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09 de Outubro de 2013 às 00:01

O Mundo é um manicómio

Na 1ª volta de eleição cantonal no Sul de França o partido de Marine LePen que quer fechar a Europa à emigração recebeu 40% dos votos. Não há vontade de fascismo na Alemanha; no sul ressabiado da Europa não punha as mãos no fogo.

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Assim se chamou em português o filme de Frank Capra "Arsenic and Old Lace" ("Arsénico e Rendas Velhas"), 1944. Título polivalente que tanto dava para a história do maluquinho convencido que era o Presidente Theodore Roosevelt e abria o Canal do Panamá na cave de casa das tias, como para alarme com o que se passasse lá fora. 


Dava e dá. Na berlinda estão os Estados Unidos. Depois de impasse na Câmara dos Representantes entre os democratas do Presidente Obama e os republicanos do Tea Party, o Estado Federal deixou de poder gastar dinheiro e o governo começa a paralisar; se o braço de ferro continuar daqui a 8 dias os Estados Unidos não poderão tampouco pedir dinheiro emprestado. Que o país mas poderoso, mais livre e mais rico do mundo se meta num buraco assim por suas próprias mãos espanta toda a gente, anima o "Schadenfreude" de burocratas europeus, ayatolas iranianos, aprendizes de suicida da Alqueda e madraços em geral - e indigna os bem pensantes: na semana passada o venerável "The Economist" protestava na capa que não era maneira de governar um país. Com efeito não é. (Embora tenha o mérito de descomplexar pequenos. Quem verberou há meses os ministros Victor Gaspar e Paulo Portas acusando-os de, pelas circunstâncias das suas demissões, terem causado mais prejuízo a Portugal nos mercados do que todas as greves e manifestações contra a austeridade juntas, terá ficado a saber que também se faz lá fora).

Quanto à questão em si: vistos da Europa os e as "Tea Parties" que querem que Obama desmantele o seu plano de saúde como condição de deixarem o governo federal funcionar e de se poderem pedir empréstimos parecem fascistas trogloditas. Deste lado do Atlântico Norte habituámo-nos a pensar que prevenção e tratamento de doenças é um direito do homem, como o direito de voto ou a liberdade de expressão. Muitos americanos não acham isso, desconfiam do Estado e não o querem por perto. Nesse caldo de cultura os Tea Parties semeiam mentiras e usam métodos inaceitáveis em democracia. Além disso, muitos de eles e de elas estão convencidos de que o aquecimento global não existe, tratando-se de boato posto a correr por comunistas e outros inimigos da América, e que a teoria da evolução (sobre a qual assenta a biologia contemporânea) é embuste de Darwin e dos seus continuadores. Descrevem-se como Criacionistas, rejeitam "A Origem das Espécies" e pregam "O Livro da Génese". Aí há perigos para a civilização: uma coisa é querer "menos Estado", outra coisa é promover ignorância militante. O seu fanatismo cego está a minar os Estados Unidos.

E nós, os europeus? Continuamos a querer que nos deixem em paz. Africanos afogados todos os dias ao largo de Lampedusa despertam a emoção de um boletim meteorológico. Na 1ª volta de eleição cantonal no Sul de França o partido de Marine LePen que quer fechar a Europa à emigração recebeu 40% dos votos. Não há vontade de fascismo na Alemanha; no sul ressabiado da Europa não punha as mãos no fogo.

* Embaixador

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