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17 de Novembro de 2016 às 20:00

Admirável mundo novo

As preocupações e as angústias das pessoas podem não ser tão diferentes assim. Mas a forma, o conteúdo e a rapidez das respostas que lhes são oferecidas são. E esse é o grande desafio que se coloca às organizações, sejam elas grandes ou pequenas.

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No curto espaço de duas semanas, "saltei" da Web Summit em Lisboa para o Encontro de Fundações da CPLP em Maputo. Naturalmente, um evento tecnológico de dimensão mundial, com mais de 50.000 participantes, pouco ou nada tem que ver com um encontro de algumas dezenas de fundações de países de língua portuguesa dedicado ao papel que aquelas podem desempenhar no âmbito da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável.

Mas mais do que dizer o óbvio - claro que são realidades tão ou mais apartadas do que as duas capitais, separadas que estão por quase 8.000 quilómetros em linha reta -, o que sobretudo me interpelou foi o facto de grande parte das pessoas com quem falei, num e noutro local, partilharem preocupações, desafios e angústias que não são tão diferentes quanto poderia pensar-se à primeira vista.

 

O chão comum (porventura errado): o mundo é hoje mais incerto e mais inseguro, mas simultaneamente mais promissor porque a oportunidade da mudança é cada vez maior. O sentimento de que tudo está a mudar demasiado depressa e de que os vencidos de hoje podem ser já os vencedores de amanhã, caso saibam adaptar-se melhor e mais rapidamente à evolução das circunstâncias. A convicção de que uma boa ideia, um bom discurso ou um plano bem desenhado podem bastar para mudar uma vida ou até o mundo, como se de um Kubo Robot (projeto vencedor na Web Summit) se tratasse.

 

Se as preocupações, desafios e angústias não são tão diferentes assim, já a forma como esses dois mundos se manifestam é claramente distinta. É sobretudo no domínio da linguagem que se cava um oceano de distância entre o mundo da tecnologia e o mundo das fundações. Tudo ou quase tudo tem um tom diferente, um tempo diferente e uma velocidade diferente. Como se estivéssemos em dois mundos separados, com códigos de comunicação diametralmente opostos, imagens no lugar das palavras e relógios em que o ponteiro dos minutos substitui o das horas.

 

Independentemente dos gostos e preferências de cada um será o "mundo novo" a vencer. Nas famílias e nas empresas, na política e na economia, nas artes ou no desporto, a linguagem está a mudar e vai mudar mais e cada vez mais depressa. Seremos mais diretos e gráficos e menos redondos e conciliadores. Mais imediatistas e pragmáticos e menos elaborados e "profundos". Mais radicais e menos ponderados. Provavelmente, também mais eficientes e menos acomodados.

 

As "surpresas" eleitorais recentes - e as que aí vêm… - só o são porque muitos continuam a preferir não ver aquilo que se passa à sua volta. A informação deixou de ser o privilégio de poucos, porque as formas de comunicação e de perceção dessa comunicação se alteraram radicalmente. Poucos discursos elaborados podem resistir hoje em dia à força de uma frase forte ou de uma imagem certeira. Poucas entrevistas bem preparadas, por mais consolidadas que sejam, conseguem sobrepor-se à vaga gerada por 140 caracteres de um "tweet" replicado por dezenas de milhares de seguidores. Poucos deslizes escapam à voragem de um "post" bem conseguido no Facebook.

 

As preocupações e as angústias das pessoas podem não ser tão diferentes assim. Mas a forma, o conteúdo e a rapidez das respostas que lhes são oferecidas são. E esse é o grande desafio que se coloca às organizações, sejam elas grandes ou pequenas, políticas ou tecnológicas, industriais ou de serviços: saber falar com as pessoas, ouvi-las e dizer-lhes, sem rodeios, ao que vêm, o que têm para lhes dar e em que condições.

 

Advogado

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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