Opinião
O Mundo é um manicómio
Na 1ª volta de eleição cantonal no Sul de França o partido de Marine LePen que quer fechar a Europa à emigração recebeu 40% dos votos. Não há vontade de fascismo na Alemanha; no sul ressabiado da Europa não punha as mãos no fogo.
Assim se chamou em português o filme de Frank Capra "Arsenic and Old Lace" ("Arsénico e Rendas Velhas"), 1944. Título polivalente que tanto dava para a história do maluquinho convencido que era o Presidente Theodore Roosevelt e abria o Canal do Panamá na cave de casa das tias, como para alarme com o que se passasse lá fora.
Dava e dá. Na berlinda estão os Estados Unidos. Depois de impasse na Câmara dos Representantes entre os democratas do Presidente Obama e os republicanos do Tea Party, o Estado Federal deixou de poder gastar dinheiro e o governo começa a paralisar; se o braço de ferro continuar daqui a 8 dias os Estados Unidos não poderão tampouco pedir dinheiro emprestado. Que o país mas poderoso, mais livre e mais rico do mundo se meta num buraco assim por suas próprias mãos espanta toda a gente, anima o "Schadenfreude" de burocratas europeus, ayatolas iranianos, aprendizes de suicida da Alqueda e madraços em geral - e indigna os bem pensantes: na semana passada o venerável "The Economist" protestava na capa que não era maneira de governar um país. Com efeito não é. (Embora tenha o mérito de descomplexar pequenos. Quem verberou há meses os ministros Victor Gaspar e Paulo Portas acusando-os de, pelas circunstâncias das suas demissões, terem causado mais prejuízo a Portugal nos mercados do que todas as greves e manifestações contra a austeridade juntas, terá ficado a saber que também se faz lá fora).
E nós, os europeus? Continuamos a querer que nos deixem em paz. Africanos afogados todos os dias ao largo de Lampedusa despertam a emoção de um boletim meteorológico. Na 1ª volta de eleição cantonal no Sul de França o partido de Marine LePen que quer fechar a Europa à emigração recebeu 40% dos votos. Não há vontade de fascismo na Alemanha; no sul ressabiado da Europa não punha as mãos no fogo.
* Embaixador