Opinião
A esquina do Rio
José Manuel Félix Ribeiro, economista e especialista em geoestratégia, é conhecido por não ser de falas brandas e por dizer já o que se arrisca a acontecer mais à frente.
Back to basics
Bonitas palavras e uma aparência insinuante raramente estão associadas à verdadeira virtude.
Confúcio
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José Manuel Félix Ribeiro, economista e especialista em geoestratégia, é conhecido por não ser de falas brandas e por dizer já o que se arrisca a acontecer mais à frente. Não poucas vezes tem acertado em cheio. O seu novo livro, "EUA versus China, confronto ou coexistência? - a globalização e os desafios do novo milénio", defende isto: "A China é como se fosse uma cobra que está a mudar de pele, a China vai mudar de modelo de crescimento e de equilíbrio político, e ao mesmo tempo está a andar muito depressa no meio da terra à procura de um sítio onde esteja protegida e onde possa olhar de frente para o seu adversário que são os Estados Unidos, para atacar quando for possível." No seu livro anterior, "Portugal, A Economia de Uma Nação Rebelde", ficava dentro das nossas fronteiras. Aqui analisa o que na sua opinião está a acontecer no mundo, cruzado por guerras civis, religiosas e civilizacionais. Félix Ribeiro considera que a viabilidade do reforço da integração europeia, ocorrida como resposta à reunificação da Alemanha, é cada vez menos reconhecível e sublinha que, neste contexto, os EUA são o pilar-chave do Ocidente e será em torno deles - e não de um qualquer império eurocontinental - que se irá organizar o futuro da globalização e da emergência de novos actores como a Índia e o regresso de velhos actores como a Rússia. O livro, como frequentemente acontece com os escritos do autor, é polémico e dá que pensar. Como curiosidade editorial, diga-se que na contracapa do livro está um QR Code que lhe permite aceder a uma vasta documentação do autor sobre a actuação externa dos EUA e a transformação do seu modelo nas décadas de 1970, 1980 e 1990. A edição é da Guerra & Paz. O último capítulo chama-se " Horizonte 2030: a deslocação do mapa de competições e rivalidades" - não deixem de o ler.
Lei da calamidade pública não é para qualquer coisinha.
Calvão da Silva, ministro da Administração Interna, a propósito das cheias em Albufeira, que comentou dizendo que "Deus nem sempre é amigo".
Semanada
• Concluiu-se a perfuração do túnel do Marão • ainda não se conhecem os termos do acordo entre PS, PC e Bloco • o PS admitiu fazer acordos diferentes com o Bloco de Esquerda e o PCP • António Costa fez uma acção de charme para seduzir os banqueiros • Francisco Assis organizou, para este fim-de-semana, um encontro na Mealhada dos críticos da aliança à esquerda • José Sócrates vai fazer uma conferência em Vila Real de Trás-Os-Montes para analisar o estado da nação • em resposta, António Costa convocou para sábado e domingo a Comissão Nacional e a Comissão Política Nacional do PS para debater os acordos com PC e Bloco • Francisco Assis antecipou o almoço da Mealhada de sábado para sexta; Sócrates não cancelou a conferência de Vila Real • Santos Silva, o amigo de Sócrates, levantou 1,1 milhões de euros em numerário no espaço de três anos, cerca de 30 mil euros por mês • a emigração cresceu mais de 50% entre 2010 e 2013 • o autódromo do Algarve, em Portimão, um projecto de 200 milhões de euros acarinhado por Manuel Pinho e José Sócrates, acabou por se revelar um enorme buraco e entrou em processo especial de revitalização para evitar a falência, sem nunca ter conseguido atingir o que se propunha em termos de criação de emprego e dinamização da economia • o Futebol Clube do Porto ofereceu roupões de turco personalizados, com os respectivos nomes, aos membros da equipa de arbitragem de um jogo recente no Dragão • o deputado do PAN finalmente tomou posição e manifestou-se contra a utilização da águia Vitória nos jogos do Benfica • o tempo tem estado de chuva - na política e fora dela.
Folhear
A revista Vanity Fair de Novembro tem Rhianna na capa, fotografada em Havana por Annie Leibovitz, mas isso está longe de ser o mais interessante desta edição, apesar do superior trabalho de Leibovitz. O meu primeiro destaque vai para o relato de um almoço com Patti Smith, em que ela sublinha "não ser como Judy Garland". Muito bom o artigo "Cinema Político" que recorda os documentários sobre a campanha de nomeação de Kennedy, "Primary", e "The War Room", o documentário sobre a primeira campanha de Bill Clinton. Por falar em presidenciais, outro artigo interessante é sobre a forma como está a ser montada a campanha de Hillary Clinton - e há ainda uma história sobre os paradoxos de Donald Trump. Olho para todos estes artigos e não posso deixar de pensar na diferença que existe na abordagem editorial de uma campanha presidencial e dos seus candidatos nos Estados Unidos e por cá - e não é uma questão de dinheiro ou de dimensão - é meramente de ideias. Saindo da política, para um grupo de amigos meus que têm o ritual de viajarem para conhecer os restaurantes com estrelas Michelin, recomendo "The Fault In Their Stars", uma bela viagem ao efeito "Guerra das Estrelas" do mais famoso guia de restaurantes do mundo. Mas confesso que o artigo que mais me deliciou foi uma viagem pelo universo de Tom Wolfe, através dos seus arquivos pessoais, agora disponibilizados - uma história do homem que mudou a forma de contar histórias.
Gosto
Da criação do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no Porto, que vai juntar três grandes unidades científicas e 800 investigadores.
Não gosto
Putin lidera a lista dos mais poderosos do mundo elaborada pela Forbes.
Ver
Esta semana, várias sugestões. Atravessando o Tejo, rumo a Almada, podemos ir ver "4 Fotógrafos de Moçambique" - Moira Forjaz, José Cabral, Luís Basto e Filipe Branquinho. Alexandre Pomar esteve na sua origem e está na Galeria Municipal de Arte, Avenida Álvares Pereira 4 - integra o mês da fotografia de Almada. Mais a sul ainda, em Évora, na Fundação Eugénio de Almeida, Daniel Blaufuks apresenta, em 20 fotografias marcantes, a sua visão do Convento da Cartuxa, o único mosteiro contemplativo masculino em Portugal. Em Lisboa, e só de 6 a 9 de Novembro, na Appleton Square (Rua Acácio Paiva 27, Alvalade), Albano da Silva Pereira apresenta "Life Goes On", uma mostra de fotografias paralela à exibição no DocLisboa do documentário feito pelo mesmo autor, e com o mesmo título, sobre a obra de Robert Frank.
Para terminar, duas exposições sobre objectos do quotidiano - a primeira é "Móveis Olaio, Produção, Inovação E Qualidade", que está no Museu da Cerâmica de Sacavém até final de Dezembro, e a outra é a exposição-homenagem à cadeira portuguesa, na Casa de Santa Maria, em Cascais e que, entre muitas peças, tem um exemplar original da célebre cadeira Gonçalo, que povoou as esplanadas portuguesas nos anos 1950 e 1960 e que agora regressou e é produzida pela Arcalo.
Ouvir
Rodrigo Leão compõe normalmente com o seu sintetizador e o computador e, nos seus primeiros discos, chegou a usar um teclado Casio básico. Desta vez, as suas composições passaram da máquina para uma orquestra e o novo disco, "O Retiro", o seu primeiro para a prestigiada editora Deutsche Grammophon, foi gravado com a Orquestra e Coro da Gulbenkian no Grande Auditório da Fundação. Além da Orquestra, Rodrigo Leão recorreu ao seu habitual quarteto de cordas (Viviena Tupikova, Bruno Silva, Carlos Tony Gomes e Denys Stetsenko) e a parceiros habituais como Celina da Piedade e Selma Uamusse, que interpreta "Melancolia". Os arranjos orquestrais são de Steve Bartek, ex-Oingo Boingo. Rodrigo Leão, que tem uma carreira já com três décadas, consegue, com "O Retiro", uma das suas ambições - um disco que capte os seus ambientes sonoros habituais, com outros recursos e que leve a sua música a um outro patamar. O disco inclui o tema "Florestas Submersas", criado expressamente para a exposição com o mesmo nome, desenvolvida por Takashi Amano para o Oceanário de Lisboa. Eu, que sigo desde o início o percurso musical de Rodrigo Leão, e que assisti a várias provas da sua capacidade, fiquei impressionado com a criatividade, a sensibilidade e a energia deste disco. Ele vai apresentá-lo ao vivo, com os intervenientes na gravação, no próximo dia 18 no Coliseu do Porto e nos dias 20 e 21 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
Arco da velha
Em recentes acções de fiscalização, a ASAE detectou a comercialização de produtos apresentados como bife de peru, mas que não tinham vestígio de qualquer espécie de carne, e de queijo que nunca viu leite por perto e era feito de pasta vegetal.
Provar
O Hotel Yeatman é todo um episódio, ligado à história do Douro - o seu nome vem da família Yeatman, ligada ao comércio do Vinho do Porto desde 1838. Trata-se de um dos melhores hotéis portugueses, situado em Gaia, com vista para o Porto. Foi planeado de raiz para a função e foi inaugurado em 2010. Desde o início procurou a excelência no serviço e o conforto no acolhimento. No projecto, foi pensado um restaurante que conjugasse o melhor da gastronomia com uma cuidada selecção de vinhos - o hotel tem, aliás, uma garrafeira invejável e desenvolveu parcerias com os melhores produtores nacionais. O restaurante, que conquistou uma estrela Michelin continuadamente em 2012, 2013, 2014 e 2015, é dirigido pelo "chef" Ricardo Costa, natural de Aveiro. Anteriormente, Ricardo Costa havia sido já distinguido com estrelas Michelin em 2009 e 2010 no restaurante da Casa da Calçada, em Amarante. Ao almoço está disponível um menu sazonal, com seis pratos. Os menus de degustação começam no Menu do Chef com dez pratos, e nas suas variantes - uma selecção de seis ou quatro pratos a partir do Menu do Chef. Em todos os casos, são propostas selecções de vinhos adequadas aos menus escolhidos. E, claro, se não quiser o menu de degustação, tem ainda a possibilidade de escolher na carta pratos de referência do Yeatman, como o "foie gras" com pêra bêbada, o arroz caldoso de lavagante ou a caldeirada de peixe galo, ovas e carabineiro. Este é um daqueles restaurantes em que tudo corre bem do princípio ao fim e, mesmo sendo a conta inevitavelmente pesada, apesar da extensão dos menus, a cozinha é ligeira e, não poucas vezes, uma descoberta.
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