Opinião
Certezas e incertezas
A actual maioria prometera-nos vigorosamente uma intervenção estruturada, racional e eficiente na máquina pública, garantira-nos saber tudo o que importava fazer e que a sua extraordinária equipa económica estava preparadíssima para essa missão patriótica.
- 1
- ...
1. Na História da Europa, a Alemanha só mudou de atitude quando a tal foi forçada pelas armas. No presente e no futuro, só alterará a sua atitude se for politicamente encostada às cordas. A janela de participação empenhada no processo de construção europeia, entre o fim da II Guerra Mundial e a queda do Muro de Berlim, não se deveu somente à envergadura política e à visão solidária de Adenauer, Brandt, Kohl e Schmidt – foi, em larga medida, uma imposição dos vencedores àqueles que tinham provocado a guerra e se viam agora sujeitos a um programa de auxílio para a sua própria reconstrução.
Integrada a RDA, expiados os pecados do III Reich, restabelecido o poderio económico perante uma Europa frouxa e envelhecida, os alemães sentiram que era chegado o momento de realizar a sua velha ambição – comandar as instituições europeias, ditar as regras do jogo, exprimir sem rebuço o seu histórico individualismo. Daqui não sairemos sem mudanças radicais. Desenganem-se os que pensam que após as eleições alemãs de Setembro, qualquer que seja o seu desfecho, a resolução da crise europeia ficará mais fácil. A menos que ela própria comece a sentir os efeitos das políticas recessivas que selectivamente impõe, ou que se veja cercada, será a mesma Alemanha de Schäuble.
Ora, nada disso aconteceu. Pior, não se vislumbra no aparelho governativo a mínima capacidade de gestão nem o naipe de competências necessário para levar a cabo a desejada reestruturação dos serviços públicos. Dá trabalho, bem sei. Hélas, as folhas de cálculo, cujo manuseio é inquestionavelmente uma das raras competências distintivas do Executivo, têm aí uma utilidade reduzida.
3. A recuperação económica em 2014 é uma miragem. O consumo interno quebrará de novo, o investimento estagnará ou retrocederá, o PIB permanecerá quieto e a confiança dos portugueses nos níveis pungentes de hoje. Talvez as exportações possam dar um sinal positivo, mas também aqui importa serenar. Não nos esqueçamos de que a melhoria das contas externas se tem ficado a dever à contracção do consumo interno e a um progresso algo atípico na exportação de certas categorias de bens – produtos refinados, ouro e artigos farmacêuticos –, mais do que à diversificação dos mercados. A sustentabilidade do crescimento registado, para mais em ambiente recessivo na generalidade dos países europeus, é duvidosa.
Perante este quadro, é pouco crível que as empresas portuguesas retomem o investimento. Na sua larga maioria, dispõem de capacidade produtiva excedentária e baixas expectativas. Investir em melhorias tecnológicas, de retorno incerto? Recorrer ao QREN, com os seus exaustivos procedimentos burocráticos e à sua desesperante lentidão? Aguardar por esse elefante branco chamado Banco de Fomento?
4. No dia 25 de Maio, o nosso ministro das Finanças marcará certamente presença em Wembley para assistir à final da Liga dos Campeões entre o Bayern de Munique e o Borussia de Dortmund. Vítor Gaspar não perderá o magnífico ensejo de se sentar entre alemães de gema e exultar com os cânticos e golos germânicos.
Economista; Professor do ISEG
Assina esta coluna mensalmente à quinta-feira