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Luís Pais Antunes - Advogado lpa@plmj.pt 25 de Julho de 2017 às 00:01

Estados de graça

Nada permite concluir que a "macromania" que varreu a paisagem política francesa, fazendo praticamente desaparecer o Partido Socialista do mapa e infligindo uma derrota inesperada à direita, foi apenas mais um daqueles aguaceiros de verão que rapidamente se esquecem.

Muito poucas semanas após uma eleição incontestada, o novo Presidente da República francesa, Emmanuel Macron, parece ter perdido o brilho inicial e cai vertiginosamente nas sondagens, vendo a sua taxa de aprovação baixar de uns muito generosos 64% para 54%, de acordo com os dados revelados este domingo por uma sondagem do Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP).

Não sendo propriamente uma novidade entre os Presidentes franceses - a história recente da política francesa ensina-nos que só muito raramente as boas expectativas iniciais aguentam por muito tempo… -, a dimensão da queda impressiona e é apenas ultrapassada pela perda de 20% em apenas dois meses (de 59% para 39%) protagonizada por Jacques Chirac a seguir à sua primeira eleição para o Eliseu em 1995.

 

Há naturalmente explicações mais ou menos certeiras para que muitos se comecem já a sentir desiludidos: entre os cortes nas despesas militares que conduziram à demissão do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, os cortes nos subsídios de habitação e os cortes nos impostos - ou o seu adiamento - que puseram o Presidente e o seu primeiro-ministro de "candeias às avessas", não faltam certamente motivos que podem ajudar a explicar a razão da quebra de confiança.

 

Três meses é um período excessivamente curto para poder tirar quaisquer conclusões. Menos ainda se nos lembrarmos que, por exemplo, François Hollande até começou muito bem, mantendo-se durante vários meses acima dos 55%, caindo depois drasticamente para valores inimagináveis que levaram, pela primeira vez, um Presidente da República a ter uma taxa de aprovação inferior a 20%. O mesmo se diga de Nicolas Sarkozy, cujas opiniões positivas aumentaram nos meses iniciais - chegando quase aos 70% - antes de a tendência se inverter simetricamente.

 

Nada permite concluir que a "macromania" que varreu a paisagem política francesa, fazendo praticamente desaparecer o Partido Socialista do mapa e infligindo uma derrota inesperada à direita, foi apenas mais um daqueles aguaceiros de verão que rapidamente se esquecem. Mas, por trás dos números e das percentagens, há alguns dados que deviam merecer a nossa atenção pelo que aparentam significar em termos da relação do eleitorado com os agentes políticos.

 

Pegando no exemplo francês, verificamos que as expectativas iniciais e a taxa de aprovação começam a níveis cada vez mais altos. Contrariamente aos seus antecessores (Pompidou, Giscard, Mitterrand, Chirac), os três últimos Presidentes iniciaram os seus mandatos todos acima dos 60%. Só De Gaulle (61%) - num contexto claramente diferente - tinha ultrapassado tal percentagem. Dois deles - os já citados Sarkozy e Hollande - não se conseguiram fazer reeleger e tiveram "vida curta", ao contrário dos grandes nomes que dominaram a vida política francesa nos últimos 50 anos. Só por milagre regressarão à "grande política". Ainda é cedo para antecipar o que irá ocorrer no caso do terceiro - Macron - que só agora está a iniciar o seu percurso presidencial.

 

Seja como for, os níveis de volatilidade política parecem estar a aumentar na proporção direta das expectativas geradas. As pessoas querem cada vez mais coisas novas e diferentes. Na política, como no resto. Invariavelmente descobrem que as novas não o são tanto assim e que as diferenças, quando existem, não são necessariamente para melhor. Por cá, já estivemos mais longe de o descobrir, também…

 

Advogado

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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