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Opinião
08 de Abril de 2016 às 09:57

A esquina do Rio

Era uma vez um senhor chamado António que queria muito mandar em tudo. O senhor António tinha sido eleito para presidente da junta da sua terra, mas gostava mais de outro lugar onde mandasse mais.

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Aprendi a usar a palavra "impossível" com o maior dos cuidados.
Von Braun

Fábula
Era uma vez um senhor chamado António que queria muito mandar em tudo. O senhor António tinha sido eleito para presidente da junta da sua terra, mas gostava mais de outro lugar onde mandasse mais. Nas eleições da sua terra tinha jurado a pés juntos que mandar nas ruas e ruelas da terrinha era mesmo o que ele queria e prometia dali não sair. Mas manhoso como é, e já a pensar na sua tropelia seguinte, o senhor António tinha posto como seu braço direito o senhor Fernando. O senhor Fernando não percebia nada das coisas da terrinha, mas ninguém se importava com isso, muito menos o senhor António. A seguir ao senhor Fernando vinha o senhor Manuel, que já tinha sido o braço direito do senhor António, mas que não era do mesmo clube. E por isso teve que ficar um bocadinho para trás. O senhor Manuel quando se olhava ao espelho pensava-se o Marquês do Pombal e tinha como desejo reconstruir a sua terrinha. Esperto, percebeu logo que o senhor António se queria ir embora e sabia que o senhor Fernando percebia pouco das coisas que interessavam. De maneira que viu uma oportunidade de, não mandando no papel, ser ele a mandar por interposta pessoa. Quando o senhor António se foi embora da terrinha, deixou os problemas nas mãos do senhor Fernando que, aflito, se virou para o senhor Manuel e pediu ajuda. O senhor Manuel sorriu, esfregou as mãos de contente, virou-se para o espelho e disse: "agora é que vai ser". E, assim, começou paulatinamente a destruir a terrinha, para depois a reconstruir à sua maneira, como o velho Marquês tinha feito depois de um terramoto. Como agora não havia terramoto, o senhor Manuel encheu o peito de ar e disse: "terramoto eu serei". O senhor Manuel odiava carros e quem os usava. Para ele a terrinha devia ser como um "bibelot" - muito certinha, guardada numa redoma, de preferência sem utilizadores. Imaginou logo um esquema: os habitantes da terrinha iam ter obras com fartura que demorassem muito tempo, para andarem pouco pelas ruas; haviam de não poder andar nos seus carritos de uma ponta à outra, por dentro da terrinha - se quisessem, que fossem por uma das estradas do lado de fora da redoma, para não sujar o "bibelot" - assim as visitas escusavam de ver quem vivia na terra. Os indígenas - como o senhor Manuel lhes chamava - demoravam mais tempo e sentiam incómodo? - "Paciência" - rangia o senhor Manuel, dizendo entre dentes: "se não gostam, que vão morar para outro sítio". No meio disto o senhor Fernando julgava que estava tudo como ele queria e foi-se até convencendo de que o que se passava era da sua lavra. Nunca percebeu que a única coisa que fazia era dizer que sim ao senhor Manuel. Ufano, o senhor Fernando foi pondo notícias nos jornais a explicar que, mesmo não parecendo, o presidente da junta era ele. O senhor Manuel sentava-se ao lado de uma das valas que esventrava as ruas e agarrava-se à barriga , de tanto rir, enquanto lia páginas e páginas da gazeta da terra a falar com o senhor Fernando.

Semanada
• Até Março venderam-se mais de 205 carros por dia, a antecipar a subida de impostos  o FMI pediu um reforço da austeridade  Angola pediu assistência ao FMI exactamente cinco anos depois de Portugal o ter feito  esta semana os prazos constitucionais atingiram o ponto a partir do qual o novo Presidente da República recuperou o poder de dissolução da Assembleia da República  Mário Draghi participou no Conselho de Estado, o primeiro convocado por Marcelo Rebelo de Sousa  na comissão parlamentar de inquérito apurou-se que o Banco de Portugal desaconselhou a resolução do Banif 15 dias antes de a aplicar  em Portugal, no ano de 2015, saíram para empresas "offshore" 2,25 milhões de euros por dia  o número de emigrantes portugueses que são licenciados triplicou no último ano  José Sócrates acusou o Ministério Público de fazer terrorismo de Estado  cerca de mil contribuintes por dia pedem ajuda para preencher o IRS  16 militantes do PS de Coimbra foram suspensos por terem falsificado fichas de inscrição no partido  do 1º ao 4º ano há mais de 94 mil alunos em turmas que têm, em simultâneo, vários anos de escolaridade diferentes  os orçamentos das universidades e institutos politécnicos vão perder 57 milhões de euros face ao que tinha sido inscrito no Orçamento de Estado para este ano  António Costa quer dar às secretas acesso a dados dos telemóveis.

Ver
Vou começar com uma sugestão no Porto, na Galeria Pedro Oliveira - a exposição de Cecília Costa. A exposição agrupa vários desenhos a óleo, outros a fita cola e carvão e duas esculturas de madeira, na realidade duas propostas de mesas transfiguradas - uma delas com livros e outra com uma esfera de aço polido (na imagem). Sob o título "Força Fraca", Cecília Costa combina figuras geométricas com as suas mesas alteradas - até 21 de Maio. Do Porto passamos para Coimbra onde, no Centro de Artes Visuais (CAV), está a exposição "O Coração da Ciência", que sob a curadoria de Albano da Silva Pereira reúne até 12 de Junho fotografias de Álvaro Rosendo, Candida Höfer, Joan Fontcuberta, Joel-Peter Witkin, Jorge Molder e Paul den Hollander, entre outros. Em Lisboa, destaque para "Linhas de Diálogo", uma exposição que no Espaço Novo Banco, Praça Marquês do Pombal, em Lisboa, apresenta uma selecção de obras das colecções de fotografia da Fundação Coca-Cola Espanha e da Colecção Novo Banco (ex-BES) que, sabe-se agora, está à venda por força do que aconteceu à instituição bancária - é considerada uma das mais importantes colecções de fotografia contemporânea europeias. E, a terminar, na sala de exposições da Torre do Tombo com "Livros de Muitas Cores" onde podem ser vistas fotografias de escritores portugueses feitas por Luísa Ferreira em 1997 e 2000 para os pavilhões de Portugal na Feira do Livro de Frankfurt e no Salão do Livro de Paris.

Gosto
Da inauguração do novo equipamento cultural de Coimbra, o Convento de S. Francisco, que pretende ser um pólo de atracção de públicos de toda a região Centro.

Não gosto
Do que significa um ministro que ameaça fisicamente quem o critica, como João Soares fez a Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente.

Folhear
António Caeiro é um jornalista português que viveu na China muitos anos e já escreveu vários livros sobre as relações luso-chinesas : "Pela China Dentro - Uma Viagem de 12 anos", "Novas Coisas da China - Mudo, logo existo" e, agora, "Peregrinação Vermelha - O Longo Caminho Até Pequim". Como António Caeiro faz notar, "Portugal foi um dos países europeus onde o comunismo chinês teve mais adeptos e parte da sua actual elite foi maoista durante a juventude". Este novo livro é uma história dessa atracção e dos contactos entre Portugal e a China vermelha. Como o autor relata, durante três décadas, até 1979, Portugal e a China não tiveram relações diplomáticas mas os contactos "secretos, clandestinos ou oficiosos" nunca foram interrompidos - o que, em parte se explica, pela presença em Macau e pelo facto de nenhum dos dois países e regimes considerar o território uma colónia. O livro conta uma sucessão de histórias, algumas quase aventuras e "agarra" os leitores do princípio ao fim - há muita coisa que se descobre e aprende nestas páginas que evocam muitas conversas tidas pelo autor ao longo dos anos. Numa altura em que a China volta a estar no centro do Mundo e em que tanto se fala da presença chinesa em Portugal, aqui está uma boa forma de conhecer melhor a história da relação entre os dois países. (Edição D. Quixote/ Leya).

Arco da velha
Em Vila do Conde foi assaltada uma ourivesaria que fica ao lado de uma esquadra da PSP. 

Ouvir
A 13 de Abril de 1965 a histórica sala do Olympia de Paris acolhia, pela primeira vez, um digressão de alguns dos maiores artistas da etiqueta discográfica que pôs a música soul nas bocas do mundo - a Tamla Motown. Nessa noite, em Paris, actuaram Stevie Wonder, The Supremes, The Miracles, Martha (Reeves) & The Vandellas e Earl Van Dyke and The Soul Brothers: The Tamla Motown Show. Paris tinha acolhido anos antes o jazz norte-americano e recebia de braços abertos a soul music. A sala do Olympia estava cheia (ao contrário do que tinha acontecido dias antes nos concertos em Londres). A editora decidiu gravar o concerto e o resultado foi um LP que fez história, "Motortown Revue in Paris". 40 anos depois eis que surge uma edição em CD duplo que agrupa três dezenas de temas cantados nessa noite, 12 dos quais surgem agora em disco pela primeira vez. "Motortown Review In Paris" é um duplo CD com edição especial da Tamla, distribuído em Portugal pela Universal Music. 

Dixit
Estamos a criar um império europeu em Bruxelas, guiado pela Alemanha.
João Ferreira do Amaral

Provar
Cheio de hesitações entrei na Mexicana um dia destes à hora de almoço. Pedir um bife três pimentas, muito mal passado, com ovo estrelado e batata frita é um teste a qualquer local. Em primeiro lugar ver se a carne é de boa qualidade, em segundo lugar ver se de facto veio mal passado mas saboroso da pimenta e do tempero, ter a certeza que tenha sido frito e não grelhado com molho depois adicionado por cima. Outro ponto importante - que o bife, apesar de mal passado, venha quente e que não esteja frio de frigorífico no meio (já me aconteceu numa das casas do cozinheiro Vítor Sobral). Em terceiro lugar desejar que o molho não seja parecido com restos de um galão, destruindo todo o sabor; verificar ainda que o ovo venha estrelado e não recozido e, finalmente, que as batatas estejam fritas e estaladiças e não espapaçadas e moles. Pois então tenho a dizer que gostei do bife na renovada Mexicana. A rematar o café estava bom, sem vir queimado e o pastel de nata recomenda-se. A sala do fundo, do restaurante, está com mais luz, mais limpa, a mobília foi bem restaurada, os painéis estão fantásticos. Nem mesmo os balcões frigoríficos da entrada me escandalizaram. Acho que a Mexicana se salvou de aparência e de conteúdo. Há um mix de empregados antigos e novos, o serviço está mais atento e simpático. Dentro de pouco tempo vai abrir uma taberna, vocacionada para os petiscos. Hei-de lá ir experimentá-la. E à Mexicana voltarei quando por lá passar de novo. Avenida Guerra Junqueiro 30C, à Praça de Londres, telefone 218 486 117.


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