Opinião
A esquina do Rio
O PS tem uma tradição matemática simples: primeiro gasta-se, depois logo se vê. Foi assim com o agora louvaminhado Guterres, foi assim até ao extremo com Sócrates e está a ser assim com Costa
Back to basics
A finança é a arte de passar dinheiro de mão para mão até que finalmente desapareça.
Robert W. Sarnoff
Dixit
"A nossa doméstica esquerda pós-moderna confunde a bruta e fera realidade, onde se joga o destino pessoal e colectivo de 10 milhões de portugueses, com um teste à sua boa consciência. Nem a tragédia do esmagamento da Grécia do Syriza lhe parece ter ensinado a perceber a desagradável diferença entre virtude e razão de Estado."
Viriato Soromenho-Marques
Encalhados
O PS tem uma tradição matemática simples: primeiro gasta-se, depois logo se vê. Foi assim com o agora louvaminhado Guterres, foi assim até ao extremo com Sócrates e está a ser assim com Costa, independentemente da reconhecida capacidade de vendedor de tapetes voadores que tem demonstrado. Como temos visto em anos recentes, a receita do PS é criar condições para o Estado aumentar a dívida - e os contribuintes é que a pagam sempre. Como se tem visto nos últimos dias, o PS gosta da Europa que lhe dá dinheiro, mas não gosta mesmo nada da que lhe estabelece regras quanto aos gastos e ainda menos da que cobra dívidas. O PS, em geral, acha as dívidas uma falsa questão; já o Bloco prefere esquecê-las e o PC ignorá-las. A coligação tem um ponto comum nisto: venha o dinheiro, não me falem em obrigações. Este é o lema do cimento ideológico que sustenta Costa. Na realidade, estes meses de governação vêm, mais uma vez, provar que a utopia esbarra na realidade - mais uma vez, as promessas ficam no saco dos votos perdidos e os impostos voltam a cair maioritariamente na classe média. Permito-me recordar que os anos de austeridade do anterior Governo se traduziram numa queda do défice público de 11,2% do PIB registado em 2010, para 3% do PIB em 2015.
Já agora, para os que dizem que a dívida do Estado foi feita nos anos da troika e não antes, recordo que no período de austeridade a subida foi de apenas 11% do PIB, enquanto entre 2005 e 2011, no consulado do PS com Sócrates, foi de 58% do PIB. E assim, de gasto em gasto, lá vamos continuando encalhados. Coisas…
Semanada
• Depois de ter dito que não mexia no Orçamento por imposição de Bruxelas, o Governo começou a fazer ajustamentos • atirou-se aos consumos ligados aos hábitos individuais - nos impostos sobre combustíveis e sobre automóveis, que já são dos maiores em toda a Europa • a ideia de que o Governo não iria aumentar impostos está a revelar-se uma partida de Carnaval • Bruxelas queria um corte adicional de 500 milhões no Orçamento • O ministro do Planeamento e Infra-estruturas anunciou que o Governo quer investir 450 milhões em novas obras públicas; no meio da discussão orçamental, Costa vai oportunamente a Berlim falar com Angela Merkel e a sua agenda diz que o tema da conversa será a crise dos refugiados • Passos Coelho vai recandidatar-se à liderança do Partido Social Democrata e a sua grande definição ideológica e estratégica é, depois de anos a defender o neoliberalismo, afirmar-se com o slogan "Social-Democracia Sempre" • o desemprego em Portugal é o quarto maior da Zona Euro; o regresso das 35 horas semanais vai provocar um aumento de custos nas áreas onde se trabalha por turnos • em 2015, a GNR registou 2.300 crimes graves feitos através da internet • Cavaco Silva condecorou, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, António Guterres, o primeiro-ministro que se pôs ao fresco quando a situação se começou a complicar em Portugal • na mesma ocasião, Cavaco Silva recomendou Guterres para secretário-geral da ONU e Guterres mostrou-se desiludido com a Europa • depois de anos a queixarem-se de que o IVA era o pai de todos os males na restauração, a associação do sector apresentou um estudo por si patrocinado em que afirma que a descida do IVA não resolve os problemas da restauração.
Ouvir
Há cerca de 30 anos que Ennio Morricone não compunha temas para uma banda sonora de um western. Actualmente com 87 anos, Morricone pode gabar-se de ter sido, desde os tempos em que compunha para os western-spaghetti de Sergio Leone, uma das influências maiores de vários grupos de rock. O facto é cabalmente demonstrado aqui pelo clássico dos White Stripes, um original de 2000, "Apple Blossom", que encaixa que nem uma luva no meio dos temas orquestrais de Morricone.
Só mesmo Quentin Tarantino, na sua versão de DJ sem barreiras, se podia lembrar de juntar a banda de Jack White ao génio de Morricone.
Vale a pena sublinhar que por aqui também passa Roy Orbison no magnífico "There Wont't Be Many Coming Home", vários momentos de diálogo do filme, e uma canção popular australiana, muito bem interpretada, com Jennifer Jason Leigh a cantar na película. Produtor assumido desta banda sonora, Tarantino, que nunca tinha feito uma banda sonora integral para nenhum dos seus filmes, aproveitou a deixa que em tempos Morricone lhe deixou, ao dizer que já não pensava trabalhar com ele. Pois aqui está - e mesmo sabendo que alguns dos temas são reaproveitamentos nunca antes usados de composições feitas para um filme de John Carpenter ("The Thing"), o génio de Morricone domina. Aqui está. Estreado esta semana em Portugal sob o título escasso "Os Oito Odiados", vale a pena ter o disco para saborear as memórias do filme quando se chega a casa. CD Decca/Universal.
Gosto
O diário britânico The Guardian considerou o Hot Clube um dos dez grandes locais para ouvir jazz na Europa.
Não gosto
Numa sondagem realizada pela Win Gallup International, Portugal está entre os 13 países menos felizes, com 5% a considerar-se muito feliz, 45% feliz, 39% nem feliz nem infeliz, 9% infeliz e 1% muito infeliz.
Ver
Sugiro um programa para o fim-de-semana: uma visita à Ilustrarte, a VII Bienal Internacional de Ilustração para a Infância, que até 17 de Abril vai estar no Museu da Electricidade. Esta edição atribuiu o primeiro prémio à espanhola Violeta Lópiz, que ilustrou o livro "Amigos do Peito" do brasileiro Cláudio Thebas (na imagem). No Museu da Electricidade estão mais de 150 ilustrações, feitas por meia centena de artistas, seleccionados de entre 1.700 inscritos, de mais de sete dezenas de países. Portugal está representado por trabalhos de Teresa Lima, Catarina Sobral, Joana Estrela e Daniel Moreira. Edições anteriores da Ilustrarte registaram entre 25 a 30 mil visitantes. O artista convidado desta exposição é o francês Serge Bloch, um dos mais destacados ilustradores contemporâneos. Finalmente, esta edição inclui uma exposição dedicada à obra de Alice Vieira, uma das mais importantes escritoras portuguesas para a infância e juventude. O preço da entrada é de 2 euros e reverte para a campanha Unicef - Crianças Sírias.
Arco da velha
Um tribunal de Coimbra condenou um homem de 71 anos a dois anos e três meses de pena suspensa por abusar sexualmente de um neto, que tinha quatro anos à altura do crime, e uma juíza de Lisboa mandou deter um cidadão por ter inadvertidamente faltado a um depoimento sobre um assalto à sua própria casa. Que avaliação podem estes dois juízes ter?
Folhear
Os dias que correm são particularmente adequados para se ler um livro recente intitulado "As Direitas Na Democracia Portuguesa". A edição foi coordenada por Riccardo Marchi, um investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e inclui 11 estudos que abordam a evolução da direita nos últimos 40 anos.
Gostaria de destacar o trabalho de António Araújo sobre os itinerários sócio-culturais da direita portuguesa, o trabalho de Ana Sofia Ferreira sobre a evolução das ideologias políticas do PSD e do CDS-PP, o excelente "As Direitas, o Estado e as Igrejas", de Luís Salgado de Matos, o trabalho do próprio Marchi: "À Direita da Direita: O Desafio da Extrema Direita à Democracia Portuguesa", a contribuição de Manuel Monteiro, ex-líder do CDS-PP, sobre a organização que dirigiu e, sobretudo o trabalho de André Freire e Sofia Serra Silva sobre "A Opinião Pública de Direita, antes e depois da crise de 2008".
Recomendo que o próximo candidato a líder da oposição a Costa leia bem este capítulo. A edição é da Texto, grupo Leya.
Provar
Há restaurantes que investem mais em comunicação e em relações públicas do que na simpatia do atendimento. Gostam de criar a ideia de que estão na moda, ter filas, recusam reservas e têm empregados a dizer com ar arrogante: "No mínimo, vai ter uma espera de 45 minutos." Cada vez gosto menos de restaurantes da moda, de chefs que se copiam uns aos outros sem ter em conta um tema básico, que é bem servir o cliente. Às vezes, leio que num restaurante o espectáculo é tão importante como a comida. Nada é tão importante como o bom atendimento, o conforto e a qualidade do que se apresenta à mesa. Por isso, estas linhas de hoje são dedicadas a restaurantes que não estão em locais da moda, que têm comida bem confeccionada a partir de boa matéria-prima, que são hospitaleiros e praticam preços honestos. É quanto basta. Sexta-feira passada, em boa hora constatei que um dos locais da moda, no Príncipe Real, de origem italiana, enxotava quem não quisesse ficar numa longa fila e dirigimo-nos ao velho "Comida de Santo", onde fomos bem recebidos, estivemos muito confortáveis e comemos uma belíssima feijoada à brasileira, baseada na tradição e sem modernices, acompanhado de um vinho da casa, do Dão, muito equilibrado. No domingo, a seguir, aproveitando o bom tempo, quis ir até perto do mar e recordei-me que em tempos era fiel cliente do Carula, em Paço de Arcos. A casa continua a receber bem - o dia era de sedutor cozido, mas ficámo-nos no robalo, que estava óptimo, acompanhado por umas couves saborosas. Foi antecedido por uma pasta de sapateira e gambas igualmente muito boas. Resumo: o Comida de Santo e o Carula são dois locais onde tenho ido menos do que devia - porque são restaurantes que sabem que a amabilidade da tradição é bem melhor do que a arrogância do sucesso. Comida de Santo, Calçada Engenheiro Miguel Pais 39 (à Rua da Escola Politécnica, em Lisboa), telefone: 213 963 339; Carula, Rua Costa Pinto 41, Paço de Arcos (é a mesma rua do Hotel Paço dos Arcos-Vila Galé, à Marginal), telefone: 214 432 206.
A finança é a arte de passar dinheiro de mão para mão até que finalmente desapareça.
Robert W. Sarnoff
Dixit
"A nossa doméstica esquerda pós-moderna confunde a bruta e fera realidade, onde se joga o destino pessoal e colectivo de 10 milhões de portugueses, com um teste à sua boa consciência. Nem a tragédia do esmagamento da Grécia do Syriza lhe parece ter ensinado a perceber a desagradável diferença entre virtude e razão de Estado."
Viriato Soromenho-Marques
O PS tem uma tradição matemática simples: primeiro gasta-se, depois logo se vê. Foi assim com o agora louvaminhado Guterres, foi assim até ao extremo com Sócrates e está a ser assim com Costa, independentemente da reconhecida capacidade de vendedor de tapetes voadores que tem demonstrado. Como temos visto em anos recentes, a receita do PS é criar condições para o Estado aumentar a dívida - e os contribuintes é que a pagam sempre. Como se tem visto nos últimos dias, o PS gosta da Europa que lhe dá dinheiro, mas não gosta mesmo nada da que lhe estabelece regras quanto aos gastos e ainda menos da que cobra dívidas. O PS, em geral, acha as dívidas uma falsa questão; já o Bloco prefere esquecê-las e o PC ignorá-las. A coligação tem um ponto comum nisto: venha o dinheiro, não me falem em obrigações. Este é o lema do cimento ideológico que sustenta Costa. Na realidade, estes meses de governação vêm, mais uma vez, provar que a utopia esbarra na realidade - mais uma vez, as promessas ficam no saco dos votos perdidos e os impostos voltam a cair maioritariamente na classe média. Permito-me recordar que os anos de austeridade do anterior Governo se traduziram numa queda do défice público de 11,2% do PIB registado em 2010, para 3% do PIB em 2015.
Já agora, para os que dizem que a dívida do Estado foi feita nos anos da troika e não antes, recordo que no período de austeridade a subida foi de apenas 11% do PIB, enquanto entre 2005 e 2011, no consulado do PS com Sócrates, foi de 58% do PIB. E assim, de gasto em gasto, lá vamos continuando encalhados. Coisas…
Semanada
• Depois de ter dito que não mexia no Orçamento por imposição de Bruxelas, o Governo começou a fazer ajustamentos • atirou-se aos consumos ligados aos hábitos individuais - nos impostos sobre combustíveis e sobre automóveis, que já são dos maiores em toda a Europa • a ideia de que o Governo não iria aumentar impostos está a revelar-se uma partida de Carnaval • Bruxelas queria um corte adicional de 500 milhões no Orçamento • O ministro do Planeamento e Infra-estruturas anunciou que o Governo quer investir 450 milhões em novas obras públicas; no meio da discussão orçamental, Costa vai oportunamente a Berlim falar com Angela Merkel e a sua agenda diz que o tema da conversa será a crise dos refugiados • Passos Coelho vai recandidatar-se à liderança do Partido Social Democrata e a sua grande definição ideológica e estratégica é, depois de anos a defender o neoliberalismo, afirmar-se com o slogan "Social-Democracia Sempre" • o desemprego em Portugal é o quarto maior da Zona Euro; o regresso das 35 horas semanais vai provocar um aumento de custos nas áreas onde se trabalha por turnos • em 2015, a GNR registou 2.300 crimes graves feitos através da internet • Cavaco Silva condecorou, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, António Guterres, o primeiro-ministro que se pôs ao fresco quando a situação se começou a complicar em Portugal • na mesma ocasião, Cavaco Silva recomendou Guterres para secretário-geral da ONU e Guterres mostrou-se desiludido com a Europa • depois de anos a queixarem-se de que o IVA era o pai de todos os males na restauração, a associação do sector apresentou um estudo por si patrocinado em que afirma que a descida do IVA não resolve os problemas da restauração.
Ouvir
Há cerca de 30 anos que Ennio Morricone não compunha temas para uma banda sonora de um western. Actualmente com 87 anos, Morricone pode gabar-se de ter sido, desde os tempos em que compunha para os western-spaghetti de Sergio Leone, uma das influências maiores de vários grupos de rock. O facto é cabalmente demonstrado aqui pelo clássico dos White Stripes, um original de 2000, "Apple Blossom", que encaixa que nem uma luva no meio dos temas orquestrais de Morricone.
Só mesmo Quentin Tarantino, na sua versão de DJ sem barreiras, se podia lembrar de juntar a banda de Jack White ao génio de Morricone.
Vale a pena sublinhar que por aqui também passa Roy Orbison no magnífico "There Wont't Be Many Coming Home", vários momentos de diálogo do filme, e uma canção popular australiana, muito bem interpretada, com Jennifer Jason Leigh a cantar na película. Produtor assumido desta banda sonora, Tarantino, que nunca tinha feito uma banda sonora integral para nenhum dos seus filmes, aproveitou a deixa que em tempos Morricone lhe deixou, ao dizer que já não pensava trabalhar com ele. Pois aqui está - e mesmo sabendo que alguns dos temas são reaproveitamentos nunca antes usados de composições feitas para um filme de John Carpenter ("The Thing"), o génio de Morricone domina. Aqui está. Estreado esta semana em Portugal sob o título escasso "Os Oito Odiados", vale a pena ter o disco para saborear as memórias do filme quando se chega a casa. CD Decca/Universal.
Gosto
O diário britânico The Guardian considerou o Hot Clube um dos dez grandes locais para ouvir jazz na Europa.
Não gosto
Numa sondagem realizada pela Win Gallup International, Portugal está entre os 13 países menos felizes, com 5% a considerar-se muito feliz, 45% feliz, 39% nem feliz nem infeliz, 9% infeliz e 1% muito infeliz.
Ver
Sugiro um programa para o fim-de-semana: uma visita à Ilustrarte, a VII Bienal Internacional de Ilustração para a Infância, que até 17 de Abril vai estar no Museu da Electricidade. Esta edição atribuiu o primeiro prémio à espanhola Violeta Lópiz, que ilustrou o livro "Amigos do Peito" do brasileiro Cláudio Thebas (na imagem). No Museu da Electricidade estão mais de 150 ilustrações, feitas por meia centena de artistas, seleccionados de entre 1.700 inscritos, de mais de sete dezenas de países. Portugal está representado por trabalhos de Teresa Lima, Catarina Sobral, Joana Estrela e Daniel Moreira. Edições anteriores da Ilustrarte registaram entre 25 a 30 mil visitantes. O artista convidado desta exposição é o francês Serge Bloch, um dos mais destacados ilustradores contemporâneos. Finalmente, esta edição inclui uma exposição dedicada à obra de Alice Vieira, uma das mais importantes escritoras portuguesas para a infância e juventude. O preço da entrada é de 2 euros e reverte para a campanha Unicef - Crianças Sírias.
Arco da velha
Um tribunal de Coimbra condenou um homem de 71 anos a dois anos e três meses de pena suspensa por abusar sexualmente de um neto, que tinha quatro anos à altura do crime, e uma juíza de Lisboa mandou deter um cidadão por ter inadvertidamente faltado a um depoimento sobre um assalto à sua própria casa. Que avaliação podem estes dois juízes ter?
Folhear
Os dias que correm são particularmente adequados para se ler um livro recente intitulado "As Direitas Na Democracia Portuguesa". A edição foi coordenada por Riccardo Marchi, um investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e inclui 11 estudos que abordam a evolução da direita nos últimos 40 anos.
Gostaria de destacar o trabalho de António Araújo sobre os itinerários sócio-culturais da direita portuguesa, o trabalho de Ana Sofia Ferreira sobre a evolução das ideologias políticas do PSD e do CDS-PP, o excelente "As Direitas, o Estado e as Igrejas", de Luís Salgado de Matos, o trabalho do próprio Marchi: "À Direita da Direita: O Desafio da Extrema Direita à Democracia Portuguesa", a contribuição de Manuel Monteiro, ex-líder do CDS-PP, sobre a organização que dirigiu e, sobretudo o trabalho de André Freire e Sofia Serra Silva sobre "A Opinião Pública de Direita, antes e depois da crise de 2008".
Recomendo que o próximo candidato a líder da oposição a Costa leia bem este capítulo. A edição é da Texto, grupo Leya.
Provar
Há restaurantes que investem mais em comunicação e em relações públicas do que na simpatia do atendimento. Gostam de criar a ideia de que estão na moda, ter filas, recusam reservas e têm empregados a dizer com ar arrogante: "No mínimo, vai ter uma espera de 45 minutos." Cada vez gosto menos de restaurantes da moda, de chefs que se copiam uns aos outros sem ter em conta um tema básico, que é bem servir o cliente. Às vezes, leio que num restaurante o espectáculo é tão importante como a comida. Nada é tão importante como o bom atendimento, o conforto e a qualidade do que se apresenta à mesa. Por isso, estas linhas de hoje são dedicadas a restaurantes que não estão em locais da moda, que têm comida bem confeccionada a partir de boa matéria-prima, que são hospitaleiros e praticam preços honestos. É quanto basta. Sexta-feira passada, em boa hora constatei que um dos locais da moda, no Príncipe Real, de origem italiana, enxotava quem não quisesse ficar numa longa fila e dirigimo-nos ao velho "Comida de Santo", onde fomos bem recebidos, estivemos muito confortáveis e comemos uma belíssima feijoada à brasileira, baseada na tradição e sem modernices, acompanhado de um vinho da casa, do Dão, muito equilibrado. No domingo, a seguir, aproveitando o bom tempo, quis ir até perto do mar e recordei-me que em tempos era fiel cliente do Carula, em Paço de Arcos. A casa continua a receber bem - o dia era de sedutor cozido, mas ficámo-nos no robalo, que estava óptimo, acompanhado por umas couves saborosas. Foi antecedido por uma pasta de sapateira e gambas igualmente muito boas. Resumo: o Comida de Santo e o Carula são dois locais onde tenho ido menos do que devia - porque são restaurantes que sabem que a amabilidade da tradição é bem melhor do que a arrogância do sucesso. Comida de Santo, Calçada Engenheiro Miguel Pais 39 (à Rua da Escola Politécnica, em Lisboa), telefone: 213 963 339; Carula, Rua Costa Pinto 41, Paço de Arcos (é a mesma rua do Hotel Paço dos Arcos-Vila Galé, à Marginal), telefone: 214 432 206.
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