Opinião
A esquina do Rio
A posição da Galp e da REN relativa à taxa extraordinária sobre o sector energético provoca um rombo de 60 milhões nas contas do Estado
Back to basics
O preço é aquilo que se paga, o valor é aquilo que se obtém.
Warren Buffett
Semanada
A posição da Galp e da REN relativa à taxa extraordinária sobre o sector energético provoca um rombo de 60 milhões nas contas do Estado • o Tribunal Constitucional detectou ilegalidades em todas as candidaturas às presidenciais de 2011 • as gorduras do Estado aumentaram mil milhões entre 2007 e 2015 • a Assembleia da República teve prejuízos de 6,17 milhões de euros em 2013, um valor dez vezes superior ao resultado negativo de 2012, de 680 mil euros • Marques Mendes disse que achava que uma empresa, da qual é sócio, se extinguira em 2011 - por acaso, a referida empresa, JMF, está ligada ao caso dos vistos dourados • Portugal registou, este ano, o número mais baixo de incêndios florestais dos últimos 25 anos • a GNR caçou, este ano, 39 incendiários em flagrante • uma empresa que assegura transportes escolares em Santa Maria da Feira deixou uma criança de três anos, por esquecimento, dentro do autocarro durante quatro horas; nove crianças por dia sofrem quedas graves • uma rusga da PSP num bar em Alcântara levou a que, subitamente, fossem deixadas no chão da pista de dança 11 armas brancas, uma soqueira e quase 200 doses de droga • Braga é a cidade portuguesa com maior número de pessoas inscritas num "site" destinado a promover a infidelidade nas relações afectivas - 17 mil utilizadores em Braga, 15 mil no Porto e 13 mil em Lisboa • parece que a RTP vai ficar com a transmissão dos jogos da Champions League por ter oferecido mais do que a TVI pagava por eles; no Reino Unido, os jogos da Champions não são licitados pela BBC e são transmitidos pela ITV e pela Sky Sports, ambas privadas, como a TVI.
Inutilidades
Uma coisa que me surpreende, cada vez mais, é como, neste tempo em que a propagação da informação surge instantaneamente em várias plataformas, alguns protagonistas da vida pública, seja política ou económica, persistem em achar que podem deixar para depois uma resposta. Neste tempo, quem não responde, foge; quem não fala, esconde. Mesmo que não seja assim, o efeito é esse. O silêncio penaliza quem o amplifica. Os últimos meses estão cheios de casos destes - o BES, claro, mas também agora os efeitos directos e colaterais dos vistos gold, as taxas e taxinhas de Lisboa, as colocações de professores, o Citius e etc. e etc.
O desgaste de imagem dos protagonistas destas situações deve-se, em primeiro lugar, a uma má gestão dos tempos de resposta, à falta de capacidade de ter um discurso organizado, à falta de compreensão e previsão dos efeitos de uma medida, de um discurso, de uma decisão. Não estamos no século XIX para dizer, como ouvi por estes dias a um ilustre académico empossado num cargo público, que só para a semana se pronunciaria sobre determinado assunto, aflito por o tutelar ministro lhe ter passado a responsabilidade da reacção. O que sai fora de tempo é inútil. Quem se deixa cair na inutilidade, não se pode queixar de ser depois ignorado, ultrapassado, e de não ter voz activa na matéria que era suposto governar. É isto que amiúde se passa no reino.
Dixit
"Não menti em nenhum dos momentos em que falei neste Parlamento".
Maria Luís Albuquerque, Ministra das Finanças, na Comissão Parlamentar de inquérito ao BES
Ouvir
Neil Percival Young completou 69 anos há poucos dias. Está a tornar-se num hábito, verdadeiramente fruto dos tempos, falar de novos trabalhos de nomes da primeira linha da música popular anglo-americana que continuam a fazer bons discos com idades, digamos, avançadas. Aqui há umas semanas, falei de Leonard Cohen, que vai nos 80 anos, hoje é a vez de Neil Young. A sua carreira musical começou em 1966 com os Buffalo Springfield, portanto, há quase cinco décadas - e o mais engraçado é que continuo a ter um imenso prazer a ouvir os discos dos Buffalo Springfield. Depois vieram os Crazy Horse, Crosby, Stills, Nash & Young e, em 1979, esse cataclismo conhecido por "Rust Never Sleeps", que mudou a minha vida e a maneira de ouvir música - a minha e de muitos mais. É curioso que, após todos estes anos, o novo disco de Young tenha uma versão acústica e outra com uma orquestra; em 78, a digressão "Rust Never Sleeps" tinha uma primeira parte acústica e outra eléctrica. Passaram-se os anos e a electricidade ficou depurada. Mas mantém-se a ideia da pureza das formas - e, sobretudo, a intensidade de interpretação - que só a versão acústica (apenas com guitarra, ukelele, piano e voz) transmite. A presença da orquestra em vez dos Crazy Horse é o sinal dos tempos e da idade. Mas é também o testamento da insubordinação e imprevisibilidade que Neil Young gosta de mostrar. São dez canções novas - quase 20 de tão diferentes que parecem nas duas versões. "Storytone", este novo disco de Young, mostra o que ele sente, o que ele pensa e, acima de tudo, como continua atento a tudo à sua volta. Gosto muito de "All Those Dreams", "Like You Used To Do", "Plastic Flowers", o épico "Who's Gonna Stand Up?" ou road songs como "I Want To Drive My Car" e "Glimmer". Ou, sempre, da maneira como canta o amor, como aparece em "I'm Glad I Found You" ou "When I Watch You Sleeping". Nos últimos tempos, antes deste disco, começou a pintar aguarelas, separou-se, apaixonou-se e gravou um disco em sistemas primitivos de som com Jack White. A seguir, pensou numa orquestra. Faz sentido. (CD Reprise, na Amazon)
Gosto
Do novo sistema de informação de proximidade, o Tomi, instalado em estações de Metro de Lisboa, uma espécie de tablet gigante com sugestões sobre a zona e que até selfies pode fazer.
Não gosto
A um mês do fim do primeiro período, ainda há alunos sem aulas de compensação devidas pelos atrasos nas colocações.
Ver
Uma semana com muito que observar. Começo pela Galeria Luís Serpa Projectos (Rua Tenente Raul Cascais 1B) onde abriu Skate.Exe - é a sétima exposição do ciclo "Olho Por Olho Mente Por Mente", comissariado por António Cerveira Pinto. André Sier partiu do universo do skate e esta exposição (na imagem) apresenta uma série de obras interactivas multimédia, fotografia digital e esculturas 3D. Logo a seguir, destaque para o novo espaço da Galeria das Salgadeiras (Rua da Atalaia 12 a 16) - e para a inauguração uma colectiva, "grifo", que reúne trabalhos de Helena Gonçalves, Teresa Gonçalves Lobo, Pauliana Valente Pimentel, Cláudia Garrudo, Jaime Vasconcelos, Joanna Latka, e Marta Ubach. Na galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho 71 r/c esq), duas exposições: "Fúcsia", de Jorge Molder, e "A memória Viva Nasce A Cada Dia, Florescendo", de Catarina Branco. E, finalmente, no Museu do Chiado, a começar agora e durante um ano, apresentação de trabalhos de artistas portugueses que têm vindo a desenvolver trabalho lá fora, mas sem eco em Portugal, sob o título "Ecos On The Wall: diáspora portuguesa". Finalmente, em "A Pequena Galeria", (Av. 24 de Julho 4C) este é o último fim-de-semana de "A Fotografia Nas Redes Sociais".
Arco da Velha
Em pouco mais de um ano, os vistos gold passaram de "case study" para caso de polícia e, pela primeira vez, um juiz mandou prender um director de uma das polícias do Estado.
Provar
Quando se tem uma segunda estrela Michelin num restaurante, merecida, não se pode desfazer a imagem criada com o que acontece num outro restaurante a uma centena de metros do premiado. O Belcanto recebeu esta semana a segunda estrela Michelin e José Avillez está de parabéns. Mas o bem que faz no Belcanto não pode justificar o que permite e tolera ali ao lado no Mini Bar, no Teatro de S. Luiz. Avillez tem cinco restaurantes na zona do Chiado e um no Porto. Talvez já não dê a atenção devida à sua marca e isso não é bom. No Chiado, além do Belcanto, estão o inicial Cantinho do Avillez, o Café Lisboa, no S. Carlos, a Pizzaria Lisboa, ali ao pé, e o Mini Bar, no S. Luiz. Já experimentei os cinco e não recomendo a Pizzaria Lisboa nem o Mini Bar. A Pizzaria porque não tem os mínimos de qualidade e serviço, o segundo porque a confecção e a qualidade são inconstantes e o serviço é pretensioso e ineficaz. Fui lá esta semana e explicaram-me que finger food, que é o nome que dão ao que servem, se chama assim porque se come com os dedos; apreciei saber. Só não percebo porque é que num sítio de tapas se esconde o vinho do cliente, sem haver condições para existir cuidado nem atenção para o servir quando ele é preciso na mesa. Há um lado pretensioso no contraste entre os petiscos e o serviço, que é fatal. Constatei ainda que o tempero e a qualidade dos pratos são variáveis - o cornetto temaki de atum com soja picante estava bom num dia e exageradamente temperado noutro; a cavala fumada com salada de maçã e aipo com trufa era insípida; as vieiras, cozinhadas no ponto, vinham, no entanto, com o sabor próprio demasiado ofuscado por um duvidoso tempero thai. Salvou-se o ferrero rocher "parece que é, mas não é", que leva foie gras, manteiga de cacau, natas e avelã. E salvou-se o vinho, um belo branco feito em parceria com José Bento dos Santos, com base nas castas Arinto e Viognier - pena é que fosse preciso fazer um requerimento de cada vez que se queria continuar a degustá-lo. A única coisa constante foi o empratamento viçoso. Mas os petiscos, petiscam-se, eventualmente com os dedos, sem ser só com os olhos. Estaremos perante um daqueles momentos em que a forma pretende superar o conteúdo?
Folhear
Se há coisa de que gosto é de uma edição provocadora. E poucas edições são tão atraentes, provocadoras e inesperadas como esta "O Bordel das Musas ou as nove donzelas putas", de Claude Le Petit, agora lançado pela Guerra & Paz. A boa tradução é de Eugénia de Vasconcellos e as ilustrações, a condizer com o espírito libertino da obra, são de João Cutileiro. A edição é bilingue e parte do original francês, escrito no século XVII. O autor acabou na fogueira aos 23 anos - e, como diz o editor Manuel S. Fonseca no texto de apresentação, "queimaram-lhe o corpo por causa dos pecados da alma". João Cutileiro, num curto texto, recorda que "há pouco mais de 150 anos, ainda na praça do Giraldo, havia autos de fé e execuções com palco e tudo" E remata: "Quando faço estes desenhos penso sempre nisto". A tradutora, Eugénia de Vasconcellos, pelo seu lado, sublinha o prazer que sentiu em "levar-lhe um verso que seja para outro país, outra língua", recordando: "Claude Le Petit morreu muito jovem, a poesia não lhe cabe na idade; acredito que estamos diante de uma voz singular que tentou e desconseguiu romper o casulo das suas circunstâncias".