Opinião
De que governo precisa a CGD?
Mais do que uma simples dança de nomes, o caso do futuro conselho de administração (CA) da Caixa Geral de Depósitos (CGD) é um verdadeiro case-study académico na área do governo das sociedades.
A carta do Banco Central Europeu (BCE), imortalizada por Marques Mendes, contém recomendações explícitas sobre a orgânica de comando, o que acrescenta um picante muito especial à discussão. Afinal, de que governo precisa a CGD?
Hoje, mais do que nunca, a CGD precisa de um órgão executivo competente, motivado e alinhado por objectivos. Parece óbvio, mas durante muitos anos as coisas não foram exactamente assim. Durante tempo a mais, a conveniência política dos nomes e das cadeiras, o jogo dos arranjos e dos equilíbrios, sobrepôs-se ao essencial - gerir capazmente o maior banco português. Neste domínio, o elenco que se anuncia para a administração executiva da CGD parece dar as garantias necessárias, o que é uma boa notícia, se os indicados não se cansarem entretanto da espera.
Ao contrário do que a tribo bancária gosta de fazer crer, um bom elenco executivo não deve ser só composto por gente da banca. Como em qualquer sector, é saudável a entrada de profissionais com experiências feitas noutras áreas, porque assim se enriquece o nível de conhecimento inter-industrial e se alarga o campo de visão estratégica. Na equipa de sete membros da CGD, a proporção encontrada entre insiders (cinco) e outsiders (dois) afigura-se correcta.
Não colhe minimamente a argumentação do BCE quanto à necessidade de separação de funções entre as figuras de chairman e CEO. Certamente inspirado nas fórmulas instantâneas que os novos cultores da governança decretaram como "melhores práticas", o BCE não consegue perceber que o desenho das estruturas governativas depende de múltiplos factores, entre os quais a concentração accionista e a natureza do capital; só depois intervêm outros critérios, mais ou menos alinhados com a estética anglo-saxónica e os seus ditames de transparência (cujos resultados, aliás, são pouco menos do que pífios). Alguém terá de explicar ao BCE, com vagar, que a CGD não está cotada em bolsa e o seu capital é 100% público.
Nos últimos anos, assistimos a uma inflação do número de administradores nas grandes organizações, em especial dos não-executivos. O racional para esta moda é cristalino - assim se assegura uma melhor representação dos stakeholders e se introduz maior diversidade no acompanhamento dos negócios. Ora, está por demonstrar que estes modelos tenham conduzido a melhores desempenhos de gestão. Em larga medida, porque os não-executivos, muitos com estatuto de independentes, são frequentemente capturados pelos interesses accionistas, públicos ou privados, no momento em que são convidados para o cargo. Noutros casos, porque introduzem lentidão no processo decisório.
No actual contexto, face ao desafio que a nova administração da CGD terá pela frente, é duvidoso que um modelo a 19 seja o mais indicado. Ter-se-á provavelmente perdido a oportunidade radical de reduzir o conselho a um elenco 100% executivo.
O acontecimento: somos capazes!
De vencer. De fazermos todos de Ederzitos nos momentos decisivos da vida. A vitória de Portugal no Euro é o maior shot de auto-estima nacional das últimas décadas (pelo menos). De repente, percebemos que não há fatalidades lusitanas. Quando se trabalha bem, vence-se, que foi o que nós fizemos ante todos os adversários que se nos depararam após a fase de grupos. A última vítima foi o tubarão que tinha devorado os outros tubarões.
Passámos todos a sentir-nos mais confiantes e afoitos, sim. Os medos, as "dores à Mamede" e outros bloqueios mentais podem ser vencidos. É bem provável que, pelo menos no plano desportivo, o astral se mantenha elevado por uns tempos.
Enquanto por cá continuamos a saborear o momento, em Paris a comunidade portuguesa decretou que nunca mais um dichote gaulês ficaria sem resposta. Mais - é hora de passar ao ataque! Foram muitos anos de tiradas trocistas ou, no mínimo, falsamente condescendentes, suportadas à custa da espinha. C'est fini!
Número do mês: 0,1%
315 mil milhões de euros foi quanto a União Europeia colocou, em Junho de 2015, no plano Juncker, destinado a financiar projectos de infra-estruturas, inovação e, transversalmente, as PME. O plano tem um horizonte temporal de três anos, tendo sido anunciado como uma arma de combate ao lado da economia real. O seu principal suporte é o BEI. Até aqui, nada de novo, não fora o facto de praticamente dele não se ouvir falar por terras portuguesas.
Um recente relatório do banco Natixis vem agora dar alguma luz sobre o uso dos fundos, despendidos 50 mil milhões de euros. Do dinheiro já atribuído em infra-estruturas e inovação, os principais beneficiários foram o Reino Unido (surprise!), com um grande avanço sobre Itália e França (2.º e 3.º classificados, respectivamente). Em matéria de apoio às PME, Itália, Alemanha e França ocupam os lugares do pódio, seguidos do Reino Unido e da Espanha. Tudo somado, o Reino Unido é o maior beneficiário, Itália, o segundo; os dois juntos asseguraram perto de metade das verbas atribuídas. A título de curiosidade, a Grécia recolheu uma fatia de 0,1%. Alguém sabe quanto coube a Portugal?
Economista; Professor do ISEG/ULisboa