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Obrigado, Passos Coelho

É trivial dizer que tanto se serve a democracia no Governo como na oposição. Pois é, mas cabe acrescentar que se pode servir bem ou mal. Ora Portugal atravessa um excelente momento. O Governo de António Costa tem servido bem. A oposição de Passos Coelho também.

Muita gente, à esquerda e no próprio PSD, critica Passos Coelho por fazer uma oposição assente exclusivamente no prenúncio de catástrofe iminente. Primeiro, a geringonça não ia funcionar, depois o Orçamento não era viável, por fim o défice não iria ser cumprido. Esses sucessivos alertas foram muito úteis. Reforçaram o sentido de responsabilidade à esquerda; redobraram o rigor no exercício governativo. As aves agoirentas são chatas, mas têm um efeito positivo. Levam-nos a ter mais cuidado nos atos. Aliás, nunca se viu um Governo tão contido, tão atento, tão sóbrio. Ao contrário do passado, em que tanta vez se viu o poder subir à cabeça dos ministros, dizendo e fazendo os mais incríveis disparates, no atual, assiste-se a uma enorme moderação. Deve-se em grande medida à oposição que Passos Coelho imprimiu no PSD. Atenta ao menor deslize, aguerrida, agressiva mesmo.

 

Essa intransigência tem ainda um outro efeito decisivo. Ao optar pelo confronto total e direto, recusando o mínimo consenso, o PSD impediu que o PS tivesse a tentação de governar à vista, ora apoiando-se na esquerda ora na direita, coisa que já sucedeu noutros tempos com péssimos resultados como se sabe. O PSD tem contribuído, mais do que qualquer outro partido, para a clarificação do sistema político, obrigando o PS a uma coerência pouco habitual num partido tendencialmente centrista. O PS ou consegue governar com a restante esquerda ou não governa de todo.

 

Acresce que esta atitude clarifica também a posição do próprio PSD. É hoje o único partido da direita, já que o CDS persegue a quadratura do círculo. Estar contra e a favor ao mesmo tempo, segundo os dias da semana, as conveniências e a audiência. Umas vezes é mais à direita, outras mais à esquerda, procurando um centro que já não existe, nem interessa a ninguém. Os eventos políticos internacionais dos últimos tempos são reveladores do desaparecimento da própria ideia de centro.

 

Nesta perspetiva, Passos Coelho tem dado um outro contributo extremamente relevante em termos de política nacional. Ao radicalizar-se, puxando o partido para a direita, o PSD não permite o aparecimento dos fenómenos extremistas tão comuns no resto da Europa. O PSD é hoje um partido radical, antissocial, defensor do ultraliberalismo económico, mas embora defendendo posições extremistas, é um partido assumidamente democrático, não é de extrema-direita. Pelo contrário, a sua atitude radical, seca o campo das demagogias primárias e todos os perigos inerentes.

 

Estas observações não são cínicas. Embora eu seja de esquerda, apoie este Governo e a sua aliança com a restante esquerda, gosto de pensar com a minha cabeça. Acho por isso no mínimo injusto que se diabolize Passos Coelho e o PSD tão-só porque seguem uma estratégia de oposição que não cede ao politicamente correto.

 

Por outro lado, na atual conjuntura ninguém faria melhor do que Passos Coelho. Caso a impaciência o derrube, logo se verá que o próximo não terá vida fácil.

 

Mas acho mais. Esta é a política do futuro. Clara, frontal, sem hesitações, nem malabarismos. O povo anda farto de meias-tintas. Ao assumir-se como direita radical, intransigente e raivosa, o PSD presta um importante serviço ao país. E à esquerda.

 

Artista Plástico

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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