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Opinião
13 de Maio de 2016 às 11:00

A esquina do Rio

Tiago Brandão Rodrigues entrou no Ministério da Educação com a delicadeza de um elefante abanando-se numa loja de porcelana.

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Back to basics
Se é certo que o saber pode causar problemas, ainda é mais certo que não é com a ignorância que os podemos resolver.
Isaac Asimov

Marioneta
Tiago Brandão Rodrigues entrou no Ministério da Educação com a delicadeza de um elefante abanando-se numa loja de porcelana. E levava um programa claro: tirar preocupações pedagógicas da acção do Ministério e voltar a posicioná-lo na esfera sindical dos professores. É isso que tem feito, como se tem visto nos meses que leva do cargo. Na realidade, tudo se passa como se o ministro da Educação se chamasse Mário Nogueira, o líder da Fenprof, que, neste Governo, ganhou de novo protagonismo e prosápia. O Ministério que Mário Nogueira voltou a comandar recuou nos sistemas de avaliação de professores e, com o ano lectivo já iniciado, tomou decisões mal explicadas sobre o fim dos exames do 4.º e 6.º ano. Em tão pouco tempo fez tanta coisa polémica, e muita incompreensível, que o seu secretário de Estado, João Wengorovius, se demitiu em "profundo desacordo" com o ministro, não só em relação à política do Ministério, como "ao modo de estar no exercício de cargos públicos". A audição de Tiago Brandão Rodrigues esta semana, no Parlamento, foi um exercício de ilusionismo e de desonestidade intelectual e mostrou como ele não passa de uma marioneta nas mãos dos dirigentes da Fenprof. A recente questão das subvenções ao ensino privado - mal explicadas, mal planeadas, mal anunciadas e de duvidosa eficácia, mais não é do que uma birra ideológica e um pretexto para alargar a influência sindical, através do aumento do peso do Estado do sector. A base parlamentar do Governo bem pode enrouquecer a dizer que o problema é o dinheiro, mas é por demais evidente que a decisão de cortar fundos ao ensino privado não tem que ver com finanças públicas, mas sim com ideologia pura e dura. Para cúmulo do disfarce mal se compreende que um Governo que anunciou querer subsidiar os taxistas em 17 milhões de euros venha agora dizer que é contra subsídios a privados, ainda por cima em matéria de ensino.

Dixit
O que foi Sócrates fazer ao Marão? Mostrar que, se quiser, e se a justiça não o importunar muito, pode alterar o xadrez da política nacional.
Helena de Matos, no Observador

Semanada
• O Governo vai distribuir mil milhões de financiamentos pelas Câmaras Municipais de todo o país antes das autárquicas do próximo ano  as necessidades de financiamento da Grécia a médio prazo são menores do que as portuguesas  as exportações de mercadorias recuaram 2% no primeiro trimestre deste ano face a 2015, devido sobretudo à quebra de vendas para Angola e China  mais de um terço dos trabalhadores contratados em 2016 recebem o salário mínimo  no final de Março havia 640.200 pessoas desempregadas e o primeiro trimestre do ano fechou com o desemprego a subir para 12,4%  ao fazer o balanço dos primeiros seis meses do Governo, o Bloco de Esquerda anunciou que deseja mais conquistas no próximo semestre  nos primeiros três meses do ano os pagamentos feitos com cartões aumentaram 8%  ao todo são pagos com cartões 80 milhões de euros por dia, um aumento de 6% relativamente a 2015  Portugal é o quinto país com o mais elevado índice de envelhecimento da Europa  em Portugal a pneumonia mata sete vezes mais do que os acidentes de viação  um quinto dos remédios não sujeitos a receita médica já é vendido fora de farmácias  Lisboa vai ter um coordenador para gerir a vida nocturna  não está anunciado nenhum coordenador para gerir o caos das obras, com ruas transformadas em parque de estacionamento de maquinaria pesada a partir das seis da tarde dos dias úteis e aos fins-de-semana  o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, não se opôs à reintrodução da caça na Serra da Malcata, onde estava interdita há cerca de duas décadas, voltando a desequilibrar o sistema ecológico e a fauna que ali foram recuperados, com custos elevados, nos últimos anos  efeitos das mudanças no mundo e da má imagem dos taxistas: Noddy, o boneco infantil, mudou de profissão - agora já não é taxista, é detective.

Folhear
Nem todas as editoras, nem todos os editores se atreveriam a esta empreitada - fazer de seguida edições especiais, graficamente muito cuidadas, de três livros que marcaram a História recente da humanidade: o "Manifesto Comunista" de Karl Marx e Friedrich Engels (1872), "Mein Kampf" de Adolf Hitler (1925) e "O Pequeno Livro Vermelho" de Mao Tse Tung (1964). Produzidos em épocas diferentes, em situações muito diversas, cada um dos três livros desencadeou movimentos que marcaram o curso da História. A Guerra & Paz, porventura a mais criativa e interveniente das editoras portuguesas actuais, colocou estes livros nos escaparates ao longo dos últimos meses. Cada um deles é precedido de um texto de enquadramento, da autoria de Manuel S. Fonseca, que fundou e dirige a Guerra & Paz. Estes textos ajudam a pôr as obras em perspectiva e a enquadrá-las no tempo. Estão cheios de referências históricas e de citações de outros autores que se debruçaram sobre estas obras e as suas consequências e são acompanhadas por ilustrações que ajudam a visualizar as épocas em que foram feitos. O texto introdutório do "Manifesto Comunista" chama-se "Visão Heróico-Trágica da Revolução", o de "Mein Kampf" leva o título de "Ascensão, poder e crime do Nazismo" e o que acompanha "O Pequeno Livro Vermelho" chama-se "Violência, Fome e Reeducação na China de Mao".

Gosto
Por iniciativa do Centro Nacional de Cultura, o Chiado volta a estar em festa entre 14 e 21 de Maio, com dezenas de actividades - ver programação em www.cnc.pt

Não gosto
O PAN  quer que se comece a discutir em tribunal  quem é que fica com o cão e o gato em caso de divórcio.

Ver
Se querem descobrir o que por cá se passa na arte contemporânea comecem a pensar em frequentar regularmente algumas galerias. Nessa matéria, o destaque da semana vai para a dupla exposição da galeria Belo-Galsterer, inaugurada esta semana (Rua Castilho 71 r/c). Pedro Sousa Vieira apresenta "Sleeping Beauty", a sua segunda exposição individual nesta galeria, agora com obras feitas expressamente a pensar no espaço, a partir de técnicas de colagem digital e conjugação de suportes multimédia. Pedro Sousa Vieira, que vive e trabalha no Porto e tem uma carreira de quase trinta anos, recebeu em 2015 o prémio Amadeo de Souza-Cardoso. A segunda exposição é "Solo Project", do fotógrafo moçambicano Mário Macilau, que apresenta uma única obra (na imagem), destacada da série "Out of Town" , um trabalho que documenta a vida do dia-a-dia das comunidades rurais do Burundu (Quénia) e de Moçambique. Mário Macilau, que vive e trabalha a partir de Moçambique, esteve presente na 56.ª Bienal de Veneza, no Pavilhão do Vaticano. Estas duas exposições estarão na Galeria Belo-Galsterer até 30 de Julho. Outros destaques para esta semana: a exposição "Intimidade", de Luísa Ferreira, na Pequena Galeria (Avenida 24 de Julho 4C), um belo ensaio fotográfico publicado no número 3 da Granta Portugal; e, a terminar, noutro registo, a exposição de cerâmicas de Júlio Pomar, sob o título "Decorativo, Apenas", na Casa Museu Júlio Pomar, Rua do Vale n.º 7 ao Bairro Alto.

Arco da velha
Numa época em que quase toda a gente tem uma máquina fotográfica no telemóvel que leva no bolso, causa espanto não ter ainda aparecido uma única foto do tal aperto de mão entre Sócrates e Costa, na inauguração do túnel do Marão.

Ouvir
Não deixa de ser curioso que os Radiohead, que ao longo dos anos se têm dedicado à utilização de novas possibilidades trazidas pelas tecnologias na composição, interpretação e divulgação da música, tenham decidido, dias antes do lançamento do seu novo álbum, proceder a um apagão momentâneo de todo o seu rasto mais visível na internet. É como se tivessem querido passar uma esponja no passado para depois aparecerem com este "A Moon Shaped Pool", que está a ser considerado como um dos seus melhores trabalhos de sempre. Mais ainda, "A Moon Shaped Pool", não desprezando a tecnologia na criatividade nem na divulgação (por enquanto e por mais uns dias continua apenas disponível online), é um trabalho que, na sua composição, arranjos e interpretação, parte de uma sólida base acústica, vocal e instrumental, com orquestrações complexas. O Guardian fazia notar, penso que com razão, que neste tempo em que a maioria da nova música realmente interessante vem dos territórios do rhythm and blues e do hip hop - e não do rock - os Radiohead são a excepção que se destaca, mostrando que mantêm a capacidade de surpreender e que têm coisas para dizer que merecem ser escutadas e analisadas - desde logo na faixa de abertura "Burn The Witch". De uma forma geral a voz de Thom Yorke e as orquestrações que Jonny Greenwood concebeu combinam de uma forma rara em termos da música popular. Temas como "Decks Dark" e "Present Tense" mostram exemplarmente isto mesmo. E na inesperada "Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief" a voz de Yorke e o lado tecnológico que pratica enquanto DJ combinam-se com o imaginário das bandas sonoras que tornaram Greenwood famoso. Mas para mim o grande tema do álbum é "Glass Eyes", uma canção viciante onde a voz de Yorke se mistura com uma secção de cordas envolvente, num exercício de sensibilidade e simplicidade muito raros. (o álbum foi ouvido em Apple Music).

Provar
Um dos pratos que gosto de fazer é combinar uma massa, de preferência farfalle, com salmão fumado . Depois da massa cozida e escorrida, junto-lhe o salmão cortado às farripas largas, após ter sido bem temperado e marinado em endro, sumo de limão e um pouco de vinho branco; vou misturando na massa e adiciono uma lata de filetes de anchova de boa qualidade, convenientemente escorridos e cortados e uma colher de sopa de alcaparras; eu gosto de acrescentar queijo philadelphia aos pedaços pequenos, por forma a dissolverem-se na mistura - com a eventual ajuda de um pouco da água de cozedura da massa (que convém sempre reservar) para que tudo fique bem ligado. No fim tempera-se com pimenta e, na minha opinião, acompanha-se com um bom vinho rosé. Este ano estou a gostar muito do Lybra Rosé, da Quinta do Monte d'Oiro, feito a partir de uvas 100% da casta Syrah, oriundas de uma parcela da vinha que só produz uvas para rosé, colhidas à mão e com estágio de cinco meses em cubas inox. É fresco e liga muito bem com estes pratos mais estivais. À venda por cerca de 7 euros.


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