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Um confronto inevitável

A tecnologia atual é essencialmente libertária. Assenta numa grande liberdade de pensamento, num querer inovar sem restrições, na combinação de múltiplos elementos diversos e dispersos, na aceitação do erro e do voltar a tentar.

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Prospera num meio humanamente diverso, de múltiplas origens e culturas, mas também predisposto a uma circulação permanente entre locais e tarefas.

 

É este ambiente que tem permitido o grande desenvolvimento tecnológico das últimas décadas.

 

Pelo contrário, em geral, a política continua a mostrar uma grande dificuldade em superar um modelo herdado do século XIX. Funciona em meios fechados com baixa diversidade, onde se pratica a rotina, se teme a inovação e o livre pensar e, em consequência, se promove a mediania.

 

Estes dois ambientes, tão distintos, têm funcionado algo paralelamente. A tecnologia tem gerado enormes mudanças sociais, comportamentais e culturais que a política leva tempo a assimilar e acaba por tentar integrar através de legislação que, em muitos casos, nega a essência dessa tecnologia. Veja-se o caso dos direitos de autor ou das constantes tentativas de controlar a internet.

 

Estamos contudo a chegar a um momento em que a convivência entre estes dois mundos não é mais viável. A tecnologia está a criar uma sociedade que não é compatível com a política tal como ela existe. Do mesmo modo que a política vai derrapando para soluções que põem em causa o desenvolvimento tecnológico tal como o entendemos hoje.

 

A eleição de Trump representa o primeiro forte embate entre estes dois mundos. A velha sociedade resiste à mudança da única maneira que sabe. Regredindo ainda mais. Daí o crescimento dos nacionalismos, da xenofobia, das soluções primárias e nada informadas de que o eleito Presidente dos Estados Unidos é um perfeito repositório. Imaginar que vai poder combater a globalização no tempo da internet, reativar as velhas indústrias da segunda revolução industrial quando já vamos na quarta ou favorecer a energia do petróleo e do carvão quando o mundo está a aderir em força às energias renováveis diz tudo sobre duas visões totalmente opostas.

 

O confronto pode ainda estar atenuado dado que ninguém sabe exatamente o que se vai passar. Neste contexto cabe referir a carta enviada a Donald Trump pelas principais empresas de internet, Facebook, Twitter, Google, Netflix, Amazon, entre outras. O tom é educado e conciliatório, como não podia deixar de ser, apontando para um conjunto de políticas que estas empresas gostariam de ver garantidas ou implementadas. Delas destaca-se "Por uma internet aberta e acessível" onde se pede a manutenção da liberdade na internet e a sua característica não proprietária. A internet não pertence a ninguém. Mas o aspeto mais crítico diz respeito à diversidade humana no ponto "Uma força de trabalho para o século XXI". "A imigração norte-americana deve permitir a permanência de graduados e trabalhadores estrangeiros de forma a poderem contribuir para a nossa economia." "A nossa competitividade global depende de manter nos Estados Unidos as mentes mais brilhantes, em vez de deixarmos os futuros inovadores à nossa concorrência."

 

São ideias totalmente opostas ao programa retrógrado de Donald Trump. Como é provável que ele faça aquilo que prometeu na campanha é de prever um confronto com a nova economia tecnológica. O Presidente americano tem muito poder, mas estas tecnologias e estas empresas têm igualmente um enorme poder. Aquele que produz mudanças irreversíveis.

 

Artista Plástico

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

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