Opinião
A esquina do Rio
Um dia se fará a história deste processo, a história de como se aumentou artificialmente o consumo de televisão, de como se aumentou o número de resultados indefinidos e se criaram distorções no mercado, como se fomentou a ruptura, como se pôs em causa a auto-regulação.
Audiências
Um dia se fará a história deste processo, a história de como se aumentou artificialmente o consumo de televisão, de como se aumentou o número de resultados indefinidos e se criaram distorções no mercado, como se fomentou a ruptura, como se pôs em causa a auto-regulação. Esta semana, a RTP e a TVI deixaram a CAEM, a entidade que superintende na medição de audiências. Na origem estão todos os problemas com a audimetria da GFK. Vale a pena não esquecer quem desenhou e impulsionou o actual e polémico modelo, na altura em que o concurso para a nova audimetria foi lançado. Vale a pena não apagar a memória do que foi este processo, do papel desempenhado por cada protagonista, das divisões que provocou, dos erros causados e, eventualmente, dos prejuízos provocados. Teria sido possível encontrar equilíbrios entre a GFK e a Marktest e teria sido possível evitar a saída da RTP e TVI se tivesse havido mais bom senso. Para memória futura vejamos as diferenças verificadas na medição de audiências de televisão no primeiro trimestre deste ano. No painel da CAEM/GFK, a RTP1 obteve 12% de share, a RTP2 teve 2,7, a SIC atingiu 23,2 e a TVI 25,7, enquanto o conjunto dos canais de cabo alcançou 24,9% e o conjunto de "outros" não identificados teve 11,5%. Mas no painel da Marktest/Kantar os números são um pouco diferentes: 16,6% para a RTP1, 2,2% para a RTP2, 23% para a SIC e 27,5% para a TVI, enquanto o cabo ficou nos 25% e os "outros" não identificados em apenas 5,8%. Como se vê, persistem as diferenças, com sobrevalorização na CAEM/GFK dos não identificados, e diferenças, para menos, na RTP1 (4,6%) e TVI (2,5%). Esta semana foi eleita nova direcção para a CAEM. Espera-se que seja capaz de voltar a colocar o processo nos carris. E que volte a imperar o bom senso e se corrijam as anormalidades técnicas que persistem em existir.
Ouvir
"O Grande Medo do Pequeno Mundo" é o terceiro álbum de Samuel Úria e começa logo assim: "Duplas Falsas Partidas/São motins contra quem/ Usa pólvora seca/ Para fazer-nos correr". Úria é dos casos mais interessantes, surgidos nos últimos anos, a escrever canções em português e as suas letras são um exemplo do que a nossa língua permite fazer - falando de temas actuais, de estados de espírito, com ritmo, com sonoridade. Às vezes conta histórias, noutras deixa recados. A sua voz molda-se bem com as palavras e o seu caminho musical vai ficando mais coerente com a forma de cantar as palavras que usa. Confesso que gostava de ouvir outros cantores interpretarem algumas destas canções e também gostava de ouvir Úria, por exemplo, a cantar versões de alguns temas de Sérgio Godinho. Uma coisa é certa: não há, fora do fado, muita gente a percorrer, com esta qualidade e consistência, os caminhos das novas canções cantadas em português. Podia ser melhor, é imperfeito q.b. Mas isso abre a possibilidade de um dia destes conseguir dar o salto. Falta-lhe método e produção - o que, esclareça-se, não deve querer dizer complicação e sim contenção e força.
Folhear
A Madeira foi das primeiras regiões do país onde a fotografia se desenvolveu, praticamente desde a sua descoberta, na primeira metade do século XIX - e isto pela mão fundamentalmente de dois estúdios: Vicentes Photographos e Perestrellos Photographos, a que rapidamente se adicionaram João Francisco Camacho, Augusto Maria Camacho, Augusto César dos Santos e Joaquim Augusto de Sousa. O mais notável é a qualidade do trabalho - estético e técnico - da maioria do trabalho destes fotógrafos madeirenses. Em 1982, nasce "A Photographia - Museu Vicentes", na casa onde estava instalado o estúdio do mesmo nome. Hoje em dia estão lá depositados e conservados cerca de 800 mil negativos que são um testemunho da vida do arquipélago durante mais de uma centena de anos, desde meados do século XIX. Por iniciativa da delegação regional da Madeira da Ordem dos Economistas, foi editado um livro intitulado "As Origens do Turismo Madeirense - Quintas e Hotéis do acervo da Photographia Museu Vicentes". É um álbum fascinante e ao longo das suas 180 páginas vemos a evolução da ilha, a transformação da sua paisagem, os grandes marcos do turismo madeirense, desde as quintas de aluguer onde se hospedavam os primeiros visitantes, até ao campo de golfe do Santo da Serra e respectiva Casa de Chá, passando, claro, pelo histórico Hotel Reid's e os outros grandes hotéis madeirenses construídos na primeira metade do século XX. A obra, já nas livrarias, mostra imagens registadas entre cerca de 1870 e o final dos anos 50 do século passado.
Provar
Gosto de bons pequenos-almoços, tomados com calma e de preferência em casa. Aos fins-de-semana permito-me uma pequena indulgência: torradas em bom pão, obviamente com manteiga. O pão alentejano, de Beja, da padaria "Fermentopão", que se encontra com alguma facilidade nos supermercados lisboetas, é a minha primeira escolha. Mas quando não o encontro, há uma boa alternativa, da península de Setúbal, perto de Palmela, que é o pão da Lagoinha, e que também se encontra, igualmente fresco, em alguns supermercados. Para a coisa ficar completa, prefiro manteiga dos Açores e as minhas duas escolhas vão para a manteiga Nova Açores, que tem boa distribuição em supermercados, e na mais artesanal (e mais saborosa) Manteiga Uniflores (produzida pela Cooperativa Ocidental da Ilha das Flores) e que se pode encontrar na Mercearia Criativa, da Avenida Guerra Junqueiro, em Lisboa. E assim se começa bem o dia.
Arco da velha
Angela Merkel confessou, numa entrevista, que tem "certas capacidades de camelo" que lhe fazem aumentar a resistência, disse-se atraída por homens "de olhos bonitos" e admitiu que um dos seus desejos secretos é cortar lenha.
Semanada
Passos Coelho anuncia várias novas medidas; Paulo Portas convoca imprensa para comunicação; Passos Coelho diz que Portas participou activamente na elaboração das medidas; Paulo Portas vem dizer que foi e será sempre contra uma das medidas anunciadas; na sua crónica na SIC, Marques Mendes afirmou saber que vai ser convocado a curto prazo o Conselho de Estado; Aguiar Branco, ministro da Defesa, disse que o Governo está coeso e que o CDS está tranquilo; Fernando Seara disse que Paulo Portas assumiu uma posição muito respeitada em defesa dos pensionistas; o ministro Poiares Maduro disse, na sua primeira entrevista, não ver, na taxa suplementar sobre os pensionistas, divergência entre Passos Coelho e Paulo Portas; Pedro Passos Coelho disse à UGT que afinal não haverá nova taxa sobre os pensionistas; o novo secretário de Estado do Desporto decidiu, dez dias depois de tomar posse, conceder benefícios fiscais a quem der donativos ao clube de que é sócio, o Vitória de Guimarães.
Ver
Muita actividade na Gulbenkian justifica-se passar lá algum tempo. Além da exposição documental sobre a vida e a obra da escritora Clarice Lispector, "A Hora da Estrela", destaque para a mostra de cerca de duas centenas de desenhos que integram "A Obra Perdida de Emmerico Nunes", um desenhador e ilustrador português que publicou quase toda a sua obra em revistas alemãs, nas décadas de 10 e 20 do século passado - com um traço fino, de humor e de observação. Além disso, o Centro de Arte Moderna apresenta "Gálapagos", o resultado de uma residência artística ali realizada, patrocinada pela Fundação em parceria com a Fundação Charles Darwin e o Museu de História Natural de Londres. E, finalmente, vale a pena ver "360º - Ciência Descoberta", uma exposição sobre a ciência ibérica na época dos descobrimentos, que apresenta os desenvolvimentos científicos e técnicos associados às grandes viagens oceânicas de Portugueses e Espanhóis nos séculos XV e XVI, e o impacto que causaram na ciência europeia. Por fim, se quiser petiscar, tem ali ao lado a Cafetaria do Centro de Arte Moderna, que está com uma nova dinâmica - que se nota, aliás, no Facebook.
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