apertados para a limpeza das matas anunciou em Outubro que iria participar na gestão do SIRESP e, quatro meses passados, não deu passos concretos nesse sentido nem cumpriu o seu próprio calendário. 

Ouvir
Pouca gente se recordará que Laurie Anderson foi a única pessoa que trabalhou como  artista residente para a NASA, no início deste século. Anderson é uma artista visual, realizadora de filmes, autora e intérprete musical e, na sua colaboração com a NASA, trabalhou com o Kronos Quartet, um grupo de cordas contemporâneo, originário de São Francisco, também colaborador pontual da agência espacial, e ambos construíram uma peça intitulada "The End Of The Moon". Quer Laurie Anderson quer os músicos do Kronos Quartet têm em comum uma atracção por pensar o futuro e observar de forma crítica o presente. Este "Landfall" começou por ser uma performance executada ao vivo numa digressão até chegar a este ponto - um CD que reúne 30 canções, compostas por Laurie Anderson, uma boa parte delas a evocar o furacão Sandy, com o objectivo de mostrar como a memória humana pode ser mais forte do que a destruição provocada pela catástrofe. A combinação da voz de Anderson com as sonoridades do Kronos Quartet produz um resultado marcante. "Landfall", Laurie Anderson & Kronos Quartet, CD Nonesuch/Warner, disponível em Portugal. 

Provar
O pho é um dos pratos mais conhecidos da gastronomia vietnamita e consta de um caldo com noodles, vegetais e carne cortada aos pedaços de vaca ou frango. Como sou fã de sites de receitas, dei há pouco tempo com o www.nutricaocompanhia.com, em que a nutricionista Cláudia Cunha propõe um Pho à portuguesa, completamente vegetariano. Os ingredientes, para uma dose individual, são 200 gr de legumes congelados (feijão-verde, curgete, cebola, cenoura parisiense, cogumelos e brócolos), um novelo de noodles de arroz, um ovo cozido por sete minutos e coentros. O processo é simples: quando os legumes estiverem quase cozidos em água, acrescentam-se os noodles que, ao fim de dois ou três minutos, estão no ponto e reservam-se legumes e noodles. Depois tempera-se essa água (que vai ser o caldo) com azeite, vinagre de vinho branco e sal. Numa taça mistura-se tudo e coloca-se o caldo a gosto. Acrescenta-se o ovo que já foi cozido previamente durante sete minutos, partido ao meio e, para finalizar, colocam-se pedaços de coentros. É uma boa alternativa para as noites frias deste Inverno. Cláudia Cunha é autora de um livro intitulado "Doce Veneno - Plano Detox de 21 dias para se livrar do açúcar" e tem o canal www.youtube.com/nutricaocompanhia onde vai publicando filmes com as suas receitas e conselhos. 


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