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Libertar Portugal

As sanções a Portugal e Espanha são mais um episódio no lento, mas irreversível processo de desmembramento da União Europeia. Aqueles que imaginam que se trata simplesmente de fazer cumprir regras não estão a ver bem o filme.

Desde logo porque a Europa tem regras e regras. No caso presente, regras que nunca antes aplicou, nem aplica a franceses, por exemplo, mas decidiu agora penalizar Portugal e Espanha com base em argumentos que não constam do enunciado das próprias regras. A ideia de que estamos perante um mero gesto de tecnocratas também não podia ser mais ilusória. A decisão é política e antidemocrática. A direita que governa a Europa não gosta do Governo de esquerda de António Costa. Ponto.

 

É certo que muita desta gente que praticamente todos os dias fala a partir de Bruxelas o faz sobretudo para os seus próprios eleitorados nacionais, mesmo quando respondem a perguntas dos jornalistas portugueses. A norte, são por isso duros com os do Sul que não querem trabalhar e têm de ser postos na ordem. Já os do Sul são invariavelmente simpáticos, abertos ao diálogo, mas se por cá isso parece bem, é visto por alemães, holandeses, finlandeses e outros como uma manha típica dos que vivem à conta dos impostos deles. Quem viaja e visita estes países sabe que é essa a visão da maioria. Políticos e media locais não se cansam de alimentar esse tipo de preconceitos.

 

Acrescente-se a isto a arrogância de quem manda, o sistemático ataque às soberanias e consequente humilhação de governos e nações, a permanente chantagem dos mercados e, não menos importante, a posição antipatriota de quem por cá desdenha e combate o seu próprio povo, e temos o caldo para o descrédito no projeto europeu e o reforço dos que consideram que seria melhor sair enquanto é tempo.

 

Devo confessar que sendo um europeu convicto, tanto que frequentemente me apresento como europeu nascido em Lisboa, estou cada vez mais próximo dos que defendem referendos e até uma eventual saída do euro. Porque uma pessoa e ainda mais um país tem de se dar ao respeito. E esta gente de Bruxelas anda a abusar há demasiado tempo.

 

O projeto europeu assentou na união. A atual política europeia está a cavar fundo a desunião. A Europa é cada vez mais um campo de batalha entre nações, para já com armas económicas e políticas, mas que abre de novo o espetro de confrontos convencionais. A construção de muros é, para todos os efeitos, um ato de guerra. E eles não param de crescer. As sanções não o são menos.

 

A saída do Reino Unido também não é uma banalidade, uma estupidez de um povo mal informado. Trata-se de uma enorme brecha que se abre no edifício europeu. Muito provavelmente, como a política não vai mudar, outras se seguirão. França já está na calha. E se França sai, a Europa acaba.

 

É por isso que como pequeno país, frágil na sua economia, afável no seu comportamento, temos de pensar seriamente no nosso futuro. O cenário não podia ser pior. O capitalismo local não existe ou vende-se alegremente ao estrangeiro; a maioria das empresas é mal gerida e pouco produtiva; a política é medíocre; os media distraem o povo com assuntos menores e, em vez de nos defenderem, alinham displicentemente em muitas campanhas promovidas contra nós. 

 

A libertação de Portugal volta a estar na ordem do dia. Em tempos foi a libertação de um regime fascista e isolacionista. Agora é do intolerável jugo do poder europeu e sobretudo de uma Alemanha que não parece ter aprendido nada com a sua própria história.

 

Artista Plástico

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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