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Manuel Falcão - Jornalista 18 de Novembro de 2016 às 10:04

A esquina do Rio

Quando olho para a política portuguesa e para a relação dos seus vários actores com a Europa e o Mundo, fico a pensar que tudo se resume a isto: um dos lados gosta de alimentar utopias e é pouco avesso às realidades, enquanto que o outro se apresenta sistematicamente conformista e sobrevaloriza exigências externas.

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O desporto não constrói o carácter das pessoas, apenas o revela.
Heywood Broun

Europa
Quando olho para a política portuguesa e para a relação dos seus vários actores com a Europa e o Mundo, fico a pensar que tudo se resume a isto: um dos lados gosta de alimentar utopias e é pouco avesso às realidades, enquanto que o outro se apresenta sistematicamente conformista e sobrevaloriza exigências externas. O problema não é de agora - desde a adesão à União Europeia criou-se o mito do aluno exemplar, sempre obediente. Foi assim que enquanto outros países, como a Espanha, foram protelando ou mesmo evitando acabar com o proteccionismo a actividades económicas nacionais, Portugal foi rápido a cumprir ordens, com manifesto prejuízo para a agricultura, a pesca e a indústria. Sabe-se hoje que a França, especialista em proteger a sua agricultura e indústria, violou sistematicamente os compromissos que assumiu, com a complacência de outros Estados. Na realidade o que existe é uma Europa a duas velocidades, o que criou em cada um dos Estados membros níveis diferentes de obediência a Bruxelas. O poder da burocracia comunitária é sempre rápido a querer mais dos cumpridores e tolerante para com os prevaricadores. Quando as coisas funcionam assim o resultado não pode ser bom. Está à vista de todos a fraqueza da Europa nos dias que correm.

Dixit
Gosto dos números, mas fico preocupado porque vejo que são sustentados no turismo e isso é um risco.
João Duque
Sobre o crescimento da economia portuguesa

Semanada
 Este ano o emprego precário na administração pública aumentou 9,6%  a economia portuguesa cresceu 1,6% no terceiro trimestre deste ano e o turismo teve um peso relevante nesse crescimento  a concessão de crédito ao consumo voltou a aumentar em setembro, atingindo 514 milhões de euros, o valor mensal mais elevado desde 2013  um estudo recente revela que metade dos portugueses considera a corrupção um dos maiores problemas do país  o fisco deu ordens para acelerar a cobrança de impostos em falta  devido aos impostos a gasolina portuguesa é a sexta mais cara da Europa  os depósitos acima dos 100 mil euros caíram 3400 milhões de euros nos últimos 12 meses  o custo dos cartões multibanco disparou 30% num ano  está prevista a abertura de mais trinta hotéis em Portugal durante 2017  as autoridades policiais portuguesas registam 26 queixas por dia de burlas na internet  as burlas informáticas quadruplicaram nos últimos cinco anos  há 150 mil pessoas com deficiência auditiva profunda que têm dificuldades no acesso a serviços públicos  segundo a Marktest 76,8% dos lares portugueses subscrevem serviços em pacote de telefone, internet e televisão.

Ver
No fim de semana passado rumei a S. João da Madeira para a Oliva Creative Factory, um espaço que ocupa as antigas instalações industriais da Oliva. Ali, por obra do município local, nasceu um espaço que acolhe diversas artes e algum comércio na área do design e do artesanato contemporâneo. A Oliva Creative Factory tem vários espaços e recebeu, por exemplo, a colecção de Treger/Saint Silvestre, um casal de franceses que escolheram o local para depositarem o seu acervo, com núcleos de arte bruta, artes marginais e arte contemporânea e ainda núcleos de vocação etnográfica, num conjunto de dimensão importante a nível internacional. Mas, o que ali me levou, foi uma instalação de José Barrias, um artista plástico português que vive em Milão, e que deu um novo sentido à antiga sala dos fornos, induzindo na arquitectura industrial arruinada a componente majestática de uma catedral imaginada, usando as cores como símbolos, num exercício de transfiguração do espaço e do tempo. Rumando mais a norte, ao Porto, fui ver o que Pedro Calapez levou à Galeria Fernando Santos. Calapez apresenta obras novas (na imagem), sob o título genérico "Configurações", introduzindo peças que exploram várias dimensões e perspectivas, com planos diferenciados, e que, pontualmente, revelam a reintrodução do desenho na sua pintura com algumas técnicas novas. A exposição está na Rua Miguel Bombarda 526 até 7 de Janeiro.

Gosto
Do trabalho que Marco Martins fez com o texto de Jean Genet, "As Criadas", no D. Maria II. Boas interpretações de Luísa Cruz, Beatriz Batarda e, sobretudo, Sara Carinhas. Até 18 de Dezembro. 

Não gosto
Das demoras da justiça nos casos em que o Fisco abusa dos cidadãos e da forma como o abuso de poder do Estado é protegido - e nenhum dos partidos do arco da governação se preocupa com o assunto.

Folhear
As primeiras 53 páginas da revista que tenho nas mãos são dedicadas a uma reportagem sobre a vida dos ciganos no Alentejo. A revista chama-se "Berlin Quarterly" e tem por subtítulo "European Review Of Culture". Esta é a sua quinta edição. "Berlin Quarterly" é mais um dos exemplos da nova imprensa de nicho, que aposta na preservação do papel como meio privilegiado para a publicação de reportagens e ensaios. "Across Those Hills" é o título da reportagem sobre os ciganos alentejanos, com texto de Tiago Carrasco e fotografia de Daniel Costa Neves, que têm aqui um espaço editorial que em Portugal dificilmente teriam. A revista é feita a partir de colaborações de diversas nacionalidades, que retratam realidades bem diversas dentro do espaço europeu. Seja lá isso o que for. Inclui reportagens, ensaios escritos e fotográficos, poesia e ficção - como por exemplo a proposta de Matilde Campilho, intitulada "Jockey". Os textos são publicados em inglês e no idioma original. Com um total de 250 páginas, cada autor tem espaço para publicar como entende. Este é um conceito muito curioso, podem saber mais em berlinquarterly.com . Um dos artigos mais interessantes é uma entrevista com Trevor Paglen na qual ele explica como as máquinas estão actualmente a captar imagens que outras máquinas vão ler e interpretar, removendo o ser humano da intermediação da observação da realidade.

Ouvir
Deixei de gostar dos Pink Floyd em 1973, quando foi publicado "Dark Side Of The Moon". Já não tinha gostado muito de "Atom Heart Mother" e, decididamente, os meus preferidos são os discos gravados entre 1967 e 1972. Em vésperas de se assinalarem 50 anos sobre o primeiro disco do grupo, "The Piper At The Gates Of Dawn", foi editada uma belíssima colectânea intitulada "Pink Floyd, The Early Years, 1967 - 1972, Creation". "Arnold Layne" e "See Emily Play" são as duas primeiras canções deste duplo CD e são os dois primeiros singles da banda. "Ummagumma", de 1969, é o álbum de que gosto mais - ainda conservo a edição original em vinyl e uma posterior em CD. A presente colectânea tem 27 temas que representam na realidade a quase totalidade dos momentos altos dos Pink Floyd, na fase inicial da sua carreira. Inclui gravações originais, mas também registos ao vivo (como uma aceitável versão de "Atom Heart Mother", gravada em 1970 em Montreux) e até remixes contemporâneas. "Obscured By Clouds", de 1972, foi o último álbum da banda que verdadeiramente apreciei. Em 1970 compuseram alguns temas para "Zabriskie Point", de Michaelangelo Antonioni, que aqui surgem em remisturas. Depois da desilusão que tive com "Dark Side Of The Moon" deixei praticamente de os ouvir e centrei-me, quando necessário, em "Ummagumma". Quem quiser ouvir ainda mais tem disponível, em vez deste duplo CD, uma caixa de 27 discos com o mesmo nome, que recolhe toda a carreira da banda entre 1967 e 1972. Distribuído em Portugal pela Warner.

Arco da velha
Uma exposição sobre o quotidiano de Lisboa no século XVI, "A Cidade Global", prevista para o Museu Nacional de Arte Antiga, foi inesperadamente adiada para o próximo ano. Coleccionadores que iam emprestar obras dizem que a explicação que lhes foi dada sobre o adiamento é a falta de dinheiro para pagar o transporte e seguros das peças. 

Provar
No lugar onde antes existia uma oficina que recuperava automóveis antigos está, desde Setembro, um dos restaurantes mais vibrantes do Porto. Chama-se, claro está, "Oficina" e é uma iniciativa do galerista Fernando Santos que, na mesma rua e um pouco mais acima, tem a sua Galeria. O "Oficina" desenvolve-se em dois pisos, com o superior a acolher frequentemente a mesa do Chef, mas também as tertúlias que Fernando Santos promove e que darão direito a um livro que pretende ter edição anual. O próprio restaurante tem o prazer de mostrar arte, a começar por uma instalação de luz que Pedro Cabrita Reis criou para a empena do prédio, que dá para o terraço que ladeia o piso superior. Há um cuidado assinalável na decoração, desde as mesas ao conforto das cadeiras e às peças de arte que irão rodando em sintonia com o acervo da Galeria. O responsável pela cozinha é o chef Marco Gomes, um transmontano que criou e fez nome no Foz Velha, um bom intérprete de versões de pratos inspirados na gastronomia tradicional portuguesa. Numa recente visita destacou-se a vitela mendinha, os medalhões de lombo maturado, a açorda de perdiz, o polvo grelhado com arroz do mesmo e um robalo ao vapor sobre risotto de lima e hortelã. O couvert inclui uma bola transmontana miniatura que é por si só um programa e a carta de sobremesas é tentadora. A garrafeira tem boa escolha, o serviço precisa de rodar mais, mas a experiência é muito positiva. Oficina, Rua Miguel Bombarda 273, Porto, telefone 220 165 807 ou reservas@oficinaporto.com

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